quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Doutores mal treinados formam novos doutores'


POR MAURÍCIO TUFFANI
27/01/15  17:20
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Um dos mais renomados bioquímicos do Brasil, Lewis Joel Greene, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, chamou a atenção para a necessidade de avaliar a influência dos rumos da pós-graduação do país no quadro de estagnação da qualidade da produção científica brasileira, apesar do seu crescimento quantitativo. Segundo o pesquisador,
“O contraste entre o aumento do número de publicações científicas brasileiras e a aparente estagnação de seu impacto na maioria das disciplinas deveria ser uma fonte de preocupação para os decisores políticos responsáveis pela pós-graduação em universidades e a distribuição de bolsas de estudo e financiamento à pesquisa. Como a maior parte da pesquisa acadêmica no Brasil é realizada por estudantes de pós-graduação, é razoável considerar a modificação do nosso sistema de pós-graduação.”
Professor aposentado da USP, ainda atuante como colaborador, bolsista de produtividade do nível 1A do CNPq (o mais elevado) e membro da ABC (Academia Brasileira de Ciências), o pesquisador norte-americano que adotou o Brasil em 1974, aos 40 anos, manifestou essa preocupação em no artigo “É hora de rever o sistema de pós-graduação brasileiro”, publicado ontem (segunda, 26.jan) no blog “SciELO em Perspectiva”.
Números
Greene não apresentou indicadores, certamente por estar tratando de um assunto que dispensa detalhes numéricos no meio especializado em que se manifestou. Antes de prosseguir com sua advertência, mostro para os leitores números relacionados ao quadro por ele comentado.
Para termos uma ideia do que aconteceu quantitativamente na pesquisa e na pós-graduação no Brasil nas décadas mais recentes, aproveitei dados de uma apresentação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), segundo a qual em 1987 havia 37.195 matrículas em mestrados e doutorados em todo o país, segundo dados da Capes. Desse ano a 2013, esse total cresceu 5,5 vezes, aumentando para 203.717.
Nesse mesmo período de 26 anos, o número de artigos brasileiros publicados em periódicos de padrão internacional cresceu de 2.662 para 38.523. Apesar desse aumento de 14,5 vezes em sua produção científica, o país não teve crescimento significativo nos indicadores de qualidade (impacto) de sua produção científica, que na verdade chegaram a estagnar de 2003 a 2013, como destaquei no ano passado em minha reportagem “Produção científica no Brasil fica menos concentrada em SP” (13.out).
Formação
Esses números mostram que a abordagem de Greene tem lastro na realidade. Ele destaca que, apesar de nosso grande investimento nos últimos anos em ciência e tecnologia, “a ênfase continua a ser no número de diplomas e documentos produzidos, mais que na formação do aluno”.
“Em meados da década de 1970, houve muitas discussões sobre o fato de que o Brasil precisava produzir milhares de doutores para chegar a níveis de primeiro mundo em número de doutores/100.000 habitantes. Reconhecia-se que a maioria dos primeiros formados teriam uma formação menos que ideal, porém entendia-se e esperava-se que o sistema se tornasse mais rigoroso com o tempo. Infelizmente, isso não ocorreu e, para piorar a situação, os doutores mal treinados estão agora formando a próxima geração de doutores.”
Finalizando, Greene ressalta que a Capes, as agências de fomento estaduais e as universidades tiveram responsabilidade no processo que levou a esse quadro. O pesquisador sugere que a ABC e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) organizem um painel para analisar o desempenho da pós-graduação desde os anos 1970 e propor “novas abordagens que podem ser mais eficazes do que a atual em relação à qualidade dos nossos alunos e do empreendimento científico no Brasil”.
Esse não foi o primeiro alerta de que há algo muito errado no crescimento quantitativo da pós-graduação e da pesquisa brasileira. Bem que poderia ser o último.
