segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Entenda a crise de poluição plástica em 8 pontos, FSP

 

São Paulo

Mais lixo plástico escapa para o oceano (22%) do que é coletado para reciclagem (15%), segundo estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e apenas 9% dos resíduos plásticos são de fato reciclados no mundo.

Ao mesmo tempo, o uso global de plástico, que quadruplicou nos últimos 30 anos, deve dobrar até 2060. E fragmentos, os chamados microplásticos, foram encontrados quase todas as partes do corpo humano.

A imagem mostra uma pessoa agachada em um manguezal, recolhendo conchas do solo. Ao redor, há árvores de mangue com plásticos e outros resíduos pendurados em seus galhos. O ambiente está alagado, refletindo a água no chão.
Mulher vietnamita coleta conchas em área de vegetação costeira repleta de resíduos plásticos após alta da maré - Nhac Nguyen - 18.mai.18/AFP

Entenda o tamanho da encrenca em oito pontos baseados em informações do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Nesta terça-feira (5), as discussões para um tratado mundial contra a poluição plástica serão retomadas em Genebra. A reunião ocorrerá até 14 de agosto.

1. Quanto plástico existe no mundo?

Hoje os plásticos são parte essencial do mundo moderno. Estão em peças de automóveis, utensílios médicos e domésticos, roupas e embalagens de todo tipo. O uso global de plástico quadruplicou nos últimos 30 anos e pode dobrar até 2060. Pesquisadores estimam que, desde a década de 1950, a humanidade tenha produzido 9,2 bilhões de toneladas de material, das quais cerca de 7 bilhões de toneladas se tornaram resíduos.

2. Quais são os tipos de plásticos mais problemáticos?

Uma das principais fontes de poluição plástica são os produtos de uso único, como garrafas de bebidas, sacos e sacolas, bandejas de isopor, marmitas, frascos de xampu, filme plástico, talheres, copos e pratos descartáveis. Eles sobrecarregam os sistemas de resíduos e também vazam para o meio ambiente.

3. Onde há poluição plástica?

Em quase todos os lugares: lagos, rios e no oceano, nas ruas das cidades e nos campos. Pesquisadores já encontraram detritos plásticos no Monte Everest e na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo da Terra.

4. Por que a poluição plástica é um problema sério?

Por três motivos principais. Primeiro porque ela pode causar estragos em ecossistemas, desde impacto no crescimento de pequenas algas marinhas até porque peixes e aves ingerem esses resíduos por engano, enchendo seus estômagos com fragmentos plásticos, que os levam a morrer de fome.

Segundo, o plástico se decompõe em microplásticos e nanoplásticos que já foram encontrados em várias partes do corpo humano, como coração, cérebro, testículos e até no leite materno.

Terceiro, o ciclo de vida do plástico, da sua produção ao descarte, também contribui para as mudanças climáticas. Plástico é um derivado do petróleo e sua produção consome muita energia.

5. Os microplásticos fazem mal à saúde humana?

Há indícios de que sua presença nos organismos humanos possa estar relacionada a doenças cardiovasculares e disfunções hormonais. Pesquisadores têm trabalhado na investigação desses e outros efeitos por causa da quantidade de microplásticos que estamos ingerindo. Um estudo estimou que podemos estar ingerindo 5 gramas, equivalentes a um cartão de crédito, por semana.

6. A reciclagem sozinha pode acabar com a crise da poluição plástica?

Não. Apenas cerca de 9% dos plásticos são realmente reciclados, de acordo com um estudo da OCDE. Isso porque muitos produtos plásticos não foram projetados para serem reutilizados nem reciclados. Os sistemas de reciclagem não conseguiram acompanhar o avanço da produção e do descarte de plásticos. E muitos países não têm a infraestrutura necessária para coletar e reciclar esses resíduos, que são muito variados, cada um com seu próprio processo de reciclagem.

7. Então, como combater a poluição plástica?

Primeiro, evitar que plásticos continuem a vazar para o meio ambiente. Mas especialistas apontam que é preciso pensar além da reciclagem e repensar o ciclo de vida do plástico, seu design, produção e descarte. Isso significa redesenhar produtos para que durem mais e sejam menos perigosos, possam ser reutilizados e, por sim, reciclados.

8. O que tem sido feito globalmente em relação à poluição plástica?

Muitos países criaram leis para controlar o uso de produtos plásticos de uso único, do Reino Unido a Ruanda, da Coreia do Sul à Colômbia. Também regularam a responsabilidade dos fabricantes de plástico pela embalagem dos produtos que colocam no mercado. A poluição plástica, no entanto, é um problema transfronteiriço, que requer cooperação internacional. Está sendo negociado um Tratado Global de Combate à Poluição Plástica no âmbito do Comitê de Negociação Intergovernamental da ONU. As lideranças mundiais nas negociações reconhecem a gravidade da crise de poluição plástica e há pressão para um acordo juridicamente vinculante.

MP anunciada por Lula como facilitadora de data centers beneficia Casa dos Ventos e TikTok, FSP

 Pedro Lovisi

São Paulo

A medida provisória 1.307/25, assinada pelo presidente Lula no último dia 18, ganhou dois apelidos no mercado: "MP dos data centers" e "MP Mário Araripe", em referência ao dono da Casa dos Ventos, a maior geradora de energia eólica do Brasil.

O texto, vendido pelo governo federal como responsável por abrir as portas do país para os data centers, obriga todas as empresas que se instalarem em ZPEs (zonas de processamento de exportação) a consumir apenas energia renovável geradas em novas usinas.

ZPEs são áreas que concentram benefícios fiscais voltados para empresas voltadas para exportação. Na ZPE de Pecém, por exemplo, a mais desenvolvida do país, estão ArcelorMittal, White Martins e Phoenix do Pecém. Essas empresas têm isenção no pagamento de impostos, desde que enviem sua produção para fora do país.

A imagem mostra um parque eólico com várias turbinas eólicas brancas em uma área montanhosa. O céu está claro com algumas nuvens, e a vegetação ao redor é predominantemente verde, com uma estrada de terra visível ao longo do terreno. No fundo, mais turbinas eólicas podem ser vistas se estendendo pela paisagem.
Complexo eólico Rio do Vento, operado pela Casa dos Ventos no Rio Grande do Norte - Divulgação

Nos bastidores, conta-se que a medida teve a intenção de agradar a Casa dos Ventos, empresa cearense dona de vários parques eólicos e solares no Nordeste.

A percepção no mercado leva em consideração a dianteira que a Casa dos Ventos desenvolveu no segmento: uma carteira de projetos pronta com energia nova, uma relação já construída com os data centers e com os governos dos estados e conexão garantida pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) para grandes projetos.

Enquanto outros investidores vão precisar avaliar como cumprir a MP, elaborar projetos e iniciar negociações, a Casa dos Ventos já pode assinar contratos e oficializar parcerias, que ficam valendo mesmo que a proposta não chegue a ser votada e caduque. O prazo de tramitação de uma MP é 60 dias, prorrogáveis por mais 60, totalizando 120, a partir da publicação no Diário Oficial.

A companhia já prepara a construção de um data center com investimentos de R$ 50 bilhões na ZPE de Pecém para atender a Bytedance, dona do Tik Tok. O contrato com a big tech, ainda não assinado segundo a empresa, prevê o fornecimento de energias eólica e solar para o data center.

Esses centros, responsáveis por processar milhões de dados, consomem enormes quantidades de energia —as estruturas a serem construídas pela Casa dos Ventos, por exemplo, consumirão o mesmo tanto de energia do que uma cidade de 2,8 milhões de habitantes.

Zuckerberg demitiu checadores de fatos, e testamos o substituto deles, FSP

 Geoffrey A. Fowler

Colunista de tecnologia do The Washington Post

The Washington Post

Quando uma farsa sobre Donald Trump viralizou no funeral do papa Francisco, fui às redes sociais tentar esclarecer a situação. Sou voluntário das notas da comunidade, um programa que Mark Zuckerberg anunciou em janeiro que substitui checadores de fatos por usuários para combater falsidades no FacebookInstagram e Threads.

Elaborei uma nota desmentindo imagens que supostamente mostravam Trump dormindo durante a cerimônia. Citei filmagens da transmissão ao vivo e marcação de horário com data e hora. Incluí links para pesquisas do Snopes, serviço de checagem de fatos.

Nada disso importou. Minha nota da comunidade nunca foi adicionada a uma publicação porque não houve votos suficientes de outros usuários considerando-a "útil".

Um homem está em pé, gesticulando enquanto fala em uma apresentação. Ao fundo, há um grande texto que diz 'Meta AI' em letras grandes e em negrito, com a frase 'with Llama 3.2 multimodal' logo abaixo em letras menores. O homem usa uma camiseta preta e tem cabelo cacheado e loiro.
O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, durante conferência da empresa - Manuel Orbegozo - 25.set.2024/Reuters

Durante quatro meses, elaborei 65 notas desmentindo teorias da conspiração sobre temas que vão de acidentes aéreos ao sorvete Ben & Jerry's. Tentei sinalizar vídeos falsos gerados por inteligência artificial, ameaças virais falsas de segurança e relatórios falsos sobre uma parceria do ICE com o DoorDash.

Apenas três delas foram publicadas, todas relacionadas às inundações de julho no Texas. Isso representa uma taxa de sucesso inferior a 5%. Minhas notas propostas eram sobre tópicos que outros veículos de notícias —incluindo Snopes, NewsGuard e Bloomberg— decidiram que valiam a pena publicar suas próprias checagens de fatos.

Zuckerberg demitiu checadores de fatos profissionais, deixando os usuários para combater falsidades com notas da comunidade. Como principal linha de defesa contra boatos e mentirosos que querem atenção, as notas da comunidade parecem —até agora— estar longe de cumprir a tarefa.

