segunda-feira, 4 de março de 2013

Consumo cresce, mas já não é em ritmo chinês


MÁRCIA DE CHIARA - O Estado de S.Paulo
Afetado pelo aumento da inflação, pelo fim do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros, eletrodomésticos e móveis, e pela inadimplência que demora a cair, o desempenho do comércio varejista deve descer um degrau em 2013, após sete anos consecutivos de crescimento em ritmo chinês. Entre 2006 e 2012, a expansão média foi de 9% ao ano.
Mesmo assim, o setor deve, mais um vez, superar neste ano o crescimento da economia como um todo, projetado em cerca de 3%, segundo o último Boletim Focus do Banco Central. Consultorias privadas e entidades representativas do varejo esperam uma expansão do volume de vendas entre 4% e 7% em 2013, acima, portanto, das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB).
As vendas do varejo restrito encerraram 2012 com alta de 8,4% na comparação com 2011 e cresceram 8% no varejo ampliado, quando se levam em conta veículos e materiais de construção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2006 e 2012, o volume de vendas do varejo ampliado acumulou alta de quase 90%. Isso quer dizer que o comércio praticamente dobrou de tamanho em menos de uma década.
Mas, em dezembro último, pela primeira vez depois de seis meses seguidos de crescimento, soou o sinal de alerta. As vendas do comércio caíram 0,5% na comparação com o mês anterior, descontadas as influências normais do período. Na comparação com dezembro de 2011, o crescimento foi de 5%, uma taxa anual menor do que em meses anteriores. Na avaliação da economista Mariana Oliveira, da consultoria Tendências, esse novo ritmo de crescimento do varejo deve prevalecer.
"Há uma desaceleração no varejo prevista para 2013, mas a base de comparação ainda é muito forte", ressalta Mariana. A consultoria projeta para este ano aumento de 5,2% no volume de vendas do comércio restrito e de 4,8% para o varejo ampliado. Nos seus cálculos, ela considera a desaceleração do rendimento dos trabalhadores, a recuperação lenta do crédito que foi prejudicado pelo aumento da inadimplência em 2012, e o fim do benefício do corte do IPI que, de certa forma, provocou uma antecipação de compras.
Rendimentos. Mesmo considerando crescimento real de 2,7% para a massa real de rendimentos dos trabalhadores neste ano, depois de um aumento de 6,4% em 2012, e a expansão do crédito ao consumidor em ritmo menor, de 11% em 2013 ante 16% em 2012, Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, projeta alta de 7% no volume de vendas do comércio restrito para 2013.
A estimativa é mais otimista que seus pares de mercado porque leva em conta a riqueza advinda do bom momento dos preços das matérias-primas básicas, tanto as agrícolas como as minerais. Esses produtos têm gerado renda e consumo em cidades menores, longe dos grandes centros industrializados, que padecem do enfraquecimento da indústria, explica Silveira.
Somado a isso, ele lembra que as sucessivas reduções da taxa básica de juros ocorridas no ano passado devem surtir efeito neste ano. "Vamos ter em 2013 um aumento do consumo, depois de um grande aumento de consumo", afirma o economista.
"O comércio vai crescer bem neste ano porque está lastreado no mercado de trabalho, mesmo sem a força extra da redução do IPI e da abundância de crédito", diz o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes. A entidade prevê crescimento de 6,6% para o comércio restrito este ano e de 5% para o ampliado.
Flávio Rocha, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que reúne 36 grandes empresas varejistas, também considera que o desempenho favorável do mercado de trabalho e o desemprego em níveis historicamente baixos vão sustentar o crescimento do comércio neste ano. Ele espera aumento real de 5% no volume de vendas do comércio varejista.
O otimismo de Rocha está baseado nas projeções de investimento no varejo, que devem somar R$ 20 bilhões, nas contas do IDV. "É uma cifra recorde para o setor", diz Rocha. Mais da metade dos recursos será destinada à abertura de lojas. "Só a minha empresa (Lojas Riachuelo) vai investir meio bilhão de reais este ano", exemplifica, destacando que se trata do investimento global da companhia.
Inflação. Na avaliação do assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Altamiro Carvalho, o comércio terá mais dificuldade para crescer em 2013 por causa da mudança do patamar de inflação, que afeta o poder de compra do consumidor, corroendo a renda e ampliando preços. A entidade projeta crescimento de 4% no volume de vendas no varejo.
"A expectativa de inflação entre 6% e 6,5% para 2013 atrapalha as vendas do comércio", afirma Bentes. Na sua avaliação, a "culpa" da retração do comércio varejista em dezembro de 2012, que normalmente é o melhor mês de vendas do ano, foi do repique da inflação. "Se a inflação persistir, o desempenho do comércio deve recuar nos meses seguintes", prevê o economista.

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