Não há como diminuir o tamanho da catástrofe que aconteceu ao Brasil neste domingo (28). Somos o único país do Ocidente cujo presidente tem como livro de cabeceira as memórias falsificadas do maior torturador da ditadura militar. Somos o único país do Ocidente cujo presidente prefere ter um filho morto a ter um filho gay.
O vice-presidente do Brasil é um defensor consistente de golpes de Estado. O filho do presidente fala abertamente em fechar o Supremo Tribunal Federal. Animados pelo exemplo de seu líder, juízes censuram universidades, e fanáticos ofendem gays nas ruas.
Nunca descemos tão baixo, nunca fomos tão repulsivos diante do mundo, que assistiu o desenrolar desse desastre com horror.
Chegamos no fundo do poço, e ali havia um porão. O porão.
O vice-presidente do Brasil é um defensor consistente de golpes de Estado. O filho do presidente fala abertamente em fechar o Supremo Tribunal Federal. Animados pelo exemplo de seu líder, juízes censuram universidades, e fanáticos ofendem gays nas ruas.
Nunca descemos tão baixo, nunca fomos tão repulsivos diante do mundo, que assistiu o desenrolar desse desastre com horror.
Chegamos no fundo do poço, e ali havia um porão. O porão.
Temos o líder mais extremista de todas as nações democráticas, e precisamos torcer para que a situação continue a ser essa: afinal, talvez não estejamos mais entre as nações democráticas em breve.
O tema desse pós-eleição será o risco de golpe militar, ou escalada autoritária. Quando isso é assunto, a democracia já está doente. O papel dos militares na política brasileira deveria ser o que é em todas as nações desenvolvidas: nenhum.
Descemos um degrau, caímos para a Série B dos regimes políticos. Se já há o medo, a liberdade não é a mesma. Se há a preocupação de não provocar uma reação desmesurada do lado do poder, a liberdade não é mais a mesma. Hoje já amanhecemos menos livres.
A vitória de Bolsonaro consagrou os piores da campanha do impeachment: os adultos responsáveis que aceitaram participar do governo Temer e deram sua contribuição à estabilização -- Alckmin, Meirelles -- foram destroçados. Bolsonaro, aliás, teve especial satisfação em trabalhar por derrotas do PSDB nos segundos turnos estaduais.
Quem venceu: o MBL, Bolsonaro, os defensores do golpe militar, Janaina Paschoal, Levy Fidélix, leitores de Olavo de Carvalho. Pois é.
O que sobrou do centro? Há algum país do mundo em que o sujeito que apoiou Bolsonaro, que se absteve diante de Bolsonaro, é considerado de centro?
Há o Centrão, o fisiologismo, e a esperança de que o Centrão -- nosso inimigo até sábado, quando éramos uma nação civilizada -- agora controle Bolsonaro. Até sábado, discutíamos como nos livrarmos do Centrão e reposicionarmos a política brasileira em termos de uma centro-esquerda e uma centro-direita competitivas. Agora torcemos pelo Centrão. Caímos isso tudo.
E agora vai chegar a conta do estelionato eleitoral bolsonarista, das fraudes de WhatsApp e da fuga dos debates: o Brasil está prestes a descobrir que não, a crise econômica não foi causada por corrupção, e que ajustes dolorosos são necessários.
Enfim, o país escolheu o que escolheu, e agora é hora de pagar o preço dessas escolhas. Que, é claro, pode incluir o fim da democracia brasileira tal qual nós a conhecemos.
Mas foi muito importante que a vitória de Bolsonaro fosse muito menor do que teria sido antes que sua máquina de fake news fosse desbaratada, antes de sua promessa de perseguir opositores, antes da mobilização antifascista da última semana.
Bolsonaro assumirá com a maré já virando contra ele. Faz muita, muita diferença. No mínimo, ganhamos tempo para descobrir o que pode ser feito nesse novo cenário.
Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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