domingo, 28 de julho de 2024

Elio Gaspari As coisas vão mal no ministério de Lewandowski. FSP

 O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou mais um grande plano para a segurança pública. Mais um.

Para quem acompanha o funcionamento de sua pasta, faria melhor se organizasse sua tropa. Lá, as coisas vão mal, começando pela desordem das agendas, que submetem visitantes (até ilustres) a constrangedores chás de cadeira.

Homem branco com cabelo branco e expressão séria. Ele usa terno preto, gravata vermelha e camisa social branca
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski durante cerimônia no Palácio do Planalto - Evaristo Sa - 17.jun.24/AFP

Os hierarcas de Brasília acham que mandam. Deveriam guardar na memória um acontecimento de 1966. Num choque do presidente Castelo Branco com Adauto Lúcio Cardoso, presidente da Câmara dos Deputados, o marechal resolveu fechá-la.

Para esvaziar o prédio, decidiram cortar-lhe a energia. À hora em que a luz seria cortada, pelo menos dois poderosos foram para a janela do Planalto para ver a cena.

Apagaram-se as luzes do Planalto.

BOLSONARO IMUTÁVEL

Jair Bolsonaro não muda. Descobriu uma maneira de implicar com a senadora Tereza Cristina a partir de uma questão municipal de Campo Grande (MS).

BUSCETTA E PASQUINO

No século passado a temida polícia do delegado Sérgio Fleury interrogou o mafioso italiano Tommaso Buscetta à sua maneira e dele nada arrancou. Isso se deveu em parte à omertà do mafioso e também ao fato de que ele não operava com a bandidagem brasileira.

Anos depois, Buscetta fez acordos com o Ministério Público italiano e com a polícia americana, detonando a Máfia.

O caso de Vincenzo Pasquino é inverso, o mafioso tinha conexões e negócios com as quadrilhas do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho.

Se a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal se organizarem direito, ele poderá entregar as conexões do crime organizado brasileiro com pedaços do andar de cima.

Em tempo, assim como fizeram no caso da vereadora Marielle Franco, os maganos já estão trabalhando para embaralhar as investigações.

Elio Gaspari -Festa de Paris será de todos, FSP

 27.jul.2024 às 23h00

Na sexta-feira as delegações de 204 países desceram pelo rio Sena. Melhor que isso, só se em 1840 os restos mortais de Napoleão tivessem chegado de barco. Ele vinha da ilha de Santa Helena, onde havia morrido em 1821 como prisioneiro dos ingleses.

Coisas ruins acontecem em todos os países do mundo, mas os franceses dão a volta por cima como nenhum outro.

As Olimpíadas de Paris poderiam ensinar ao mundo a gostar (e cuidar) de suas cidades. Só os franceses são capazes de ter um Arco do Triunfo para um general corso derrotado.

Torre Eiffel vista de longe
A Torre Eiffel vista da ponte dos Invalides, com arquibancadas na frente, na véspera da cerimônia de abertura dos Jogos olímpicos - Mathilde Missioneiro - 25.jul.24/Folhapress

As Olimpíadas de Paris têm tudo para ser um grande espetáculo. Graças a elas, revitaliza-se o bairro de Saint-Denis, assim como Londres ressuscitou uma parte degradada da cidade. Era como se fizessem parte das competições em São Gonçalo. (O Rio fez as Olimpíadas na Barra da Tijuca e deu no que deu.)

Os franceses amam Paris e desse amor resultou também a paixão do mundo pela cidade. Em 2024 todo mundo gosta da Torre Eiffel. Em 1887, quando seu projeto foi anunciado, os escritores Alexandre Dumas e Guy de Maupassant, mais o pintor Ernest Meissonier (autor da inspiração do "Grito do Ipiranga", de Pedro Américo), assinaram uma petição condenando-o. Chamavam-na de "Torre de Babel".

A bandeira da França foi hasteada na torre em março de 1889. Semanas depois nasceu Adolf Hitler, que teve a sua suástica hasteada em 1940 e em junho visitou-a.

Quatro anos depois, no dia 25 de agosto, as tropas aliadas retomaram a cidade. No dia seguinte, o general De Gaulle subiu heroicamente a avenida dos Campos Elíseos. (Nos escalões avançados não havia soldados negros.)

Londres saiu maior das Olimpíadas e tudo indica que com Paris acontecerá o mesmo. De Barcelona, nem se fale.

O Rio saiu igual, com um espeto de bilhões de reais. É melhor fazer de conta que aquelas Olimpíadas não aconteceram.

QUESTÃO DE ESTILO 1

A França usou as Olimpíadas para divulgar suas marcas, como a Louis Vuitton. O Comitê Olímpico Brasileiro contratou um uniforme para os atletas no escurinho da cartolagem.

Como bem definiu Joanna Moura, "formam um conjunto desatualizado, com um design não apenas conservador como preguiçoso."

Algumas jaquetas parecem peças de Maria Bonita, a mulher do cangaceiro Lampião.

É uma questão de estilo. No século 19, Louis Vuitton fornecia as malas da imperatriz Eugênia, mulher de Napoleão 3º. Até aí, era mais um fornecedor.

Louis Vuitton ia além. Quando ela precisava, ele ia ao palácio e arrumava as malas da senhora.

QUESTÃO DE ESTILO 2

Ruy Castro informa:

A casa do Rio de Carmen Miranda, na travessa do Comércio, está desabando. O telhado já se foi.

A casa em que na infância viveu a cantora Édith Piaf de 1917 a 1923 está em melhor estado que o Palácio da Alvorada.