segunda-feira, 9 de maio de 2022

Polícia acha 'cemitério' de capacetes de moto no centro de SP; veja vídeo, FSP

 

SÃO PAULO

Polícia Civil investiga a origem de centenas de capacetes encontrados no telhado de uma loja de motopeças na alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo, fiscalizada no último sábado (7).

Os capacetes estavam presos por uma espécie de redes em duas partes do telhado. Policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) tentam descobrir se os objetos são de vítimas que tiveram motos roubadas.

Na ação, a polícia recolheu 3.196 peças e uma moto. As apreensões, inclusive os capacetes, aconteceram durante operação no bairro Campos Elíseos, área conhecida como "boca das motos".

Segundo a polícia, quatro pessoas foram presas sob suspeita de crimes contra as relações de consumo, já que as peças comercializadas estavam sem o selo de rastreabilidade do Detran (Departamento Estadual de Trânsito). A situação foi identificada em lojas da rua Guaianases e da Barão de Limeira.

Os nomes dos detidos e das lojas não foram informados.

Na operação, foi também localizada uma motocicleta BMW GS 800 com a carenagem dianteira totalmente destruída, sem qualquer referência de propriedade.

Peças de moto em loja no centro de São Paulo, onde a Polícia Civil fez fiscalização sobre comércio irregular no último sábado (7); quatro pessoas foram presas - Divulgação/Polícia Civil

Recente estudo realizado pela Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), em parceria com a empresa de rastreamento Tracker, com base em boletins de ocorrência registrados pela Polícia Civil, apontou que o furto de motos no estado de São Paulo já ultrapassa o número de queixa de 2019, antes da pandemia de coronavírus.

De acordo com a o estudo, 20.532 motos foram furtadas em 2021 no estado de São Paulo, contra 20.439 em 2019.

Na comparação com 2020 (com 16.178 casos registrados), quando a pandemia foi decretada e as ruas acabaram vazias, principalmente entre março e o início do segundo semestre, o registro de furtos de motocicletas cresceu 27% em 2021.

Na capital paulista, segundo a pesquisa, o salto foi ainda maior, de 33,6%, entre 2020 e 2021, passando de 6.488 motos furtadas para 8.671.

De acordo com a pesquisa, os furtos de motos na cidade de São Paulo se concentraram em bairros mais centrais devido ao crescimento de serviços de entregas. As ruas campeãs em 2021 foram Voluntários da Pátria (66 casos), em Santana, na zona norte, e Maestro Cardim (33) e Treze de Maio, ambas na Bela Vista (28), segundo o levantamento.

No caso dos roubos —que na capital caíram 8,5% de 2020 para 2021, passando de 5.700 para 5.214 —, os números são mais maiores em bairros periféricos. As vias com mais registros deste tipo de ocorrência foram a avenida Jacu-Pêssego, na zona leste (69 casos) e Raimundo Pereira de Magalhães (58), na zona norte.

Modelos de baixa cilindrada aquecem o mercado ilegal de peças, segundo analisa Erivaldo Costa, coordenador Departamento de Pesquisas em Economia do Crime da Fecap.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, operações coordenadas pela Polícia Civil resultaram neste ano, até abril, resultaram na prisão de mais de 20 pessoas suspeitas de participarem do comércio ilegal de motopeças.

De acordo com a pasta, nos últimos anos, somente na região central da capital paulista, mais de 130 estabelecimentos comerciais foram vistoriados, sendo 47 deles interditados e mais de 200 toneladas de peças irregulares apreendidas.


Peptídeo criado por grupo brasileiro retarda avanço do melanoma em testes com animais - Agência Fapesp

 Luciana Constantino

AGÊNCIA FAPESP

Pesquisa publicada na revista Scientific Reports mostra que um peptídeo (molécula derivada de uma proteína) desenvolvido por cientistas brasileiros, chamado Rb4, foi eficaz no combate à progressão do câncer em modelo animal —especialmente melanoma grave—, sendo um agente promissor para o tratamento de tumores resistentes a drogas.

Em fase pré-clínica, in vitro e in vivo, o trabalho forneceu evidências de que o Rb4 desencadeia necrose em células de melanoma murinas (de camundongos). Além disso, o composto inibiu a viabilidade de linhagens celulares do câncer humano. Essas células tumorais perdem a integridade da membrana plasmática e as mitocôndrias (organelas que geram a energia celular) ficam dilatadas. Os cientistas, porém, ainda não têm claro como essa necrose é desencadeada.

