sexta-feira, 26 de julho de 2024

Hotel Jaraguá estreia tour guiado com vista panorâmica da cidade, FSP

 Douglas Nascimento

São Paulo (SP)

Até alguns anos atrás fazer turismo em São Paulo era uma atividade que estava temporariamente fadada ao solo da cidade. Os principais mirantes panorâmicos, no edifício Altino Arantes (atual Farol Santander) e no edifício Martinelli estavam fechados. De 2021 para cá novos espaços na região central foram sendo inaugurados e outros, antigos, reabertos. Eis que agora um novo tour guiado surge com a premissa de levar os visitantes a uma vista totalmente inédita da cidade.

vista de drone de edifício
Vista de drone do Hotel Jaraguá, fundado em 1954 e localizado no centro histórico de São Paulo - Divulgação

Tradicional hotel paulistano, inaugurado em 1954, o Hotel Jaraguá, recentemente adquirido pela rede brasileira de hotéis Nacional Inn, está promovendo visitas guiadas diárias, disponível tanto para os hóspedes quanto para qualquer visitante, para conhecer as dependências do hotel que é tombado como patrimônio histórico pelas esferas estadual e municipal, e possui diversas obras relevantes em suas dependências.

A visita guiada se inicia pela parte exterior do hotel precisamente diante do famoso mural de Di Cavalcanti, que é uma alegoria à imprensa, uma vez que o edifício entre 1951 e 1976 também foi sede do jornal O Estado de S.Paulo. Outra obra histórica que o tour contempla é o painel de Clóvis Graciano, este por sua vez instalado no interior do hotel, junto ao saguão.

Além dessas obras icônicas o tour segue no interior do hotel, por diversas outras dependências até chegar à cereja do bolo, a cobertura do edifício, no 26º andar, onde é possível contemplar a cidade de São Paulo em uma vista inédita de 360º, fora do eixo visual já conhecido dos mirantes do Sampa Sky, Farol Santander e Martinelli.

Da cobertura é possível observar a biblioteca Mário de Andrade de um ângulo único, bem como conhecidos marcos turísticos e arquitetônicos da cidade como a Catedral da Sé, o Copan, a avenida Paulista, o pico do Jaraguá e o incrível skyline de edifícios que cerca o hotel. O horário da visita, a partir das 17h, também permite contemplar um romântico por do sol, tomando um espumante oferecido pelo hotel e que está incluso no valor da visita.

Serviço:

Visita guiada
Local: Hotel Nacional Inn Jaraguá
Endereço: Rua Martins Fontes, 71 - Centro Histórico de São Paulo
Período: diariamente, das 17h às 18h.
Ingresso: R$ 50
Agendamentos somente pelo telefone/WhatsApp (11) 2199-0608

HOTEL É UM DOS SÍMBOLOS DO IV CENTENÁRIO DE SÃO PAULO

Inaugurado em 1954, ano em que a cidade de São Paulo celebrou 400 anos, o Hotel Jaraguá foi um dos beneficiados à época de um incentivo proposto pela Prefeitura de São Paulo, que dava isenção fiscal por um período, a hotéis que fossem inaugurados durante as celebrações do aniversário da capital.

hotel
Hotel Jaraguá em fotografia de 1959, época em que o edifício era dividido em o hotel e o jornal O Estado de S.Paulo - Foto Postal Colombo

Nesta esteira também foram inaugurados outros espaços hoteleiros marcantes da cidade como os hotéis Cad’Oro e Othon Palace, entretanto o Jaraguá foi o grande destaque por sua localização privilegiada e arquitetura diferenciada. Seu projeto é do célebre arquiteto franco-brasileiro Jacques Pilon, o mesmo que projetou a Biblioteca Mário de Andrade que, coincidentemente, está localizado bem em frente do hotel.

Originalmente o edifício Jaraguá foi projetado para ser a sede do Grupo Estado do 1º ao 8º andar e os demais andares, do 9º ao 23º, para locação de escritórios. No entanto o experiente hoteleiro José Tjurs interessou pelo espaço e, motivado pelo incentivo da prefeitura, fez ali o Hotel Jaraguá.

