Antonio Prata, na sua coluna "Beach tennis decolonial", deu um belo saque ao tocar num assunto que me intrigava há tempos e sobre o qual eu me controlava para escrever.
Agora me encorajo a fazê-lo, pois entendo que a questão, de fato, existe. Não tenho lugar de fala, nunca joguei beach tennis e sequer assisti a uma partida.
Corro o risco de levar raquetadas dos apaixonados praticantes do esporte, mas devo dizer que resisto à ideia. Não gosto do nome, não pelo anglicanismo, mas pela imprecisão: não se trata nem de beach nem de tênis.
Além disso, pisar numa areia em plena marginal Pinheiros, para mim, não cola. Areia boa é aquela que gruda nos pés. Pode ser frescura minha, mas também não vou com a cara das raquetes de carbono, da bolinha murcha, das cores cítricas, das comemorações efusivas que cada ponto provoca.
E mesmo não conhecendo as regras do jogo, já desconfio delas assim como desconfio de melancia sem caroço, com tanta mistura de regras adaptadas de outros esportes.
O beach tennis não é só um esporte e já se provou não ser uma moda passageira. Beach tennis virou uma identidade, uma causa, uma religião, um ato político.
Tenho amigas empolgadíssimas com as nouveaux amis do beach tennis, que organizam viagens com "o pessoal do beach tennis", formaram uma turma de "casais beach tenistas" e até participam de uma tal confraria de beach tennis.
A paixão é tão grande, que em nome dela pode-se tudo. As mães que antes eram as mais controladoras, hoje largam os filhos em casa sem nenhuma culpa, com a escusa de que voltarão mais dispostas no after beach, preferencialmente quando eles já estiverem dormindo.
Até as mais ciumentas liberam os maridos a sair todas as noites de casa, mesmo para jogar poker, desde que seja com os friends do beach tennis, os únicos confiáveis, diferente dos amigos da pelada, que só pensam naquilo.
Apesar de todas essas maravilhas, insisto na natação, que pratico sozinha e silenciosamente, o que é quase o oposto de jogar beach tennis. E não desisti das raquetes.
Quando estou na areia (do mar) fico feliz com duas raquetes de madeira, uma bolinha e um parceiro que aguente as minhas furadas, para brincar de frescobol na beira do mar. Amadora que sou "do" e "no" esporte, prefiro brincar a jogar e me divirto mais jogando "com" do que "contra".
Meus amigos ainda não desistiram de me persuadir. Fico até tentada, mas tenho medo de me apaixonar. Porque, a gente sabe, se apaixonar dá trabalho.
Minha vida está tranquila, a conta está fechando, já sei lidar com as velhas conhecidas dores do joelho. Vai que eu me encante de verdade, vou ter que adaptar a uma nova rotina e estar disposta a encarar novas dores.
Já me acostumei às minhas e, na idade em que estou, tenho preguiça para recomeços. Talvez isso explique a minha birra, talvez ela seja justamente uma defesa a esse charmoso sedutor, porque sei que a carne aqui é fraca.
Ademais, sou possessiva demais, não sei dividir minhas paixões com outras pessoas, muito menos com uma comunidade. Quando eu nado, a raia é minha e de mais ninguém.
Quem sabe um dia eu evolua, seja mais democrática e me renda aos encantos do beach tennis.
Por ora, fico com a piscina e o marido só para mim, sem alvará de soltura, nem para peladas nem para beach tennis.