quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Painéis solares transparentes podem ser as janelas do futuro - Além da Energia

 

Fonte: Além da Energia - 03.11.2022
Estados Unidos – A busca pelos edifícios net zero é uma possibilidade real com uma nova tendência de construção sustentável: o uso de painéis solares transparentes para substituir as janelas tradicionais com vidro. A informação é dos pesquisadores da Michigan State University (MSU), que desenvolveram um concentrador solar totalmente transparente em 2014. Com a tecnologia, quase toda folha de vidro ou janela poderia ser convertida em uma célula fotovoltaica.

Seis anos depois da iniciativa da MSU, cientistas nos Estados Unidos e na Europa alcançaram 100% de transparência para o vidro solar, abrindo a possibilidade de construir edifícios mais sustentáveis e, quem sabe, net zero. A tecnologia pode ainda transformar os usuários de energia em produtores.

Na prática, a energia solar transparente é uma tecnologia de ponta que capta e utiliza a energia luminosa por meio de janelas ou qualquer superfície de vidro, independentemente do ângulo. Tem o potencial de ser um divisor de águas em termos de ampliação do escopo da energia solar.

Em termos de engenharia, os pesquisadores criaram vários meios de tecnologia solar transparente. Em geral, porém, a maioria deles funciona mais como um concentrador solar transparente, o que significa que eles são feitos para absorver comprimentos de onda específicos de luz UV e infravermelha que não são visíveis a olho nu e transformá-los em energia capaz de alimentar eletrônicos.

Exemplos de uso de painéis solares transparentes

E há exemplos de aplicações reais, caso do projeto da Escola Internacional de Copenhague, que utiliza 12.000 painéis solares coloridos, mas claros, em todo o edifício. O resultado é uma produção de 200 MWh de energia anualmente, o que seria mais da metade da energia que o edifício consome.

Outra iniciativa é o Edifício de Ciências Biomédicas e Físicas, no campus da Michigan State University, que foi atualizado com a instalação de painéis de vidro solar transparente que estavam situados acima da entrada do edifício. Eles vão gerar eletricidade suficiente para alimentar a iluminação em seu átrio.

Entre os desafios, os especialistas apontam a necessidade de aumentar a eficiência, pois há uma troca de eficiência/transparência. Quanto mais transparente o painel, menos eficiente ele é, razão pela qual eles não substituem os painéis solares convencionais.

Promiscuidade judicial em Nova York, Conrado Hübner Mendes, FSP

 Durante a última década se firmou na cultura do Brasil-colônia uma prática cuja jequice vem pronta: encontros da elite econômica e magistocrática, em cidade estrangeira glamourosa, na presença somente de brasileiros, sob o pretexto de se discutir tema nacional. Fora do país fica suspensa a noção republicana de "conflito de interesses", que busca regular interações entre estado, mercado e funções institucionais.

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Fachada da sede do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília - Gabriela Biló - 3.mai.22/Folhapress

Para celebrar a Proclamação da República, seis ministros do STF (além de um ex-ministro e um ministro do TCU cotado a cadeira no STF) participarão da "Lide Brazil Conference", em Nova York. Como se sabe, o "Lide - Grupo de Líderes Empresariais", integrante do Grupo Doria, é empresa de João Doria dedicada a "fazer pontes" entre o mundo corporativo e o mundo público. Não precisa chamar de lobby se tiver apego ao eufemismo.

Alexandre de MoraesCármen LúciaDias ToffoliGilmar MendesLuís Roberto BarrosoRicardo Lewandowski, além de Carlos Ayres Brito e Bruno Dantas, sob e moderação de Merval Pereira, antecedidos pelo "opening speaker" Michel Temer, irão falar sobre o tema "O Brasil e o respeito à liberdade e à democracia". Para que não faltasse verniz acadêmico nem estrangeirismo, o "meeting" ocorre no "Harvard Club", espaço ligado à comunidade Harvard.

Tudo bem que a Proclamação da República, como evento histórico, não foi das coisas mais republicanas. Mas a data ao menos ecoa um ideal, entre outras coisas, de separar o público do privado, do decoro, da imparcialidade, do combate à falta de noção. Podiam pelo menos combinar data menos irônica.

O "Lide Brazil Conference", com a presença de ministros, é um obelisco do ethos antirrepublicano da magistocracia. Por múltiplas razões. Enumero seis para começar.

Primeiro, é evento empresarial. Patrocinado por gigantes das finanças, da construção civil e da celulose: Banco Master, Acciona, Binance, Bracell, CNseg, Cosan, Eletra, J&F, Febraban, JHSF, Bradesco, Coelho da Fonseca, Grupo Safra. Um "branding" plural.