Em sua trajetória de 7 décadas o Jaraguá já recebeu hóspedes ilustres do Brasil e do exterior, como Juscelino Kubitschek, Raul Seixas, Édith Piaf, Louis Armstrong, Robert Kennedy, Brigitte Bardot, Iuri Gagarin e tantos outros. Em 1968 a rainha Elizabeth, durante sua visita à capital paulista, esteve no hotel para uma tarde de chá.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

O que é o 'aristopopulismo' proposto por guru de vice de Trump, Marcos Augusto Gonçalves, FSP

 Amigo e espécie de guru de J.D. Vance, indicado por Trump para concorrer como vice-presidente, o professor católico Patrick Deneen lançou em 2018 o livro "Por que o Liberalismo Fracassou" (Âyiné). Entre elogios e críticas, a obra obteve boa acolhida nos meios acadêmicos e na mídia, com direito a uma recomendação do ex-presidente Barack Obama, que destacou seu interesse para o entendimento dos atuais dilemas da democracia liberal.

No ano passado, Deneen, que dá aula na Universidade de Notre Dame, publicou uma continuação propositiva do livro. Intitula-se "Regime Change: Toward a Postliberal Future" (Mudança de regime: rumo a um futuro pós-liberal).

Na nova empreitada, ele defende que a conturbada aparição do populismo na cena política abre caminho para uma mudança maior e mais profunda. Nos EUA, o movimento teria sido, em seu entendimento, uma reação à crise de governos e elites liberais, que estariam experimentando seu ocaso inelutável.

A imagem mostra J.D. Vance, um homem em pé atrás de um púlpito, gesticulando enquanto fala. Ele está vestido com uma camisa branca e um paletó escuro, com uma gravata vermelha. À sua esquerda, Donald Trump, um homem com cabelo loiro e terno escuro observa. Ao fundo, há bandeiras dos Estados Unidos penduradas.
O candidato à Vice-Presidência dos Estados Unidos, J.D. Vance, em discurso ao lado de Donald Trump, candidato à Presidência, em Ohio - Gaelen Morse - 17.set.22/Reuters

Na perspectiva de Deneen, o liberalismo é uma vertente ideológica situada num período histórico e não o sistema final da evolução política –o que se poderia equivocadamente inferir da longevidade em relação aos grandes rivais do século 20, o socialismo e o fascismo.

O professor sustenta que na era pós-liberal, que estaria batendo à porta, seria preciso substituir a atual classe dirigente por uma aristocracia comprometida com os interesses dos "muitos", num sistema de "governo misto", de solidariedade de classes, capaz de reconectar laços comunitários, familiares e religiosos, além do sentido de nação.

Esse "aristopopulismo" ou "conservadorismo do bem comum", como Deneen classifica o novo regime, pressupõe a adesão, como protagonista, da classe trabalhadora, cujas aspirações teriam sido abandonadas tanto pelas elites liberais tradicionais quanto pelas pós-modernas progressistas.

No fundo, ambas, à direita ou à esquerda, compartilhariam o mesmo temor pelo povo, e por isso mesmo sempre tentaram impedir que uma força popular autônoma se lançasse na disputa pelo poder com um partido de tipo trabalhista. Uma das propostas do professor, aliás, é justamente a criação desse partido, multicultural e multirracial, da classe trabalhadora.

O esgotamento do liberalismo seria, portanto, decorrência de falhas das duas alas. Na clássica, as dificuldades residiriam nas promessas de igualdade de direitos em contraste com uma realidade econômica instável e iníqua, na qual a noção de individualismo meritocrático e a divisão das pessoas entre vencedores e perdedores seriam fontes para o acúmulo de frustrações e ressentimentos.

As coisas não seriam melhores no outro campo, que passou a privilegiar questões de raça e gênero em sua agenda de luta por direitos e liberdades. Nos dois lados, a proeminência da ideia de progresso como promessa de um futuro melhor se revelaria, na prática, um fator permanente de desestabilização e perda de referências.

O aristopopulismo de Deneen mescla traços de propostas que poderiam ser vistas como de esquerda com o ideário político, cultural e moral conservador, no qual religião, família, redes comunitárias e nação são fundamentais.

O que o livro não explica, como críticos já apontaram, é de que maneira tudo isso poderia ser feito.

Caso Trump e seu possível herdeiro, o senador J.D. Vance, venham a triunfar na eleição, quem sabe surja alguma pista. Esperemos que não.