1,5 mil2120
 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Com novos sócios, Hidrovias do Brasil recebe investimento de US$ 300 milhões

A Hidrovias do Brasil, empresa de logística que atua no mercado interno e no exterior, anunciou na segunda-feira, 26, captação de US$ 300 milhões para ampliar os investimentos atuais, em especial no corredor norte, entre Miritituba e Vila do Conde, no Pará. Parte do dinheiro virá de novos sócios que passam a compor a base formada até agora pelo fundo P2 Brasil (Pátria e Grupo Promon), Temasek e Alberta Investment Management Company (Aimco).
Com a operação, Blackstone Tactical Opportunities, BNDESPar, International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, e um produto gerenciado pelo P2, com capital de seis investidores internacionais, entram na composição acionista da Hidrovias do Brasil. Apesar da capitalização, o P2 continuará com o controle da empresa, com 54,7% de participação. Blackstone terá 11,3%; BNDESPar, 4,5%; e IFC, 3,4%. Os outros dois acionistas, Temasek e Aimco, reduziram sua fatia para 16,7% e 9,32%, respectivamente.
Segundo o sócio do Pátria Investimentos, Felipe Pinto, diretor de investimentos do P2 Brasil, a operação demorou quase oito meses para ser concluída. Apesar do baixo desempenho da economia brasileira e das perspectivas negativas para 2015, ele afirma que não houve dificuldade para convencer os investidores a colocar dinheiro na empresa. "O reflexo foi marginal, já que os grupos estavam olhando o potencial de crescimento dos projetos."
Ele explica que os investidores já fazem parte do ciclo de relacionamento do grupo e, portanto, conhecem a empresa e seu potencial. "A proposta gerou um interesse bastante relevante. Por isso, digo que a questão macroeconômica não nos afetou." Blackstone e o produto formado por investidores internacionais administrados pelo P2 foram os que aportaram maior valor na empresa. A fatia de cada um na captação é de US$ 100 milhões. O BNDESPar pôs US$ 40 milhões.
O fechamento do negócio ainda depende do atendimento de algumas condicionantes, mas a expectativa é que a operação esteja concluída entre fevereiro e março. Os recursos serão integralizados num período de três anos.
Corredor norte
O presidente da Hidrovias do Brasil, Bruno Serapião, afirma que 80% do dinheiro captado serão investidos no corredor dos rios Tapajós-Amazonas, entre a cidade de Miritituba e o Porto de Vila do Conde, no Pará. A chamada saída pelo Norte virou o grande negócio das empresas de logística com o estrangulamento dos portos do Sul e Sudeste do País. Com os maiores produtores de grãos instalados no norte do Mato Grosso, a saída natural virou os portos do Norte.
A Hidrovias do Brasil está investindo R$ 1,4 bilhão no empreendimento, que deverá iniciar a operação no primeiro semestre do ano que vem e terá capacidade de 5 milhões de toneladas de grãos por ano.
O projeto inclui a construção e operação de um terminal de transbordo rodo-fluvial em Miritituba, navegação por aproximadamente 1,2 mil quilômetro pelos rios Tapajós e Amazonas e construção e operação de um terminal portuário em Vila do Conde. "Nessa primeira fase toda capacidade já está contratada", afirma Serapião. Segundo ele, o dinheiro captado agora será aplicado na segunda fase do projeto, previsto para ficar pronto entre 2018 e 2019. "A previsão é ampliar a capacidade atual entre 30% e 50%", afirma o executivo.
Além da infraestrutura dos terminais, o projeto requer a compra de frotas de barcaças e empurradores (máquinas que movimentam as barcaças pelos rios). Na primeira fase, serão entre 100 e 150 barcaças e entre 5 e 7 empurradores, todos comprados no mercado interno. A primeira empresa a operar o corredor norte, pelos rios Tapajós e Amazonas, foi a Bunge, que estreou no ano passado a nova rota de exportação. Outras companhias como Cargill, Cianport e Odebrecht, entre outros, também desenvolvem projetos na região.
