quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Quem é quem, Opinião FSP

Com a avalanche de votos conquistados na reta final do primeiro turno, era esperado que Jair Bolsonaro (PSL) aparecesse à frente de Fernando Haddad (PT) na primeira pesquisa sobre a rodada final da disputa pelo Palácio do Planalto.
Conforme o Datafolha, o capitão reformado conta com a preferência de 49% dos entrevistados, e o petista, com a de 36%. Desconsiderando as intenções de voto em branco ou nulo, tem-se a ampla vantagem de 58% a 42% em favor do primeiro —a maior medida a esta altura desde o pleito de 2002.
A movimentação do eleitorado não chega a surpreender. Dos que dizem ter votado no terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), 58% escolhem Haddad agora, e 19%, Bolsonaro. Entre os que preferiram o tucano Geraldo Alckmin, a distribuição, mais equilibrada, é de 42% para o presidenciável do PSL, 30% para o petista e 17% em branco ou nulo.
Desde o restabelecimento das eleições diretas para presidente, em 1989, o primeiro colocado no primeiro turno venceu também o segundo (quando houve). Em 2014, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) começaram a rodada final empatados no Datafolha (49% a 51%), e a então presidente obteve a reeleição por margem estreita.
A tarefa de Haddad se afigura das mais difíceis. O candidato e o partido se veem diante da escolha entre um discurso mais moderado, em busca de apoios ao centro ideológico, e a reafirmação de teses caras a seu eleitorado mais fiel.
Há pouco tempo para uma revisão programática que seja ao mesmo tempo ampla e crível. As boas práticas econômicas abraçadas no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva, infelizmente, não levaram a uma oxigenação do pensamento petista, como se viu na desastrada gestão de Dilma Rousseff.
Depois do impeachment, a legenda regrediu a um radicalismo de fachada, com acusações de golpe e oposição cega a reformas inescapáveis —e a farsa de lançar seu líder, inelegível, à Presidência. Não será simples, agora, vender a ideia de que Haddad não mais é Lula.
Bolsonaro certamente será alvo de críticas de intensidade inédita nesta campanha. Há muito a explorar, sem dúvida, em seu triste repertório de declarações favoráveis à ditadura e manifestações grosseiras de machismo e homofobia.
Dada a liderança na corrida, ele tem menos motivos para inflexões retóricas. Parece provável que se concentre no antipetismo —que tem levado além dos limites da civilidade— ​​ e procure se mostrar menos militarista e mais tolerante em questões comportamentais.
É pouco para que se avalie um postulante sem identidade partidária e experiência no Executivo. Urge que Bolsonaro e seu assessor econômico, Paulo Guedes, se submetam, tanto quanto possível, a mais debates e entrevistas.

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