domingo, 12 de novembro de 2023

Um passo gigante para a transparência tributária, Samuel Pessôa, FSP

 

Senado aprovou em segundo turno, na última quarta-feira, o projeto de emenda constitucional (EC) que unifica os cinco impostos indiretos —ISS, ICMS, PIS/Cofins e IPI— em um IVA compartilhado entre os municípios, estados e a União e em um imposto seletivo que incidirá sobre itens que fazem mal à saúde e ao ambiente, além de armamentos e munição para uso civil.

O IVA desdobra-se em dois: na CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), da União, e no IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), compartilhado entre os municípios e os estados. Como o fato gerador, a base de tributação e os regimes tributários serão os mesmos, eles funcionam como um único imposto.

Elaborei com mais detalhe diversos aspectos da Reforma Tributária em um texto nesta Folha em 5 de julho passado.

A imagem mostra três homens em pé conversando; dois deles aparecem de costas e um de frente.
Senador Davi Alcolumbre; o relator Eduardo Braga e Marcos do Val em sessão do plenário que votou a reforma - Marcos Oliveira/Agência Senado

Há 29 itens que ficaram com alíquota reduzida ou em um regime tributário próprio a ser definido por meio de lei complementar. Além dos mais óbvios —educação e saúde privadas e cesta básica itens como turismo, transporte coletivo, inclusive interestadual, produção artística e científica, clubes de futebol, e insumos de limpeza entraram em algum regime especial.

Vimos agir a lógica da ação coletiva de Mancur Olson. Grupos pequenos e organizados são bem-sucedidos em convencer o Congresso Nacional a aprovar medidas que os beneficiam, à revelia do interesse coletivo. Todos nós teremos de pagar uma alíquota maior para financiar os bens com alíquotas reduzidas. Já aqueles em regime especial não terão tributação sobre o valor agregado, e manterão todas as características ruins de uma tributação cumulativa, como a que ocorre hoje.

Apesar desses desvios, há grande simplificação, e o outro ganho da nova legislação é a transparência. A reforma tornará o custo do Estado brasileiro transparente para a sociedade. Penso que esta explicitação estimulará políticas que elevem a eficiência do gasto público. Deve ser, em associação com os ganhos de eficiência econômica, o grande legado positivo em longo prazo da reforma: ela promove a cidadania tributária.

Além da maior simplicidade, os ganhos de transparência ocorrem porque os setores contemplados pelos regimes especiais estão claramente explicitados na Constituição Federal.

PUBLICIDADE

Há na EC aprovada dispositivo de revisão das exceções acolhido pelo relator, senador do MDB do Amazonas, Eduardo Braga, por sugestão do TCU (Tribunal de Contas da União). Foi um grande passo para que nós criemos a prática de avaliação permanente das políticas públicas. Segundo o texto da EC, "os regimes diferenciados de que tratam este artigo serão submetidos a avaliação quinquenal de custo-benefício, podendo a lei fixar regime de transição para a alíquota padrão".

A reforma estabeleceu um FNDR (Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional) para compensar os estados por perderem o instrumento da guerra fiscal para atrair investimento. O fundo cresce em valor ano a ano até que, em 2043, o Tesouro transferirá anualmente e permanentemente ao FNDR valores a preços de hoje de R$ 60 bilhões.

O critério de repartição dos recursos será de 70% do FPE (Fundo de Participação dos Estados) e 30% em função da população. Esses critérios concentram muitos recursos nos estados pequenos na região Norte. Meus colegas Marcos Mendes e Sérgio Gobetti sugerem uma regra mais equitativa.

Essa é uma reforma que se discute há quase quatro décadas. Houve muito acúmulo para chegarmos até aqui. Vale lembrar que a PEC 45 foi aprovada na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara em 2019. Aos trancos e barrancos, e com muita lentidão, vamos andando para a frente. Temos motivos para comemorar.


Condenação de Paulinho da Força retorna à pauta do STF, FSP

 Interrompido em junho passado após um pedido de vista (mais tempo para analisar o caso), o julgamento de recurso de Paulinho da Força, do Solidariedade, contra a condenação imposta a ele pela Primeira Turma da corte em 2020 foi retomado nesta sexta (10). Ele foi condenado a 10 anos e 2 meses de prisão por irregularidades envolvendo verbas do BNDES.

A análise ocorre no plenário virtual (votos inseridos em sistema eletrônico do tribunal) e prossegue até o próximo dia 20.

Ex-deputado federal Paulinho da Força recorreu de condenação no STF - Folhapress

Nos últimos dias, o TSE cassou mandato do deputado federal Marcelo de Lima Fernandes (PSB-SP), abrindo caminho para que Paulinho, suplente nas últimas eleições, retorne à Câmara dos Deputados.

Lula nomeia três novos ministros do STJ - FSP

 O presidente Lula (PT) nomeou a advogada Daniela Teixeira e os juízes federais de segunda instância Afrânio Vilela e Teodoro Silva Santos para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Os três foram aprovados pelo Senado no fim de outubro — agora, o mandatário cumpriu a etapa burocrática final para eles serem empossados no cargo.

Daniela Teixeira deve julgar processos da Lava Jato
Advogada Daniela Teixeira, durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado - Roque de Sá/Agência Senado

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegou a suspender temporariamente o envio ao Palácio do Planalto da indicação da advogada Daniela Teixeira para a vaga no STJ e determinar a instalação de uma sindicância para apurar queixas de beneficiamento ao ter apenas seu nome encaminhado antes ao governo para publicação no Diário Oficial da União.

Ao final, porém, os três nomes foram encaminhados, o que permitiu a nomeação por Lula.