A secura é tanta que, às vezes, o sertanejo baiano exagera. Como quando diz que "era capaz de um rio São Francisco não dar conta" para fazer o concreto que segura as torres de vento no chão. Exageros à parte, a razão é que a escassez de água no sertão do Sul da Bahia tem feito com que se multipliquem os poços artesianos na região para suprir entre os 40 e 60 mil litros de água necessários para fincar cada torre eólica nos parques geradores que começam a ser construídos na região.
Jornal O Valor Econômico - Empresas
Esse número chega à casa dos milhões se levado em conta que, somente na primeira fase, que termina junho do próximo ano, 180 torres serão colocadas pela Renova Energia nas cidades de Caetité, Guanambi e Igaporã. Mas nos próximos anos, novos parques serão construídos não só pela Renova como também pela Iberdrola. Muitos moradores especulam, e se preocupam, em saber se na próxima seca terá água para a plantação, já que mais alguns anos serão necessários para que fique pronta a adutora que vai levar efetivamente a água para irrigação do rio São Francisco, distante 150 quilômetros, até à região.
Não faz muito tempo, as cidades das redondezas passaram por uma forte seca. Em 2010, a prefeitura de Guanambi teve de reduzir o expediente e levar água por meio de carros pipas para escolas. O prefeito da cidade, Charles Fernandes, diz que em breve a adutora para atender a demanda de água da população estará em funcionamento, mas o projeto de irrigação ainda levará mais alguns anos. Já para Caetité e Igaporã, que ficam mais ao norte, mesmo o suprimento doméstico ainda vai levar mais tempo.
Técnicos do Instituto de Meio Ambiente da Bahia (Inema) dizem que é muito raro que a água seque mesmo depois de perfurado o poço artesiano. A reportagem do Valor percorreu os três municípios da região e encontrou diversos poços abertos pelos construtores contratados pela Renova. A empresa diz que a construtora perfurou até agora seis poços. Entre os moradores, o que se diz é que muitos secaram e por isso a empresa abrindo novos poços. Cerca de 15 já estão mapeados pela empresa.
Para perfurar um poço é preciso uma outorga do Inema e a autorização do proprietário da terra. Os acordos feitos normalmente preveem a coleta da água por dois anos e em contrapartida o investimento realizado para abertura do poço fica como benefício para o terreno. "Mas eles não pagam nada", diz o vereador de Igaporã, Manoel Magalhães. Nezinho, como é conhecido, diz que não esperava a quantidade de caminhões-pipa que retiram água de sua propriedade todos os dias. "Já teve dia que 70 caminhões foram enchidos aqui, eu achei que iam ser uns dois ou três por dia, mas agora não posso voltar atrás."
O temor de uma seca assombra algumas famílias de tal forma que não há dinheiro que faça com que eles permitam a coleta em suas propriedades. É o caso de Osvaldino Fernando de Souza que arrendou suas terras, em Igaporã, como contou reportagem do Valor em sua edição de ontem, para que duas torres eólicas fossem construídas, mas não deixa tirarem água de seu poço. "Daqui ninguém tira água não."
O grande volume de água é necessário em obras para implantação de parques eólicos pela quantidade de concreto que é necessária para segurar em pé uma torre eólica que chega a medir 100 metros de altura, algo como um prédio de 27 andares. Além disso, ainda tem a pá eólica que forma o catavento. São mais 41 metros de altura. O peso pode chegar 900 toneladas. De acordo com a Renova, cada torre usa 40 mil litros de água para produção de concreto.
Em outros parques, como o da CPFL Energia que fica em Parazinho, no Rio Grande de Norte, cada torre consome 60 mil litros de água para ser fincada. Como a fornecedora da CPFL usa concreto também para fabricar a torre, esse volume chega a 120 mil litros. A região de Parazinho também é semiárida, mas menos seca que o sertão sul da Bahia.
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Parques eólicos valem uma Belo Monte
Não faz muito tempo, as cidades das redondezas passaram por uma forte seca. Em 2010, a prefeitura de Guanambi teve de reduzir o expediente e levar água por meio de carros pipas para escolas. O prefeito da cidade, Charles Fernandes, diz que em breve a adutora para atender a demanda de água da população estará em funcionamento, mas o projeto de irrigação ainda levará mais alguns anos. Já para Caetité e Igaporã, que ficam mais ao norte, mesmo o suprimento doméstico ainda vai levar mais tempo.
Técnicos do Instituto de Meio Ambiente da Bahia (Inema) dizem que é muito raro que a água seque mesmo depois de perfurado o poço artesiano. A reportagem do Valor percorreu os três municípios da região e encontrou diversos poços abertos pelos construtores contratados pela Renova. A empresa diz que a construtora perfurou até agora seis poços. Entre os moradores, o que se diz é que muitos secaram e por isso a empresa abrindo novos poços. Cerca de 15 já estão mapeados pela empresa.
