As operadoras de celular apontam que os programas de TV que estão hoje na banda C do satélite e que são captados pela antena parabólica só poderão ser vistos na banda Ku do satélite depois que as 12 milhões de residências estiverem com seus kits novos, e chegar a todas essas casas vai demorar pelo menos três anos. Até lá a 5G não poderá ser acionada.
Se os custos para resolver o problema da interferência que a tecnologia 5G vai provocar nos sinais de TV aberta por parabólica (serviço conhecido no setor como TVRO) variam em bilhões de reais, a depender da solução tecnológica escolhida, a adoção da nova geração da telefonia móvel no Brasil poderá atrasar outros três anos para acontecer, mesmo se o leilão da Anatel ocorrer em 2020, aponta estudo formulado pelas teles.
Segundo esse estudo, enquanto a instalação de filtros nas atuais parabólicas que recebem os sinais de TV aberta via satélite deve custar em torno de R$ 460 milhões (com base em algumas premissas consideradas), o da migração de todos os telespectadores da TVRO para a banda Ku teria o preço de R$ 9,6 bilhões. A Abratel, entidade que congrega algumas emissoras de TV aberta, estimou esse gasto em R$ 2,9 bilhões, mas nesse cálculo tem como referência apenas a distribuição do kit para a população de baixa renda que integra o Cadastro Único dos programas sociais do Governo Federal.
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Para as operadoras de telecomunicações, não dá para aceitar, no entanto, que sejam escolhidas alternativas tão mais caras, como as reivindicadas pelas emissoras de TV se há soluções bem mais em conta. E o pior, argumentam, a escolha da banda Ku, irá atrasar em pelo menos três anos o início da 5G no país.
Isso porque, explicam os técnicos, o desligamento dos canais de TV que estão hoje na banda C do satélite só poderá ocorrer depois que as 12 milhões de parabólicas que recebem esses sinais forem substituídas para poder captar os programas na banda Ku. ” O satélite irradia para todo o Brasil de uma vez só. Assim, para que todos possam continuar a assistir a TVRO, a 5G só vai poder ser acionada depois que não houver uma úncia antena mirando o satélite de banda C, o que demandaria pelo menos três anos”, explicam os técnicos.
Além de terem que pagar e esperar muito mais tempo para oferecer o serviço que virá com a 5G, as operadoras de telecom estimam que haverá aumento de custos também para os próprios radiodifusores, que terão que manter os seus canais em duas bandas de satélite diferentes até que o desligamento completo da banda C possa ser feito.
As contas
Conforme as operadoras de celular, se for instalado o filtro, será necessário apenas mudar o aparelho conhecido como LNBF (Low Noise Block FeedHorn) que fica no centro da antena parabólica. O preço desse aparelho e sua instalação pode variar hoje entre R$ 140 a R$ 240.
Para uma base estimada de 12 milhões de residências com TVRO – número que tem como referência o cálculo de audiência das emissoras de TV abertas – as teles calculam que só será preciso substituir os equipamentos de quem tem essa TV nos centros urbanos. “E estamos falando de cidades de todos os tamanhos em todo o território brasileiro”, ressaltam. Isso porque, nas áreas rurais, vão ser usadas outras frequências para a 5G, e não essa em debate, de 3,5 GHz.
Segundo o IBGE, apenas 30% do total de residências com TVRO estão nas cidades, e, por isso, chega-se ao custo estimado de R$ 460 milhões, levando-se em consideração que 80% desses usuários serão afetados com a interferência.
No caso da migração dessas emissoras para uma outra frequência de satélite, conhecida como banda Ku, terão que ser trocados o LNBF, a antena, e a caixinha que fica dentro das residências. Agregando o custo da instalação, as contas chegam a R$ 840 por kitKu, o que soma R$ 9,6 bilhões estimados.
Atender a reivindicação das emissoras de TV para a migração para a nova banda, no entender das teles, vai significar a utilização de recursos públicos (afinal, o dinheiro a ser ofertado no leilão pelas frequências deveria ir para a União) para subsidiar a digitalização da TV via satélite, ao invés de ser alocado para a massificação da banda larga.
Três etapas de testes
Depois dos testes realizados pela Anatel, que confirmaram a interferência da 5G sobre os sinais da TV parabólica, o SindiTelebrasil está prestes a divulgar os resultados de novos testes, feitos não mais sob as condições extremas, como os da Anatel (máxima potência da 5G sobre máxima exposição) mas nas situações mais realistas para os dois sistemas.
E uma nova etapa de testes, patrocinada pelas operadoras, vai começar em outubro e será realizada pelo CPqD. A intenção é apurar a efetividade dos filtros de diferentes fabricantes. Esses testes serão concluídos em novembro, quando também serão apresentados à Anatel e ao MCTIC, para subsidiar a tomada de decisão pelo governo.
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