Se eleito, Jair Bolsonaro encontrará um ambiente internacional permissivo a sua agenda de governo. Os ventos do mundo lhe são favoráveis.
Suas decisões não enfrentarão oposição cerrada de nenhum país ou organismo internacional com influência imediata sobre o Brasil.
Comecemos pelos Estados Unidos: embora seja impossível prever quão fluida será a relação interpessoal de Bolsonaro com Trump, o próximo governo brasileiro gozará, ao menos no início, da anuência tácita de Washington.
Mesmo que a lua de mel com o mercado financeiro dure pouco, o tom oficial na capital americana se parecerá mais ao último editorial positivo do jornal The Wall Street Journal que ao negativo do diárioThe New York Times.
Na Argentina, Mauricio Macri não poderá alardear intimidade com Bolsonaro (o sistema político argentino não tolera o radicalismo do capitão).
Mas Macri, enfraquecido, tampouco pode se dar ao luxo de provocar o Brasil. Se Bolsonaro chegar propondo uma parceria na segurança das fronteiras, tema caro à Casa Rosada, o governo em Buenos Aires tende a engolir a seco as diferenças e a seguir o Planalto a reboque.
A China, por sua vez, é o país que mais tem a perder se Bolsonaro implementar suas promessas de campanha. Nada indica, no entanto, que Pequim vá correr para as trincheiras. Antes, trabalhará nos bastidores para diminuir arestas e encontrar convergências.
Muito menos se ouvirão críticas de Vladimir Putin (Rússia) ouNarendra Modi (Índia). A empatia dos governantes dos Brics com Bolsonaro já está contratada: assim como ocorre com o capitão, eles são alvo da imprensa internacional e da opinião de intelectuais.
A oposição externa a Bolsonaro virá, no primeiro momento, de movimentos sociais transnacionais, organizações não-governamentais e imprensa. A comunidade de cientistas na área de mudança do clima também tende a vocalizar suas críticas.
Esses atores buscarão influenciar governos estrangeiros, parlamentares e organismos internacionais mundo afora.
Burocracias de instituições tais como Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Nações Unidas e União Europeia são candidatas naturais a ecoar argumentos críticos em relação a uma administração Bolsonaro. Governos de países como França, México e Canadá tendem a ser particularmente sensíveis a isso.
A pressão externa, portanto, será fraca no início. A implicação prática é que, ao menos em 2019, os contrapesos necessários para manter o prumo democrático terão de vir aqui de dentro. O resto do mundo será passivo no primeiro momento.
O impossível de prever agora é durante quanto tempo.
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