sábado, 10 de setembro de 2022

Produção de veículos atinge melhor marca em 19 meses, FSP

 Eduardo Sodré

SÃO PAULO

A produção de veículos leves e pesados acompanhou o ritmo das vendas em agosto. Foram fabricadas 238 mil unidades, o melhor resultado dos últimos 19 meses, segundo a Anfavea (associação das montadoras).

Houve alta de 8,7% em relação a julho e de 43,9% na comparação com agosto de 2021. No acumulado do ano, há crescimento de 4,7%.

O resultado se deve à melhora no fornecimento de componentes, principalmente semicondutores.

"É a primeira vez que realizamos uma coletiva sem paralisação de fábricas", disse Márcio Lima Leite, presidente da Anfavea. Ele lembrou que, na apresentação dos dados de julho, havia quatro fábricas paradas.

Carros novos estacionados no pátio da fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP) - Paulo Whitaker - 19.jun.2015/Reuters

A entidade ainda não fez projeções sobre o impacto das demissões promovidas pela Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). Na terça (6), a montadora anunciou o corte de 3.600 trabalhadores em sua fábrica de caminhões.

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"A Mercedes era uma das empresas mais verticalizadas do segmento, e agora optou por esse modelo de desverticalização", disse Leite.

Neste sábado (10), o executivo viaja para o Japão com representantes da indústria e do governo. O objetivo é atrair fornecedores para a produção de semicondutores no Brasil.

Já há um projeto para a fabricação desses componentes em Minas Gerais, que faz parte de um novo programa de reindustrialização promovido pelas montadoras. A empresa se chama Unitec e fica em Ribeirão das Neves.

O presidente da Anfavea, contudo, diz que a restrição ao crédito e as altas taxas de juros já influenciam o mercado. Leite afirmou que, no momento, as vendas à vista representam 70% dos negócios.

As vendas de veículos leves e pesados ultrapassaram as 200 mil unidades em agosto, algo que ainda não havia ocorrido em 2022.

Segundo dados do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), o último mês terminou com 208,6 mil emplacamentos. O número inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões. É o melhor resultado desde dezembro de 2020.

Houve crescimento de 14,6% em relação a julho. Já na comparação com agosto de 2021, a alta é de 20,7%. No acumulado do ano, contudo, há queda de 8% na comparação com os oito primeiros meses do ano passado.

A entidade, que em janeiro acreditava em uma alta de 8,5% nas vendas, revisou suas projeções em julho. Agora é aguardado um crescimento de 1% nos emplacamentos em relação a 2021.

Para atingir essa meta, a Anfavea fez uma projeção de emplacamentos para os próximos meses. A expectativa é registrar números próximos a 200 mil unidades em setembro e outubro e acima desse número no último bimestre, com pico de 233 mil licenciamentos em dezembro.

"Nós temos algumas questões que podem impactar o segundo semestre, como Copa do Mundo e eleições. Algum Impacto terá, por isso mantemos um otimismo moderado", disse Leite.

As exportações registram bons resultados, apesar das perdas no mercado argentino. O acumulado do ano chega a 335 mil unidades, alta de 32,2% em relação aos oito primeiros meses de 2021.

Tatiana Prazeres Descrição de chapéuCHINA China deve reforçar poder de Xi Jinping, mas congresso do partido vai muito além disso, fsp

 Xi Jinping deverá assegurar um novo mandato como líder chinês —esse é o desfecho esperado do 20º Congresso do Partido Comunista, que ocorrerá em outubro. Diante do resultado dado como certo, a importância do maior evento político do país tem sido subestimada.

A cada cinco anos, a elite do PC se reúne para selecionar os 25 membros do politburo, o topo da pirâmide de poder não apenas do partido, mas do Estado chinês. Dentre esses 25, um subgrupo de sete pessoas comporá o Comitê Permanente do Politburo —o topo do topo da pirâmide. Na lógica do Estado-partido, um desses sete membros ocupará tanto a posição de secretário-geral quanto de presidente da China.

Visitantes em frente à imagem de Xi Jinping no Museu do Partido Comunista, em Pequim - Noel Celis -4.set.22 / AFP

Xi tende ser o primeiro, desde a morte de Mao em 1976, a servir mais de dois mandatos como líder. Em 2018, uma reforma constitucional aboliu o limite de mandatos, numa demonstração de força do atual dirigente.

Para que Xi permaneça no poder, uma outra regra não escrita de limite de idade precisará ser desconsiderada. "Sete sobe, oito desce", diz-se em chinês. Sinal verde para os de 67 anos, aposentadoria para os que tiverem 68 na reunião do partido. A ver se a regra seria flexibilizada apenas para Xi, 69. Dos 25 membros do politburo, 11 já terão 68 no conclave de outubro.

A política interna chinesa é reconhecidamente opaca. Pouco se sabe sobre o processo decisório intrapartidário. Apesar de hermético, o partido não é monolítico. Há conservadores e reformistas; liberais e linha dura. Há a nova esquerda chinesa, os ditos neomaoístas. Sabe-se, por exemplo, que foi polêmica a decisão de aceitar empresários nos quadros do PC, em 2001.

Para além da trajetória pública dos pretendentes aos postos mais altos, analistas catam as migalhas. Os vínculos de lealdade, os apadrinhamentos e as relações pessoais —tudo isso acaba pesando muito nas especulações políticas. Olha-se, por exemplo, quem acompanha Xi nas viagens pelo país, quem é designado para missões espinhosas, quem trabalhou com quem, quem vem dos mesmos grupos (por exemplo, a Liga da Juventude Comunista).

Mesmo para um sistema opaco, há um grande desconhecimento sobre política chinesa mundo afora. Quem reconhece Li Keqiang, o primeiro-ministro chinês? Quem é o vice-presidente do país? Quem são as estrelas em ascensão? Com a manutenção de Xi no poder, é como se nada mais importasse.

A partir da reunião de outubro, haverá uma dança de cadeiras importante no politburo, e as mudanças sinalizarão tendências para os próximos anos. Duas figuras-chave para a política econômica podem sair de cena: tanto o primeiro-ministro, em março, quanto Liu He, apelidado de czar da economia. A escolha de seus substitutos apontará possíveis rumos nessa área crítica.

Deve mudar, ainda, o principal nome da política externa do politburo, Yang Jiechi, que liderou as conversas mais duras com os EUA nos últimos anos. Mudanças também são esperadas no comando militar, num momento de tensões crescentes em relação a Taiwan. Principal ideólogo do partido, o ex-professor Wang Huning deve permanecer no grupo.

O fato de o sistema ser obscuro e de Xi ser superpoderoso acaba servindo de desculpa para se ficar na superfície, na manchete do terceiro mandato. O mundo não deveria se dar ao luxo de desconsiderar os sinais do evento político mais importante em cinco anos de um país como a China.

É fácil tratar a reunião do PC como uma encenação burocrática diante da provável recondução de Xi. É fácil, mas é um erro.