terça-feira, 3 de setembro de 2024

Preocupação com custos de moradia atinge recorde em países ricos, FSP

 Valentina Romei

Sam Fleming
Londres | Financial Times

Insatisfação com os custos de moradia atingiu um recorde em países ricos, superando outras preocupações como saúde e educação.

Metade dos entrevistados em nações da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) está insatisfeita com a disponibilidade de moradias acessíveis, de acordo com dados da Gallup Analytics, um aumento acentuado desde que os bancos centrais aumentaram as taxas de juros para lidar com a pior onda de inflação em uma geração.

A imagem mostra um edifício em processo de demolição, com parte da estrutura já derrubada. No primeiro plano, duas mulheres estão atravessando a rua, enquanto um ciclista passa ao lado. Ao fundo, uma máquina de demolição está operando, e há uma área cercada com cones de sinalização. O céu está claro e ensolarado.
Pedestres caminham em rua de Guernica, na Espanha - Vincent West/Reuters

Enquanto as taxas mais altas ajudaram a reduzir os preços das propriedades em vários países europeus, a moradia continua mais cara do que antes da pandemia —mesmo antes de considerar os custos mais altos de empréstimos.

Nos EUA, os preços das casas dispararam apesar dos aumentos nas taxas de juros. Quase 60% dos entrevistados na maior economia do mundo disseram estar insatisfeitos com o estoque de moradias acessíveis.

Enquanto isso, os aluguéis dispararam em um momento em que os preços mais altos de outros itens essenciais, como alimentos e combustível, têm reduzido a renda disponível.

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Pesquisadores culpam em parte a falta de construção de novas casas pela crise de acessibilidade.

"Basicamente não construímos o suficiente", disse Willem Adema, economista sênior da divisão de políticas sociais da OCDE, acrescentando que os construtores muitas vezes visam os lares mais ricos, exacerbando a pressão sobre aqueles com rendas mais baixas.

Andrew Wishart, analista da Capital Economics, disse: "As tendências populacionais podem mudar muito mais rápido do que você pode mudar o fornecimento de moradias."

A insatisfação com a moradia está prevista para desempenhar um papel importante nas eleições deste ano, especialmente nos EUA, onde os eleitores vão às urnas em novembro.

O preço médio das casas agora está quase 38% mais alto do que quando o presidente dos EUA, Joe Biden, assumiu o cargo em janeiro de 2021, de acordo com o índice Case-Shiller.

Pesquisa do Joint Center for Housing Studies da Universidade de Harvard mostrou que o pagamento mensal de moradia em uma casa de preço mediano com um empréstimo de baixo depósito, como preferido pelos compradores de primeira viagem, agora é de US$ 3.096 (R$ 17,5 mil) — em comparação com cerca de US$ 2.000 em janeiro de 2021.

Enquanto isso, muitos proprietários existentes garantiram hipotecas de 30 anos a taxas ultrabaixas e, como um todo, estão pagando menos no serviço da dívida como porcentagem da renda do que em qualquer momento desde 1980, de acordo com Harvard.

Os dados da Gallup, com base em respostas de mais de 37 mil pessoas nos 37 países que compõem o clube de estados ricos da OCDE, mostram que a insatisfação com a acessibilidade da moradia é maior entre os menores de 30 anos e aqueles com idades entre 30 e 49 anos, muitos dos quais podem estar tentando adquirir uma propriedade. Cerca de 44% dos maiores de 50 anos estavam insatisfeitos com a habitação nos países da OCDE, mas a proporção subiu para 55% para os menores de 30 anos e 56% para aqueles com idades entre 30 e 49.

Na Inglaterra, os preços das casas agora são oito vezes o salário anual médio, de acordo com estatísticas oficiais. Isso é mais do que o dobro da proporção vista quando o último governo trabalhista assumiu o cargo em 1997. O número de domicílios vivendo em acomodações temporárias na Inglaterra também está em um nível recorde.

Aproximadamente 30% da população em países ricos estava insatisfeita com o sistema de saúde, educação e transporte público. A infelicidade com o padrão de vida aumentou em 2023, mas apenas ligeiramente, subindo de 24 para 25%.

