sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

TIRSO DE SALLES MEIRELLES Segurança e paz no campo são prioridades nacionais, FSP

 Tirso de Salles Meirelles

Vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)

A meta anunciada pelo novo governo de garantir a segurança alimentar dos brasileiros passa pelo fomento do agronegócio. Felizmente, o setor tem demonstrado sua elevada capacidade de responder ao desafio.

Não foi sem razão que, em sua posse, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, elogiou seus antecessores, inclusive os que ocuparam o cargo no governo Bolsonaro, lembrando que, nos últimos 20 anos, o país saltou de uma produção de 90 milhões de toneladas de grãos para mais de 300 milhões atualmente. Também enalteceu a importância do diálogo e sinergia com os produtores. Confirmou, assim, conhecer o setor.

O presidente Lula (PT) abraça o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) - Divulgação

Contudo, é preocupante a aparente falta de sintonia no olhar do atual governo para o meio rural. É o que se pôde inferir, por exemplo, na posse de Paulo Teixeira como ministro do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar, pasta agora criada. A presença de numerosos membros do MST e militantes de coletivos sugere que possam ter influência na gestão.

Aliás, "convite" nesse sentido lhes foi feito por Teixeira, ao dizer: "Venham para cima do ministério para que tudo possa acontecer". Mas esperamos que nada ocorra além da continuidade dos assentamentos, que estavam em curso no governo anterior, com a entrega de títulos de propriedade a agricultores familiares e a pessoas dispostas a trabalhar na terra. Tudo isso pode e deve ser feito de maneira ordeira e legal, com o uso de áreas devolutas.

Também cabe reiterar que a agropecuária nacional prima pela produção sustentável, ao contrário do que às vezes se propaga. Precisamos deixar isso claro a todos os responsáveis pelas políticas governamentais e ao mundo, pois no exterior há muito desconhecimento sobre a questão. Não basta o Brasil ser globalmente conhecido como potência do agro. É crucial o reconhecimento de que nossa produção é ambientalmente correta, pois isso agregará mais valor aos produtos.

As sinalizações positivas de políticas públicas corretas para o agro feitas pelo ministro Carlos Fávaro somente serão convertidas em realidade se houver equilíbrio na abordagem do setor, segurança física e jurídica no campo e intransigente respeito à propriedade particular, conforme consta da Constituição, bem como a coibição de invasões e depredações do patrimônio privado.

Qualquer retrocesso nesse cenário será muito nocivo para a agropecuária, o governo e, principalmente, a população brasileira, considerando a importância crescente da atividade para a economia, geração de milhões de empregos, renda e divisas de exportações.

Precisamos de convergência para a segurança alimentar, não de divisões ideológicas, que somente drenam a energia humana. É fundamental que os produtores rurais tenham tranquilidade e totais garantias para trabalhar. Esta é condição essencial para que continuem colhendo safras recordes, sendo protagonistas globais no segmento de carnes/proteínas/alimentos e no cultivo de commodities agrícolas. Assim, que prevaleça o bom senso no novo governo.

Opções para me mandar do Brasil, Ruy Castro,FSP

 Nos últimos quatro anos, asfixiado pela presença pestífera de Bolsonaro, pensei em me mandar do Brasil. O problema era para onde. Conheço uma quantidade de cidades lá fora e tenho amor por muitas, mas não gostaria de morar nelas. Quando adotamos um país estrangeiro, tendemos a nos envolver com seus problemas como se fôssemos cidadãos. É um erro. Um lugar, para ser perfeito, teria de ser imaginário.

Manuel Bandeira queria ir embora para Pasárgada, onde era amigo do rei. Dorival Caymmi, para Maracangalha, onde podia usar chapéu de palha. E Olavo Bilac exigia o Parnaso, o paraíso dos dodecassílabos entre as nuvens. Pensei em Xanadu, aquele reino no norte da Ásia, e em Shangri-la, nas montanhas do Tibete, mas temi morrer de velhice antes de aprender a língua. Cogitei também El Dorado, lugar mitológico da Amazônia onde, como tudo é de ouro —ruas, prédios, roupas—, o ouro não tem valor. Seus habitantes não fazem outra coisa senão se gabar da cozinha local. Tudo bem, mas quem quer almoçar cinco vezes por dia?

Sítio arqueológico de Pasárgada, cidade da antiga Pérsia, no Irã - Plakhov - stock.adobe.com

Para Camelot, não iria de jeito nenhum —nunca entendi essa fixação pelo rei Arthur. E muito menos para Atlântida, com sua fauna de escorpiões marinhos, enguias vermelhas venenosas e um animal meio sólido, meio gasoso, o "praxa", que se alimenta de olhos humanos.

Cheguei a considerar Metrópolis, a cidade do Super-Homem, e Gotham City, do Batman, mas não me empolguei. Ocorreram-me então Mu, a terra do Brucutu, Oz, famosa pelo filme, e até mesmo a avícola Patópolis. Em último caso, iria para qualquer lugar, desde que longe do manicômio em que o Brasil se tornara.

Mas o jogo, enfim, virou. Voltamos à vida real, com seus problemas e soluções. Vou ficar. Mesmo porque os lugares que citei são os que agora devemos evitar. Estão abarrotados de malucos perigosos que vivem numa realidade paralela e só acreditam no que querem acreditar.

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