Para perfurar um poço é preciso uma outorga do Inema e a autorização do proprietário da terra. Os acordos feitos normalmente preveem a coleta da água por dois anos e em contrapartida o investimento realizado para abertura do poço fica como benefício para o terreno. "Mas eles não pagam nada", diz o vereador de Igaporã, Manoel Magalhães. Nezinho, como é conhecido, diz que não esperava a quantidade de caminhões-pipa que retiram água de sua propriedade todos os dias. "Já teve dia que 70 caminhões foram enchidos aqui, eu achei que iam ser uns dois ou três por dia, mas agora não posso voltar atrás."
O temor de uma seca assombra algumas famílias de tal forma que não há dinheiro que faça com que eles permitam a coleta em suas propriedades. É o caso de Osvaldino Fernando de Souza que arrendou suas terras, em Igaporã, como contou reportagem do Valor em sua edição de ontem, para que duas torres eólicas fossem construídas, mas não deixa tirarem água de seu poço. "Daqui ninguém tira água não."
O grande volume de água é necessário em obras para implantação de parques eólicos pela quantidade de concreto que é necessária para segurar em pé uma torre eólica que chega a medir 100 metros de altura, algo como um prédio de 27 andares. Além disso, ainda tem a pá eólica que forma o catavento. São mais 41 metros de altura. O peso pode chegar 900 toneladas. De acordo com a Renova, cada torre usa 40 mil litros de água para produção de concreto.
Em outros parques, como o da CPFL Energia que fica em Parazinho, no Rio Grande de Norte, cada torre consome 60 mil litros de água para ser fincada. Como a fornecedora da CPFL usa concreto também para fabricar a torre, esse volume chega a 120 mil litros. A região de Parazinho também é semiárida, mas menos seca que o sertão sul da Bahia.
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Parques eólicos valem uma Belo Monte
Os investimentos em eólicas em todo o país vão somar R$ 30 bilhões até 2014 para que 280 parques sejam erguidos, com capacidade de gerar mais de 7,2 mil megawatts (MW) de energia - metade para consumo efetivo. São números comparáveis com os da hidrelétrica de Belo Monte, a usina que tem gerado críticas até de artistas globais.
O que não se pode comparar entre Belo Monte e eólicas é a ampla aceitação que os projetos de ventos ganharam entre ambientalistas, que acreditam ser uma das formas de geração de energia mais limpas do mundo. Nessa onda, tradicionais geradoras de energia hidrelétrica começaram a investir pesado nesse segmento para se tornarem "renováveis".
Os dois casos mais marcantes neste ano foram da Renova, que ganhou um aporte de capital da Cemig, por meio da Light; e da CPFL Energia. Essa última investiu bilhões de reais em compra de ativos e também apostou em uma fusão com a Ersa, do banco Pátria, e criou a CPFL Renováveis. A empresa tem hoje em operação 210 MW de eólicas e constrói parques que vão somar 550 MW, a maior parte na cidade de Parazinho, ao norte de Natal, no Rio Grande do Norte.
Os ventos potiguares são tão promissores que até 2014 o Estado vai abrigar sozinho um terço de todos os investimentos do país para a construção de 83 parques com capacidade de gerar 2,3 mil MW. De acordo com o secretário de desenvolvimento do Estado, Benito Gama, para o próximo leilão de energia do governo federal, que acontece este mês, foram concedidas licenças ambientais para 62 novos parques na região. "A implantação das torres eólicas já gera em algumas cidades mais empregos que a própria prefeitura", afirma o secretário estadual.
Em Parazinho, são ao todo 700 empregos diretos gerados pelas obras da CPFL. A empresa está colocando 98 torres nos parques Santa Clara e que tiveram a energia vendida no primeiro leilão do governo federal, em 2009. "Só para Santa Clara arrendamos 2,2 mil hectares de terras, de grandes fazendeiros", conta o diretor de operações da CPFL Renováveis, João Martin.
As torres e aerogeradores da CPFL são fornecidos pela Wobben e fabricados dentro do próprio canteiro de obras da empresa. As torres são todas com acabamento de concreto, diferentemente daquelas que estão chegando à região de Caetité, na Bahia, para atender a Renova.
A GE é a principal fornecedora na Bahia. As torres são de aço e todas transportadas de Pernambuco até Caetité. A Renova, neste momento, está erguendo 180 torres na região, que vão gerar pouco menos de 300 MW. Mas o projeto total chegará a 1,1 mil MW, sendo que 400 MW são de energia que foi vendida para a Light. O vice-presidente de operações da Renova e um dos fundadores da empresa, Renato Amaral, diz que foi estratégico para a empresa fazer a parceria com a Light justamente para vender a energia no mercado livre. Os preços do mercado regulado caíram fortemente e a competição está cada vez mais dura, com cada vez mais grupos estrangeiros chegando ao Brasil. A éolica que no Proinfa, a preços sem correção de cinco anos atrás, foi vendida a mais de R$ 200 o MW, chegou a R$ 100 no último leilão, que aconteceu em meados deste ano. (JG)
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Água é problema na construção de parques eólicos no Nordeste
O que não se pode comparar entre Belo Monte e eólicas é a ampla aceitação que os projetos de ventos ganharam entre ambientalistas, que acreditam ser uma das formas de geração de energia mais limpas do mundo. Nessa onda, tradicionais geradoras de energia hidrelétrica começaram a investir pesado nesse segmento para se tornarem "renováveis".
