A morte de Tancredo Neves foi um daqueles acidentes que insistem em mudar o destino do Brasil, desde a separação entre Pedro 1º e José Bonifácio. Com sua sabedoria e a experiência de uma rica vida política, ele ensinou que nela há um comportamento com um limite sutil que violado pode ser mortal: “quando a esperteza é muita, ela engole o dono”.
Os candidatos não levaram para a arena o que pensam sobre o mundo e o Brasil. Apelaram para seus economistas. Parecem acreditar que eles são portadores de uma “ciência” quando são, apenas, sacerdotes de diversas seitas de uma mesma religião politeísta.
No segundo turno a confusão aumentou. Os dois candidatos não têm economizado em “contradizer” o que dizem seus economistas... Foi fake news alçar a economia à altura de uma “ciência”. Mas isso não reduz o valor do conhecimento empírico acumulado nessa disciplina para a administração das sociedades civilizadas.
Todas desenvolveram-se combinando liberdade individual, mitigação da desigualdade e coordenação da atividade econômica pelos mercados.
A contraprova são as nações onde se exerceu o voluntarismo e o desenvolvimentismo (do qual o Brasil é um notável exemplo em 2012-2016), que pretendeu ter descoberto “outro caminho”. Elas testemunham o seu fracasso universal.
A enorme desigualdade social que é causa da “malaise”, que hoje ataca as democracias, é resultado da falsa “ciência” econômica.
Foi ela quem inventou o “mercado perfeito possuído pelo imperativo categórico kantiano” que seduziu os políticos. Promoveu a globalização (um bem indiscutível no longo prazo) sem estimular as políticas públicas para evitar as tragédias que ela produz no curto prazo (também indiscutíveis).
Pior, inverteu, a partir dos anos 80 do século passado, todo o processo. Submeteu a economia real à dominância das finanças, como é visível no Brasil. Gerou, assim, uma apropriação de riqueza que ofende o senso de justiça dos cidadãos.
A nossa situação interna é grave e a situação externa acumula nuvens negras, mas nenhum dos candidatos diz como enfrentá-las.
No início do segundo turno, ficou claro que o primeiro abrigou traições que terminaram muito mal. Alckmin foi abandonado por seu partido. Ciro foi traído por uma armadilha.
E agora, mais uma surpresa: o PT, que sempre parasitou Lula (o único membro comprovadamente democrata do partido), propõe esquecê-lo. Abandonou o vermelho, subtraiu a estrela, adotou o verde-amarelo e, mesmo assim, quer continuar a parasitá-lo.
Tempos bicudos os que estamos vivendo...
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