Ministros do TSE parecem habitar outro planeta
O mapeamento do Datafolha é espantoso: só 15% dos eleitores de Fernando Haddad e 12% dos de Jair Bolsonaro votam pensando nas propostas e nos planos de governo dos candidatos. É a tradução em percentuais de uma frase que se ouve com frequência nas ruas: “Se o presidente não der certo, a gente tira ele”.
Ninguém mais espera ou deseja um projeto para o país. Daí a perda de “aderência com o real”, para usar a expressão do poeta Marcos Siscar, que permite a aceitação e também a proliferação em larga escala das fake news que transformaram a campanha eleitoral de 2018 num filme freak. Exibido nas barbas do TSE, cujos ministros parecem habitar outro planeta e se mover em câmera lenta.
Como na cultura do futebol, o que vale é ganhar a qualquer custo: com gol de mão, depois do tempo regulamentar, em lance de impedimento. Na lei das arquibancadas, roubado (ou fraudado) é mais gostoso.
Caso contrário, reage-se como torcida organizada. Foi assim após a reportagem de Patrícia Campos Mello na Folha, que revelou a compra por empresários de pacotes de disparos de mensagens no WhatsApp favorecendo Bolsonaro na reta final do primeiro turno. Imediatamente Patrícia passou a alvo de assédio direcionado em massa, ofensas e ameaças nas redes sociais.
Alguns dos mais leves ataques a jornalistas lembram cafajestadas de adultos que não saíram da adolescência: “Chora mais, você vai perder a boquinha, a mamata”. Outros desejam, como pior destino possível, que você seja obrigado a mudar de profissão para sobreviver nos tempos de pós-verdade. “Se prepare para trabalhar na Uber”, avisam.
No meu caso, é uma impossibilidade. Nada contra quem ganha o sustento como motorista de aplicativo. A realidade é mais prosaica: nunca aprendi a dirigir. E não quero —como outros estão fazendo— pôr a vida das pessoas em risco.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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