Os dois casos mais marcantes neste ano foram da Renova, que ganhou um aporte de capital da Cemig, por meio da Light; e da CPFL Energia. Essa última investiu bilhões de reais em compra de ativos e também apostou em uma fusão com a Ersa, do banco Pátria, e criou a CPFL Renováveis. A empresa tem hoje em operação 210 MW de eólicas e constrói parques que vão somar 550 MW, a maior parte na cidade de Parazinho, ao norte de Natal, no Rio Grande do Norte.
Os ventos potiguares são tão promissores que até 2014 o Estado vai abrigar sozinho um terço de todos os investimentos do país para a construção de 83 parques com capacidade de gerar 2,3 mil MW. De acordo com o secretário de desenvolvimento do Estado, Benito Gama, para o próximo leilão de energia do governo federal, que acontece este mês, foram concedidas licenças ambientais para 62 novos parques na região. "A implantação das torres eólicas já gera em algumas cidades mais empregos que a própria prefeitura", afirma o secretário estadual.
Em Parazinho, são ao todo 700 empregos diretos gerados pelas obras da CPFL. A empresa está colocando 98 torres nos parques Santa Clara e que tiveram a energia vendida no primeiro leilão do governo federal, em 2009. "Só para Santa Clara arrendamos 2,2 mil hectares de terras, de grandes fazendeiros", conta o diretor de operações da CPFL Renováveis, João Martin.
As torres e aerogeradores da CPFL são fornecidos pela Wobben e fabricados dentro do próprio canteiro de obras da empresa. As torres são todas com acabamento de concreto, diferentemente daquelas que estão chegando à região de Caetité, na Bahia, para atender a Renova.
A GE é a principal fornecedora na Bahia. As torres são de aço e todas transportadas de Pernambuco até Caetité. A Renova, neste momento, está erguendo 180 torres na região, que vão gerar pouco menos de 300 MW. Mas o projeto total chegará a 1,1 mil MW, sendo que 400 MW são de energia que foi vendida para a Light. O vice-presidente de operações da Renova e um dos fundadores da empresa, Renato Amaral, diz que foi estratégico para a empresa fazer a parceria com a Light justamente para vender a energia no mercado livre. Os preços do mercado regulado caíram fortemente e a competição está cada vez mais dura, com cada vez mais grupos estrangeiros chegando ao Brasil. A éolica que no Proinfa, a preços sem correção de cinco anos atrás, foi vendida a mais de R$ 200 o MW, chegou a R$ 100 no último leilão, que aconteceu em meados deste ano. (JG)
Jornal O Valor Econômico - Empresas
Água é problema na construção de parques eólicos no Nordeste
A escassez de água no sertão do sul da Bahia tem feito com que se multipliquem os poços artesianos na região. Eles estão sendo perfurados para permitir a instalação de torres geradoras de energia eólica. Cada torre exige entre 40 mil e 60 mil litros de água para a preparação da base de concreto.
Só na primeira fase da instalação dos parques eólicos, que termina em junho, 180 torres serão erguidas pela Renova Energia nas cidades de Caetité, Guanambi e Igaporã. Nos próximos anos, novos parques serão construídos pela empresa e pela Iberdrola.
Os pequenos produtores se preocupam em saber se terão água para o plantio na próxima seca. Serão necessários mais alguns anos até que fique pronta a adutora que vai levar para a região a água captada no rio São Francisco, a 150 quilômetros de distância.
Moradores garantem que muitos poços secaram depois de usados para a construção das torres e querem que as empresas paguem pela água utilizada. Técnicos do Instituto de Meio Ambiente da Bahia (Inema) afirmam que é muito raro que a água seque, mesmo depois de perfurado o poço artesiano.
Só na primeira fase da instalação dos parques eólicos, que termina em junho, 180 torres serão erguidas pela Renova Energia nas cidades de Caetité, Guanambi e Igaporã. Nos próximos anos, novos parques serão construídos pela empresa e pela Iberdrola.
Os pequenos produtores se preocupam em saber se terão água para o plantio na próxima seca. Serão necessários mais alguns anos até que fique pronta a adutora que vai levar para a região a água captada no rio São Francisco, a 150 quilômetros de distância.
Moradores garantem que muitos poços secaram depois de usados para a construção das torres e querem que as empresas paguem pela água utilizada. Técnicos do Instituto de Meio Ambiente da Bahia (Inema) afirmam que é muito raro que a água seque, mesmo depois de perfurado o poço artesiano.
por João Suassuna — Última modificação 02/12/2011 17:34
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