O Bar Luiz, restaurante alemão da rua da Carioca, já tinha dois anos em 1889 quando caiu a Monarquia. Sua strudel pode ter alimentado muitas conspirações republicanas. Nos séculos seguintes, ele atravessou o bota-abaixo do prefeito Pereira Passos, a gripe espanhola, duas guerras mundiais (com a Alemanha como vilã e pondo à prova o amor do carioca pelo seu chope), a Revolução de 1930, duas ditaduras, as obras do metrô (que arrasaram o Centro da cidade) e dezenas de planos econômicos, inclusive um confisco que drenou o dinheiro em circulação. O Bar Luiz sobreviveu a tudo isso. Mas não sabe se, aos 133 anos, sobreviverá ao coronavírus.
Essa crônica da resistência foi levantada há dias pela repórter Raphaela Ribas no Globo, citando também o Café Lamas, ainda mais antigo, 146 anos, e mais histórico. O Lamas está tentando compensar com um serviço de entregas a quebra de 75% no faturamento. O Bar Luiz, já combalido pela ganância do dono do imóvel, um banco, está fechado. O Rio sabe o peso desses endereços em sua memória.
Eu me preocupo com o destino de outros queridos estabelecimentos, centenários ou quase, que também estão lutando pela vida. Como o Cosmopolita, o Nova Capela e o Bar Brasil, todos na Lapa. O Rio-Minho, na rua do Ouvidor, o Amarelinho, na Cinelândia, e o Adegão Português, em São Cristóvão. O Cedro do Líbano, no Saara, o Mosteiro, na rua São Bento, e o Senta Aí, perto do Itamaraty.
Ou o Shirley, no Leme, a Adega Pérola e o Caranguejo, ambos em Copacabana, e o Bar Lagoa, na própria. Sem falar na Colombo e na Cavê, no Centro, que são o Rio de 1900. Antes do vírus, todos pareciam eternos na sua fragilidade.
A história de uma cidade não se limita às ruas e aos gabinetes. Passa igualmente por suas mesas atoalhadas e pelas pessoas que, entre os saleiros, pratinhos de picles e galheteiros, fazem delas assembleias em reunião permanente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário