sexta-feira, 15 de julho de 2022

Bruno Boghossian - Lula busca partidos com um olho na urna e outro em 2023, FSP

 A caneta do presidente da República é o segundo ativo mais valioso do mundo político. O primeiro é a expectativa de ter o poder nas mãos.

Lula explorou essa possibilidade ao fazer um aceno a partidos que gostaria de ter a seu lado na eleição. À frente nas pesquisas, o petista tenta atrair PSD, MDB e União Brasil para sua aliança. Ele argumenta que é preciso somar forças para enterrar ameaças feitas por Jair Bolsonaro, mas também quer plantar a semente de uma futura coalizão de governo.

O ex-presidente tem um olho na urna e outro em 2023. Petistas insistem em ampliar a aliança de Lula para enfrentar o que eles veem como um desafio em quatro etapas: vencer a eleição, barrar o risco de ruptura, tomar posse e governar.

O ponto inicial das investidas é a matemática do primeiro turno. Petistas trabalham para liquidar a fatura da eleição no dia 2 de outubro, mas entendem que a margem deve ficar apertada com uma provável subida de Bolsonaro e a manutenção de nomes menos competitivos na disputa. Uma saída dos nanicos Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União) da corrida pode ser a diferença entre terminar com 49% dos votos válidos ou 50% mais um.

O ex-presidente disse a senadores, como noticiou a Folha, que esse número mágico pode aplacar o tumulto incentivado por Bolsonaro na votação. Quanto maior for a aliança do petista nesse cenário, maior será o número de parlamentares e governadores eleitos que também estarão interessados em tomar posse.

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O trio de partidos cobiçado por Lula também seria a chave para evitar o risco de chegar ao Planalto com uma base frágil no Congresso e dependente do centrão. As siglas que atualmente formam a aliança do petista tendem a eleger em torno de 140 deputados. PSD, MDB e União Brasil podem emprestar outros 140 e dar maioria aos governistas.

O PT sabe que é difícil fechar um acordo com os três partidos agora, mas espera que possam aderir nas fases seguintes, com a promessa de espaço num eventual governo.


Hélio Schwartsman - Falso dilema inspirou oposição a apoiar PEC Kamikaze, FSP

 Foi aprovada a PEC Kamikaze, que deverá dar a Jair Bolsonaro os votos de que ele precisa para não ser derrotado no primeiro turno e que faz regredir em três décadas as normas de responsabilidade fiscal do país.

Que governos tentem gestos desesperados para não perder eleições é da natureza do mundo. Que parlamentares da oposição votem em massa a favor de uma medida que eles próprios veem como estelionato eleitoral é uma anomalia.

No Senado, um solitário José Serra teve a coragem de opor-se à PEC. Na Câmara, foram 469 votos a favor e 17 contrários (segundo turno). O único partido que orientou seus deputados a votar contra o mostrengo foi o Novo. Os parlamentares oposicionistas que apoiaram a PEC recorrem à retórica dos dilemas para justificar sua posição. O pacote de medidas é ruim, dizem, mas é a forma de ajudar a população mais pobre, que passa fome.

O problema com esse raciocínio é que ele é demonstravelmente falso. A minoria não conseguiu nem suprimir as piores exorbitâncias jurídicas da PEC, de onde se conclui que a aprovação estava garantida. Os mais pobres receberiam o dinheiro independentemente de como votasse a oposição. Ficar contra uma manobra demagógica tão escancarada resguardaria a dignidade do Parlamento e reduziria marginalmente o prejuízo institucional de implodir numa única votação todo o sistema de controle das contas públicas.

Os oposicionistas não fizeram isso porque, num cálculo que não explicitam, eles próprios poderiam experimentar prejuízos eleitorais se ficassem contra a PEC. Em psicologia, isso leva o nome de percepção seletiva, que é a tendência de interpretar estímulos e informações de modo que se coadunem com nossos interesses pessoais. É o mecanismo que está na base do cinismo e da hipocrisia.

Paro um pouco antes de concluir que, com uma oposição dessas, o Brasil merece mesmo ser governado por Jair Bolsonaro e seus comparsas.

Policial mata mulher, 3 filhos e outras 4 pessoas no interior do Paraná, FSP

 Larissa Gomes

TOLEDO (PR)

Um policial militar matou a tiros oito pessoas, incluindo a mulher e os três filhos, e depois se suicidou na madrugada desta sexta-feira (15) no oeste do Paraná.

Fabiano Júnior Garcia, 37, que trabalhava no 19º Batalhão da Polícia Militar de Toledo, deixou o plantão por volta das 19h na noite de quinta-feira e iniciou a sequência a assassinatos por volta das 23h.

Uma das hipóteses levantadas pela polícia para a motivação do crime é a de que o policial não aceitava o pedido de separação feito pela mulher.

Fabiano Júnior Garcia, 37 anos, militar matou oito pessoas - Reprodução/Facebook

Além da esposa, Kassiele Moreira, 28, entre os mortos estão a mãe do policial, de 78 anos, um irmão de 50 anos e os três filhos: uma garota de 12 anos, uma menina de nove anos e um menino de quatro anos, com tiro na cabeça.

O homem também tirou a vida de duas pessoas que estavam na rua, dois jovens de 17 e 19 anos, ainda não identificados.

De acordo com a PM, as duas primeiras vítimas foram a esposa e sua filha mais velha. Elas foram mortas dentro de casa, na região central da cidade de Toledo.

Na sequência, ele seguiu para a casa da mãe, Irene Garcia, onde também estava o irmão. O policial então matou dois jovens que passavam perto do local.

foto noturna de carro guinchado
Carro de policial, que tentou fugir; ele se matou no local, segundo a ivestigação - Kelvin Polasso/Toledo News

Depois ele seguiu para a cidade de Céu Azul, a 64 quilômetros de Toledo, matando seus dois filhos mais novos. Ele voltou para a casa dele em Toledo, onde foi encontrado por policiais.

Os PMs atiraram nos pneus do veículo de Garcia para impedir uma fuga. Então, ouviram um disparo e constataram que ele havia se suicidado.

Em nota, a PM local lamentou o crime e informou que Garcia não tinha histórico que pudesse indicar problemas psicológicos. Ele atuava como coordenador do policiamento da unidade desde 2020.

"Causou estranheza, tristeza e decepção para a corporação. Vai ser aberto um inquérito para apurar o caso e todo suporte para a família será dado", disse em entrevista nesta sexta o coronel Hudson Leôncio Teixeira.

Segundo o comandante, Garcia enviou áudios para a família e amigos explicando que a motivação do crime seria a separação de Kassiele Moreira. "Deu a entender que o fator motivacional para essa tragédia foi a separação deles, ele não estava aceitando a separação e também possuía algumas dívidas."

O crime ocorre da mesma semana da morte de quatro mulheres em duas ocorrências de feminicídio em Pernambuco e Minas Gerais. Nos dois casos, a principal suspeita é que os autores dos disparos não aceitavam o fim do relacionamento com as vítimas.

Em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, três mulheres da mesma família foram assassinadas a tiros, depois de discussão com o ex-marido de uma delas. Uma outra mulher foi socorrida em estado grave, após também ser alvo dos disparos.

Em Pernambuco, uma mulher de 48 anos, que estava internada após ser baleada na sexta-feira (8) pelo ex-marido, não resistiu aos ferimentos e morreu.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública indicam que no ano passado ocorreram 1.341 mortes por feminicídio no país, uma média de 111 casos por mês. O número é ligeiramente menor do que o tabulado no ano anterior, quando foram registradas 1.354 ocorrências.