O Canadá acaba de legalizar a maconha para uso recreativo. Não tenho dúvida de que o caminho é esse mesmo.
Do ponto de vista filosófico, não penso que caiba ao Estado controlar o que o cidadão faz com o próprio corpo. Sob uma perspectiva mais prática, é preciso reconhecer que a guerra às drogas fracassou. A proibição não é uma forma eficaz de reduzir a prevalência do uso de psicotrópicos e acrescenta consequências penais à lista de problemas com os quais o dependente precisa lidar.
Poderíamos mencionar ainda como argumentos pró-legalização o alto custo da repressão e o estímulo à violência que decorre de empurrar o mercado para a ilegalidade, isto é, para as mãos do crime organizado.
Estabelecidas essas premissas, devo dizer que me preocupa o glamour com que a maconha vem sendo retratada pelos meios de comunicação. É verdade que a Cannabis tem impacto sanitário menos deletério do que o álcool, por exemplo, mas ela está longe de ser uma erva inocente que pode ser consumida ad libitum. A maconha é uma droga e, como tal, oferece riscos à saúde de quem a usa. Para uma pequena minoria da população, as consequências são devastadoras.
São inquietantes, por exemplo, as metanálises que ligam o consumo de maconha ao desenvolvimento de psicose crônica e esquizofrenia. Ao que parece, a relação é causal e não de mero gatilho.
Pior, praticamente todos os estudos que sugerem que a Cannabis é relativamente segura foram realizados com uma variedade da droga que já não é a que está em circulação. O produto vendido hoje tem uma concentração muito maior de THC (e menor de CBD). Mal comparando, seria como tentar lidar com o alcoolismo valendo-se de estudos feitos com cerveja, quando a bebida de fato consumida é o uísque. As diferenças não são desprezíveis.
Legalizar sim, mas sem glamourizar nem deixar de apontar que a maconha é uma droga.
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