Operação no exterior
O dinheiro da captação anunciada ontem também deverá ser investido na expansão do corredor Sul da companhia. O projeto, em operação desde fevereiro de 2014, consiste no transporte fluvial de grãos entre Assunção, no Paraguai, e os portos da Argentina ou Uruguai, num percurso de cerca de 1.500 quilômetros.
Atualmente, a frota é composta por 3 empurradores e 36 barcaças Mississippi, adquiridas nos Estados Unidos. A capacidade atual da companhia nessa rota é de 700 mil toneladas de grãos por ano, mas a expectativa é ampliar esse número para 1,5 milhão de toneladas, com a aquisição de mais barcaças e empurradores.
"O aporte realizado na Hidrovias do Brasil nos permitirá crescer rapidamente durante os próximos anos", afirma Felipe Pinto. Ele lembra que a empresa com foco no transporte hidroviário foi criada em 2010, com US$ 120 milhões da P2 Brasil. Em seguida, entraram Temasek e Aimco, que juntos aportaram US$ 100 milhões. Entre 2013 e 2014, houve um aumento de capital para US$ 366 milhões e agora mais US$ 300 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Secretário aposta em recuperação rápida


Nome do primeiro escalão do governo Alckmin critica política para o setor do governo Dilma


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Milena Aurea / A Cidade
Arnaldo Jardim mostra confiança com recuperação do etanol e com novas tecnologias. (Foto: Milena Aurea/A Cidade)
Bastante entusiasmado com o cargo dado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), o secretário de Agricultura, Arnaldo Jardim (PPS), aposta na recuperação, e de forma rápida, do setor sucroenergético com a volta da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) sobre o combustível.
A avaliação foi feita durante visita do secretário à redação do A Cidade, ontem à tarde.
“Eu acredito, sim, que a Cide contribuirá para a rápida recuperação do setor, que entrou em crise devido a uma política errada da presidente Dilma Rousseff”, diz o secretário.
Nos últimos anos, 60 usinas fecharam e outras 74 estão em recuperação judicial. Com esse cenário desfavorável, a expectativa de Jardim é que, com a cobrança da Cide, o etanol passe a ficar mais competitivo no mercado e opção viável para o consumidor.
Isso porque a Cide deve gerar um aumento de 22 centavos sobre o litro da gasolina e de 15 centavos para o valor do diesel na refinaria. Assim, a alta em cadeia abre espaço para a correção do preço do etanol, que está defasado e sem margem para competição com a gasolina.
“Nós precisamos do etanal porque, consequentemente, gerará mais emprego e beneficiará toda uma cadeia produtiva”, afirmou.
Segundo Jardim, existe uma “capacidade ociosa” nas usinas. Pelos números apresentados, as usinas têm uma capacidade de moagem em torno de 800 milhões de toneladas. “Estão moendo hoje perto de 540 milhões de toneladas. Então, a questão não é estrutural. Usinas existem, mas a política adotada pelo governo federal nos últimos anos que não foi favorável”, diz.
Prioridade é viabilizar cana de maior produção
No comando da Secretaria de Agricultura e Abastecimento há duas semanas, Arnaldo afirma que uma de suas metas será investir em pesquisa na tentativa de aumentar a produção da cana-de-açúcar. A prioridade envolve a criação de variedades de cana que se adaptam com o chamado “estresse hídrico”.
“O nosso Instituto Agrícola desenvolve uma espécie de cana para o cerrado de Goiás, onde há deficiência hídrica. O estudo começou há seis anos e há dois teve início em escala de produção”.
Outra pesquisa envolve o plantio de cana com o maior volume de celulose. “É um estudo fantástico. Viabilizará a produção de etanol à base de celulose”, diz.
O benefício é que, no mesmo hectare onde se produz 100 litros com a cana convencional, a de celulose produzirá 140 litros.