domingo, 2 de dezembro de 2012

Alckmin corre para dar uma marca à sua gestão


Julia Duailibi e Bruno Boghossian, de O Estado de S. Paulo
A vitória do PT na capital paulista e a consequente derrota do PSDB no maior colégio eleitoral do País bateram à porta do Palácio dos Bandeirantes. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) entra na segunda fase do seu mandato sem uma marca forte na administração, com obras em ritmo lento e uma crise na área da segurança para administrar.
Integrantes do governo Alckmin admitem reservadamente que precisarão aprimorar a gestão e marcar gols até 2014 para evitar que o sentimento de mudança que marcou a eleição na capital se repita no interior - e o governo de São Paulo, comandado pelo PSDB desde 1995, passe às mãos dos petistas. Seria a maior derrota da oposição no País.
Aliados do governador afirmam que a administração é muito dependente da figura de Alckmin - que já enfrenta desgastes por causa do aumento de assassinatos na Grande São Paulo. Pesquisa Datafolha feita apenas na capital mostrou que caiu de 40% para 29% a taxa dos que consideram o governo ótimo ou bom.
Os principais projetos tocados pela equipe do Palácio dos Bandeirantes, que deveriam ser apresentados como vitrine na campanha à reeleição, em 2014, ainda patinam. O trecho leste do Rodoanel, por exemplo, deveria ficar pronto em 2014, mas, segundo integrantes do governo, só 20% das desapropriações necessárias e 5% da terraplenagem foram realizadas até agora. No mesmo período, os trabalhadores das obras do trecho sul já haviam concluído 100% das tarefas.
Os investimentos na expansão e modernização do Metrô também estão abaixo do esperado - até outubro, foram aplicados menos de um terço dos R$ 4,9 bilhões previstos no início do ano.
Desde junho, o tatuzão que escavará a Linha 5 está parado no terreno da obra - deve começar a trabalhar apenas em agosto de 2013. O trabalho também está lento na construção da Linha 17, um monotrilho que ligará o Aeroporto de Congonhas à rede de trens urbanos. O governo diz que a obra só ficará pronta depois da Copa de 2014, o que contraria a previsão original.
No fim do ano passado, Alckmin havia dito que o governo começaria 2012 "pisando no acelerador" e anunciou investimentos de R$ 22 bilhões. Integrantes do governo já admitem que apenas 65% desse valor deve ser alcançado até o fim do ano.
Insatisfeito com o desempenho, o governador cobra que sua equipe entregue "medalhas", ou seja, marcas em suas áreas.
Alckmin convocou seus secretários no dia 9 de outubro para reclamar que as pastas não haviam criado vitrines em dois anos de mandato. Disse ainda que a boa avaliação que a gestão acumulava à época era fincada basicamente na imagem de honestidade que tinha diante do eleitorado.
A interlocutores o governador criticou os secretários que são deputados - oito deles trabalham no governo. Disse que eles tinham mais vocação para discurso que para gerenciar o Estado.
Ações. Com a posse de novos prefeitos, em janeiro, o governo também avalia que deverá olhar com mais atenção para o interior, onde tem força eleitoral, para fortalecer suas vitrines por lá. Tucanos temem que o apoio do Palácio do Planalto a projetos do petista Fernando Haddad torne a capital uma marca para o PT.
O governo deve abrir novas parcerias público-privadas (PPPs) no ano que vem para tentar acelerar o investimento. Há projetos para a construção de piscinões, linhas de metrô, escolas e quatro novos hospitais.
A cúpula do Palácio dos Bandeirantes também se debruça sobre a segurança e os pedágios. Alckmin estuda estender ocupações policiais como a da favela de Paraisópolis para tentar dar fim à guerra entre policiais e criminosos. O governo aceitará a colaboração da União em investigações sobre o crime organizado, mas tentará transferir a ela parte da responsabilidade pelo crescimento da violência, com o argumento de que falhas nas fronteiras permitem a entrada de armas e drogas no País.
Para amenizar as críticas à cobrança de pedágios nas rodovias estaduais, atribuída às gestões do PSDB, o governo vai apresentar como solução a ampliação do sistema Ponto a Ponto, que prevê a cobrança de pedágio de acordo com trecho percorrido.
Mudanças. Pensando nas alianças que garantirão tempo de TV na disputa pela reeleição, o governador pretende fazer mudanças no seu secretariado até o começo do ano que vem. As alterações nos gabinetes levarão em conta o arco de alianças que Alckmin pretende montar para 2014. O governador pretende "amarrar" logo os partidos que hoje são considerados amigos, para evitar troca-troca de cargos às vésperas do lançamento das candidaturas.
Nos últimos meses, Alckmin recebeu líderes partidários no Palácio dos Bandeirantes para discutir o apoio daqui a dois anos. Aliados do governador admitem hoje que o prefeito Gilberto Kassab (PSD) estará com o PT ou tentará voo solo, podendo levar consigo o PV e PP - com quem o PSD pode se fundir.
O mesmo destino, acreditam os tucanos, deverá ter o PMDB do vice-presidente Michel Temer e do candidato derrotado à Prefeitura Gabriel Chalita. Restaria ao governador DEM, PTB e PPS, e a possibilidade de PP, PSB, PRB e PR, a depender do quadro nacional, já que são da base de apoio de Dilma.
No caso do PRB, que lançou Celso Russomanno a prefeito, Alckmin tenta amarrar o partido e estudo ceder espaço para a sigla na reforma de secretariado.
O governador acredita que o adversário na reeleição será o petista Alexandre Padilha, ministro da Saúde, que deverá ser embalado na tese da "novidade", assim como foi Haddad. A interlocutores Alckmin já confessou preferir enfrentar Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy, que os tucanos chamam de "fregueses".
Para alguns aliados do governador, a tese da mudança já está em curso pelo Estado. Em 2008, o partido ganhou em 205 cidades paulistas. Nesta eleição, foi vitorioso em 178. Nos levantamentos entregues ao governador, no entanto, a cúpula do PSDB paulista mostrou dados favoráveis, como o crescimento dos eleitores governados pelo partido.
Na tentativa de preparar a reeleição, também deve haver mudanças no comando do partido no Estado e na capital. Haverá renovação das cúpulas partidárias em abril e maio.

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