BRASÍLIA
Em um gesto de pressão para forçar a retomada da atividade econômica, o presidente Jair Bolsonaro levou um grupo de empresários ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (7) para relatar ao presidente da corte, ministro Dias Toffoli, os impactos do isolamento social na iniciativa privada.
O ministro Paulo Guedes (Economia) fez parte da comitiva. O encontro foi de surpresa e não estava na agenda das autoridades.
Um dos integrantes do grupo de empresários chegou a comparar a situação da indústria com os efeitos da Covid-19 na saúde ao dizer que haverá mortes de CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas).
Nesta quarta-feira (6), o Brasil bateu novo recorde de óbitos diários, com 615 novos registros, segundo o Ministério da Saúde. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, já morreram 8.536 pessoas no país.
Ao ouvir as demanas, Toffoli cobrou coordenação do governo com os Poderes e os entes da Federação. Ele disse que é necessário fazer um planejamento para a volta do funcionamento das indústrias.
Bolsonaro voltou a afirmar que os efeitos da restrição de circulação não podem ser maiores do que os problemas causados pela doença em si.
"Os empresário trouxeram pessoalmente essas aflições, a questão do desemprego, a questão de a economia não mais funcionar. As consequências, o efeito colateral do combate ao vírus não pode ser mais danoso que a própria doença", disse o presidente.
"E os empresários querem que o STF também ouça deles o que está acontecendo", afirmou.
Segundo Bolsonaro, o grupo de empresários representa mais de 40% do PIB (da indústria) e 30 milhões de empregos. Segundo ele, todos podem ser esmagados pela crise econômica caso não haja a retomada.
Em 2019, a Coalização divulgou dado que mostrava uma participação dos setores representados por ela de 39% no valor agregado pela indústria ao PIB (R$ 485 bilhões), o que seria equivalente a 7% do PIB total brasileiro do ano anterior.
Guedes disse que tem mantido conversas com diversos setores da indústria. Nesta quinta, de acordo com ele, os empresários fizeram um apelo.
"Eles [os empresários] vinham dizendo que estavam conseguindo preservar os sinais vitais e agora o sinal que passaram é de que está difícil, a economia está começando a colapsar", afirmou o ministro.
O ministro da Economia ressaltou que o Brasil pode enfrentar a mesma situação econômica de países vizinhos se não mudar de estratégia no enfrentamento à doença.
"E aí não queremos correr o risco de virar uma Venezuela, não queremos correr o risco de virar nem sequer uma Argentina, que entrou em desorganização, inflação subindo, todo esse pesadelo de volta", disse.
Dias Toffoli cobrou mais de uma vez uma maior coordenação da gestão Bolsonaro.
"Essa coordenação, que eu penso que o Executivo, o presidente da República, com seus ministros, chamando os outros Poderes, chamando os estados, representantes de municípios, penso que é fundamental", disse o presidente do Supremo.
"Talvez [seja necessário] um comitê de crise para, envolvendo a federação e os poderes, exatamente com o empresariado e trabalhadores, [tratar da] necessidade que temos de traduzir em realidade esse anseio, que é o anseio de trabalhar, produzir, manter a sociedade estruturada”, afirmou.
O coordenador da Coalizão Indústria, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou que a situação da indústria exige medidas urgentes.
"Na nossa visão, essa flexibilização já poderia ter ocorrido, evidentemente com todo o regramento necessário, de forma que a gente conseguisse voltar a ter atividade", afirmou.
"A nossa grande preocupação é que a crise da Covid ocasione uma crise social por causa da questão do desemprego, e essa é uma crise que a gente reputa extremamente importante e precisa ser enfrentada."
O representante do setor de brinquedos, Synésio Batista, também disse que a situação é preocupante. É dele a preocupação com a falência de empresas das empresas.
"Meu coração está batendo a 40, não consigo retomar, funcionários caem tudo de novo na nossa folha, e aí o inimigo lá fora, que é meu adversário comercial, está prontinho para suprir o mercado interno. E aí haverá morte de CNPJs", disse.
"Eu só acrescentaria um detalhe, que é o sentido de urgência. Eu diria que a indústria está na UTI, e ela precisa sair da UTI, por que se não as consequências serão gravíssimas", afirmou.
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