A Pesquisa Mundial Gallup é compilada anualmente, com a pesquisa de 2023 baseada em respostas de 145.702 pessoas em 142 países e ponderada de acordo com a população. Os entrevistados são questionados sobre uma série de questões socioeconômicas e políticas.

Alguns países onde os dados de 2024 já estão disponíveis mostraram um aumento adicional na insatisfação com a habitação este ano. Na Alemanha, a parcela daqueles insatisfeitos com a disponibilidade de habitação acessível subiu para um novo recorde de 46%, acima dos 42% em 2023 e mais do que o dobro dos níveis até 2012. Na Espanha, a parcela daqueles insatisfeitos com a habitação subiu para 62% em 2024, o mais alto desde a crise financeira.

Economia tem melhor triênio desde 2013 e mal sabemos o motivo da melhora, VTF _FSP

 O crescimento da economia em um trimestre não era tão rápido desde 2013. Quem der uma olhada na tabela do IBGE pode dizer que o ritmo era mais rápido no segundo semestre de 2020. Mas isso é ilusão de ótica. A economia apenas se recuperava da paralisação provocada pela Covid-19.

É possível que o PIB (Produto Interno Bruto) deste 2024 cresça tanto quanto em 2013: 3%. Se for assim, o país terá tido também o melhor triênio desde o começo da Grande Recessão (2014-2016).

A imagem mostra o interior de um supermercado, com várias pessoas em fila nos caixas. Algumas pessoas estão empurrando carrinhos de compras, enquanto outras estão organizando suas compras nas esteiras. O ambiente é iluminado, com prateleiras visíveis ao fundo e sinalização suspensa indicando os caixas. Há uma variedade de produtos visíveis nas prateleiras e no chão.
Crescimento econômico no segundo trimestre é de 1,4%, aponta IBGE - Rivaldo Gomes/Folhapress

Nada disso estava nos prognósticos dos economistas. O crescimento do segundo trimestre deste 2024 foi muito maior do que o previsto. O crescimento de 2022 (3%) e 2023 (2,9%) foi escandalosamente maior do que o previsto (0,36% e 0,8%, respectivamente, ao final do ano anterior). Os erros vêm desde 2020. Mas, por causa da desordem da epidemia, é possível dar um desconto para as bolas foras de 2020 e 2021.

E daí? O IBGE não faz as contas do PIB para avaliarmos o "reality show" das previsões dos economistas. No entanto, três ou quatro anos de prognósticos tão errados sugerem que entendemos mal o que se passa na atividade econômica. Se o entendimento é precário, os diagnósticos de problemas também devem estar mais imprecisos.

Antes de prosseguir, diga-se que não está acontecendo milagre, mas o fim de uma depressão (2014-2022). Além do mais, em teoria, há indícios de que esses anos melhores de crescimento teriam limites.

Por exemplo, a taxa de investimento estava em 16,8% no segundo trimestre desde ano. Taxa de investimento: fatia dos recursos do PIB, da renda nacional, destinada à construção de moradias, infraestrutura, instalações produtivas, à compra de máquinas, equipamentos, softwares etc. Isto é, ao aumento da capacidade da economia de produzir mais bens e serviços.

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Desde o ano 2000, essa taxa de 16,8% apenas não é menor do que a registrada nos anos do fim da Grande Recessão e antes da epidemia. Investimento baixo (oferta insuficiente) tende a resultar em alguma inflação ou também em déficit externo crescente (comprar mais no exterior aquilo que consumimos). Haveria ruído na medida do investimento? Ou o investimento seria agora mais eficiente?

taxa de desemprego está em 6,8%. Estaria tão baixa que poderia começar a provocar alguma inflação devida à alta de salários (por suposta escassez de mão de obra). A massa salarial (soma de todos os rendimentos do trabalho) está crescendo ao ritmo impressionante de 8% ao ano, em termos reais, já descontada a inflação. O salário médio cresce a uns 5% ao ano, ritmo maior do que o do final dos anos da bonança de commodities e crescimento (2012, 2013).

Há INDÍCIOS de que a alta de salários possa estar começando a bater na inflação. Mas já se previu que haveria problemas quando a taxa de desemprego estava em 8%. Salário e emprego crescem muito além das previsões faz anos.

Quais as mudanças recentes mais visíveis na economia? O petróleo. Avanço ainda maior do agro. Reformas microeconômicas desde 2017, de efeito difícil de medir. As medidas de produtividade média não indicam melhora. Isto é, potencial de crescer mais. Estariam também (mais) erradas?

Não dá para explicar as "surpresas" pelo aumento real do gasto público (13% ao ano até junho desde 2024), do agro, do petróleo. Isso tudo é estatística sabida. Mas, talvez por causa desses fatores, algo esteja acontecendo no miolo mais opaco da economia. Francamente, sabe-se lá o quê.

Enfim, é possível que períodos de gasto público muito acelerado (como agora) e/ou pouco eficiente terminem em contrações econômicas ruins (esse foi um dos fatores da Grande Recessão). Mas não é disso de que se trata aqui, do futuro, mas do passado recente.

No futuro imediato, em tese haveria uma desaceleração. As taxas de juros de mercado subiram, a Selic não vai cair tão cedo (se não subir um tanto). O gasto público vai crescer menos no ano que vem. Gasto das famílias, comércio, serviços já deram uma desacelerada —pontual?

O que se sabe é que a economia está no melhor ritmo trienal de crescimento desde 2013, 11 anos, e não soubemos nem o motivo disso nem quanto tempo a melhora vai durar.


Novo corregedor toma posse com presença de Lula e destaca imparcialidade de juiz, FSP

Brasília

O novo corregedor Nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell, tomou posse nesta terça-feira (3) destacando que um juiz "deve ser sereno, viver honestamente e atuar com isenção e imparcialidade". A cerimônia no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) teve a presença do presidente Lula (PT).

Campbell, que atua no STJ (Superior Tribunal de Justiça), também destacou a importância de um magistrado residir no local onde atua para conhecer a realidade da população e adotar medidas voltadas aos serviços de saúde, educação, moradia e segurança à altura de sua necessidade.

"Em razão do meu permanente compromisso com a prestação de uma Justiça célere e de sólida e perene qualidade, sempre residi no local para onde fui designado atuar, procurando sempre conhecer a realidade social da comunidade onde servi", disse.

Ministro Mauro Campbell Marques, do STJ

O corregedor também disse reconhecer a existência de pautas remuneratórias da magistratura que precisam ser equacionadas "como forma de conter a perda de bons quadros".

Porém, afirmou que isso passa pela compreensão do papel que exerce um juiz para a comunidade, que deve ser aliada na busca de condições remuneratórias compatíveis com as vedações que os magistrados possuem.

"Essa equação precisa ter por primeiro algoritmo a conscientização de todos nós, magistradas e magistrados, para voltarmos a estar nas escolas, hospitais, penitenciárias, beiradões, caatinga, serrado, pampas, vivendo e convivendo com os problemas da nossa comunidade. Só assim agregaremos ao já elevado grau de confiança e de respeito que temos", afirmou.

Além disso, defendeu políticas públicas para ações voltadas à proteção, precaução e à recomposição dos biomas nacionais, priorizando decisões e julgamentos onde tais temas "estejam gritando fundo em nossas consciências".

O ministro afirmou ainda que o Judiciário deve dedicar atenção para que ações judiciais que visem resguardar ou reparar os direitos dos povos originários tenham mais celeridade e produzam políticas públicas inclusivas mais sólidas.

Indicado para o cargo pelo STJ em 23 de abril, Campbell foi sabatinado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e aprovado por unanimidade. Sua nomeação foi assinada por Lula em 31 de julho. Ele entrou no cargo em substituição do ministro Luis Felipe Salomão para o biênio 2024/2026.

A Corregedoria Nacional de Justiça tem como função receber e processar reclamações e denúncias de qualquer pessoa ou entidade, com interesse legítimo, relativas aos magistrados.

Também é responsável pela orientação, coordenação e execução de políticas públicas voltadas ao bom desempenho da atividade judiciária dos tribunais e juízos e dos serviços extrajudiciais do país.

Mauro Luiz Campbell Marques é graduado em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário Metodista Bennett no Rio de Janeiro. Ele atua como ministro do STJ desde 2008, em vaga destinada ao Ministério Público.

Ele ingressou no Ministério Público do Amazonas em 1987. Antes, foi advogado e assessor do Tribunal de Contas do estado.