Pesquise conexões dessas empresas com Bolsonaro, com PT, com centrão, com valores constitucionais, com STF, com ministros do STF. Tem muita coisa. Cada patrocinador tem interesses presentes e futuros no STF. Mas não é só isso. O evento emite sinal grave sobre indiferença ética.

Segundo, supondo que presença de um ministro já não ferisse princípios da ética judicial, não pega mal ter a presença de seis? Da maioria do colegiado? Um não era suficiente para falar "em nome" do STF? Há limite na disneylândia do patrimonialismo magistocrático?

Terceiro, escancara como a riqueza tem absoluto privilégio sobre a pobreza na pauta do STF. Se quiser entender como o STF trata a pobreza, conte as rejeições de habeas corpus em defesa de miseráveis. Ou como julga políticas públicas que atendem aos vulneráveis. Não houve ministro em encontro nacional da população de rua, semanas atrás em Maceió. Apenas Cármen Lúcia é aguardada no da defensoria, nessa semana em Goiânia. A riqueza o STF encontra em jantares em Nova York.

Quarto, juízes precisam proteger a corte, não jogar contra ela. Quanto mais permitem individualizar o tribunal, desinstitucionalizá-lo e identificá-lo a pessoas particulares, mais abrem espaço para o tipo de ataque desferido por Bolsonaro. Crise de legitimidade passa a depender de um peteleco. Fazem o jogo de Bolsonaro.

Quinto, quem paga as despesas? Se for o Lide, está errado. Se for o orçamento do STF, mais errado. Pagam do próprio bolso? Não resolveria. São remunerados? Se sim, temos um problema enorme. Se não, o problema enorme continua.

Sexto, uma dica: o "all-white-male panel" já não pega bem nem no Harvard Club nem na Harvard University. Nove homens brancos e uma mulher não fazem um ambiente inclusivo. Ideologia de gênero?

Não há corte constitucional respeitável no mundo que aceite conduta similar. Se quiserem um modelo, basta olhar para Edson Fachin e Rosa Weber, os que mais bem praticam esses parâmetros universais de ética judicial. Se a "fumaça do bom direito" depende da "fumaça do bom juiz", a presença no Lide Conference produz fumaça tóxica.

Na semana passada descrevi formas de Bolsonaro sair vitorioso após derrota eleitoral. Naturalizar a promiscuidade é uma dessas formas. Quem prefere ser chaveirinho do poder econômico se deslegitima perante os que questionam sua imparcialidade e sua autoridade.

Lide com isso.


Ruy Castro - O ódio começa em casa, FSP

 Há pouco, jovens enrolados em bandeiras do Brasil em São Miguel do Oeste (SC) puseram-se em formação e fizeram a saudação nazista. Há uma célula nazista na cidade, que produz panfletos e bandeiras com a suástica. Dias depois, alunos de uma unidade da UFSC picharam suásticas e frases contra judeus nos banheiros. E meninos de um colégio em Valinhos (SP) postaram mensagens em louvor a Adolf Hitler, propondo que se fizesse com os petistas "o que Hitler fez com os judeus."

Numa escola em Presidente Prudente (SP), um aluno de 10 anos foi fantasiado de Hitler a uma festa da instituição. Em Curitiba, estudantes vestidos com a camisa da seleção hostilizaram com violência colegas favoráveis à vitória de Lula. As alunas não foram poupadas: "Vamos encher as meninas petistas de porrada." Em várias escolas, professores também são ameaçados. Um deles teve de ouvir: "Meu pai vai f... com você."

Esses agressores são garotos em idade escolar e não nasceram assim. Foram ensinados a odiar e a discriminar — por sua cidade, pelos grupos que frequentam ou, bem provável, em casa. Quantos pais e mães, hoje no Brasil, não estarão inoculando o preconceito e o nazismo em seus filhos?

Nada disso parece estar provocando indignação nos militares. Estão mudos a respeito. Em 1942, o Brasil declarou guerra ao nazifascismo e, em 1944, mandou para a Europa uma força expedicionária de 25.000 homens. Os pracinhas, como eram chamados, enfrentaram a inexperiência, temperaturas de 15 graus abaixo de zero e soldados alemães que atiravam neles de cima para baixo. Mas os brasileiros foram bravos, heroicos e vitoriosos.

Os restos dos 467 rapazes mortos em combate descansam no Monumento aos Pracinhas, aqui no Rio. Há uma pira eternamente acesa para eles e todo ano faz-se uma bela homenagem. Mas omitir-se diante de arroubos neonazistas é o mesmo que cuspir nesta pira.

Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, que homenageia os soldados brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial - Ana Carolina Fernandes - 28.nov.01/Folhapress