Feeds cheios de informações imprecisas importam para os 54% dos adultos americanos que, segundo o Pew Research Center, obtêm notícias das redes sociais.

A decisão de Zuckerberg de demitir checadores de fatos foi amplamente criticada como uma tentativa covarde de agradar ao presidente Donald Trump. Ele disse que a Meta estava adotando o sistema colaborativo de notas da comunidade usado pelo X (ex-Twitter) de Elon Musk porque os usuários seriam mais confiáveis e menos tendenciosos que os checadores de fatos. Antes que as notas sejam publicadas nas postagens, usuários suficientes precisam concordar que são úteis. Mas o consenso acaba sendo mais complicado do que parece.

A Meta diz que meu teste não pode ser usado para avaliar seu programa de notas, que está público nos Estados Unidos há mais de quatro meses. "Notas da Comunidade é um produto totalmente novo que ainda está na fase de teste e aprendizado, e leva tempo para construir uma comunidade robusta de colaboradores. Embora haja notas sendo publicadas continuamente no Threads, Instagram e Facebook, nem toda nota será amplamente classificada como útil pela comunidade —mesmo que essas notas tenham sido escritas por um colunista do Washington Post", disse a porta-voz Erica Sackin.

A Meta se recusou a responder minhas perguntas sobre quantas notas publicou, quantos participantes estão no programa ou se há evidências de que está causando impacto, apesar de prometer ser transparente sobre o programa.

Alexios Mantzarlis, diretor da Iniciativa de Segurança, Confiança e Proteção da Cornell Tech, publicou outra avaliação independente das notas da comunidade em junho e disse que elas "ainda não estavam prontas para uso". Ele descobriu que apenas algumas das notas propostas forneciam contexto realmente valioso e algumas eram imprecisas.

"É preocupante que, quatro meses depois, eles não tenham compartilhado nenhuma atualização", disse Mantzarlis.

Isso importa porque os programas de notas da comunidade estão se espalhando além do X e Meta como uma forma de as grandes empresas de tecnologia terceirizarem o trabalho politicamente difícil de moderar conteúdo. O YouTube disse que estava testando uma versão no ano passado. E o TikTok disse em abril que estava testando um sistema chamado Footnotes.

Se as notas da comunidade estão se tornando um padrão para combater falsidades, precisamos ser honestos sobre o que elas podem e não podem fazer.

O QUE HÁ DE ERRADO COM AS NOTAS DA COMUNIDADE?

Me voluntariei para participar das notas comunitárias do Meta e inicialmente fui aceito no programa no Threads, e eventualmente também no Instagram e Facebook.

Os voluntários podem tocar em alguns botões em qualquer postagem de um usuário dos EUA e sugerir uma nota completa com texto e um link como prova. Deliberadamente elaborei notas que atravessavam o espectro político. Por exemplo, sugeri notas sobre uma imagem fabricada de Pam Bondi vista mais de meio milhão de vezes, bem como uma alegação falsa sobre a riqueza de Alexandria Ocasio-Cortez vista um quarto de milhão de vezes.

Também votei em dezenas de notas elaboradas por outros, classificando-as como "úteis" ou "não úteis".

As notas da comunidade têm vantagens. Vi usuários tentando abordar um conjunto mais amplo de tópicos do que um checador de fatos tradicional poderia ser especialista. Alguns estão tentando combater mentiras em linguagem simples e fácil de entender.

Mas descobri problemas rapidamente. Às vezes, as postagens que identifiquei para notas não eram aceitas porque eram escritas por contas fora dos EUA (que são excluídas do programa inicial da Meta) ou tinham outros problemas técnicos. Vi notas sugeridas por outros que eram de baixa qualidade, algumas com mais opiniões do que fatos, ou que tinham como fonte "pesquise no Google".

O maior desafio tem sido conseguir impacto. Comecei a contribuir em abril, e até o início de julho nada do que eu havia proposto tinha sido publicado. Apenas uma nota que eu havia classificado como útil, escrita por outra pessoa, havia sido publicada.

A Meta diz que não está selecionando quais notas são publicadas. Usa um "algoritmo de ponte" para tentar determinar quais notas são realmente úteis, em oposição a apenas populares. Esta fórmula requer que colaboradores que discordaram entre si em notas anteriores concordem que uma nova nota é útil.

Em teoria, isso é uma coisa boa. Você não quer publicar notas que contenham falsidades ou sejam simplesmente ataques a pessoas ou ideias específicas.

No entanto, o consenso é difícil de encontrar. Notas que não consegui publicar incluíam fatos que não deveriam estar em debate, incluindo a identificação de deepfakes de IA. Este sistema também não evita problemas como, por exemplo, mentiras em notícias urgentes e conspirações que se disseminam rapidamente. (A Meta ainda remove algumas falsidades diretamente, mas só em casos muito específicos quando podem levar a danos físicos ou interferir nas eleições.)