Exame de manchas na pele
Pesquisa mostra que um peptídeo (molécula derivada de uma proteína) desenvolvido por cientistas brasileiros foi eficaz no combate à progressão do câncer em modelo animal, sendo um agente promissor para o tratamento de tumores resistentes a drogas - Evgeniy Kalinovskiy - stock.adobe.com

Nos animais, o peptídeo reduziu a metástase pulmonar e retardou o crescimento do melanoma subcutâneo. Os resultados sugerem que o Rb4 atua diretamente no tumor, induzindo a expressão de dois padrões moleculares associados ao dano, chamados DAMPs, que desencadeiam um efeito imunoestimulador durante a morte celular de melanoma.

"Fazemos ciência básica em busca de novas moléculas. Neste estudo, o Rb4, que deriva de proteína proteolipídica 2 [PLP2], apresentou preferência por causar um tipo específico de morte celular, a necrose, especialmente em melanoma. Mas não está claro como essa necrose ocorre e se desenvolve. O artigo dá alguns indícios da composição morfológica e dos efeitos finais do contato com o peptídeo", diz à Agência Fapesp Fabrício Castro Machado, um dos autores do artigo.

Machado fez parte do grupo da Unidade Experimental de Oncologia, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e é pesquisador da Recepta Biopharma (ReceptaBio), uma empresa brasileira de biotecnologia voltada ao estudo e ao desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento do câncer. Daí o nome do peptídeo "Rb".

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Com o apoio da Fapesp, a pesquisa começou a ser desenvolvida pelo grupo do professor da Unifesp Luiz Rodolpho Travassos, que faleceu em 2020 e é homenageado no artigo.

Travassos publicou mais de 260 artigos, sendo parte deles ligada a estudos sobre atividades biológicas de peptídeos e peptidases (enzimas que quebram ligações peptídicas entre os aminoácidos das proteínas) em doenças infecciosas e câncer. Esse interesse o aproximou, em 2008, da ReceptaBio, que tem como diretor-presidente José Fernando Perez, ex-diretor científico da FapespP (entre 1993 e 2005).

"O professor Travassos identificou várias sequências de pequenas moléculas, peptídeos bioativos baseados em anticorpos desenvolvidos pela ReceptaBio. O Rb4 foi também identificado durante esse processo de busca por novas moléculas, embora não derive de anticorpos. Temos uma outra, o Rb9, em processo de estudo mais avançado, com várias publicações e patentes, no entanto, ainda em fase pré-clínica", explica a cientista Alice Santana Morais, analista de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa e autora correspondente do artigo.

Em 2016, os cientistas descreveram as estruturas do peptídeo Rb9 e seus mecanismos de ação na inibição também de células de melanoma. Em publicação mais recente, de 2020, o avanço das pesquisas indicou um efeito imunomodulador do Rb9 no controle da progressão tumoral.

"Seja na academia ou em empresas como a ReceptaBio, é preciso agregar esforços para fazer pesquisa. Buscamos parcerias para ajudar a alavancar o processo de desenvolvimento dos fármacos, que é demorado, minucioso e exige discussão, detalhes e troca de experiências", diz Morais.

CAMINHOS PROMISSORES

Novos tratamentos têm sido usados nos últimos anos contra vários tipos de câncer, entre eles a quimioterapia baseada em peptídeos. Essas moléculas despertam interesse em decorrência de algumas vantagens, como a capacidade de atingir especificamente células tumorais e a baixa toxicidade em tecidos normais. Podem ser usadas em terapias baseadas apenas em peptídeos ou conjugadas com outros tipos de medicamento, com aplicação como reagentes celulares, ligantes e vacinas, por exemplo.

Na pesquisa para avaliar o efeito antitumoral de Rb4, o grupo de cientistas investigou o crescimento e a morfologia em células de melanoma (B16F10-Nex2) cultivadas. O peptídeo foi capaz de interferir na morfologia, replicação e associação do melanoma.

Isso porque as células tratadas com Rb4 não se replicaram e formaram aglomerados rapidamente —fenômeno não observado no grupo-controle. Após 24 horas de incubação, as células também perderam sua morfologia natural.

Além disso, Rb4 reduziu o número de nódulos metastáticos pulmonares no modelo de melanoma singênico (animais gêmeos). Esse resultado foi detectado após células do câncer terem sido injetadas por via intravenosa nos camundongos. Eles receberam tratamento de cinco injeções do peptídeo (300 microgramas/por animal) em dias alternados, o que atrasou o crescimento tumoral em até 40 dias.

A taxa de sobrevivência dos camundongos tratados com Rb4 foi maior do que a de grupos-controle, aumentando a sobrevida em mais de 25% e em até dez dias.

O melanoma tem origem nas células que produzem a melanina, substância que determina a cor da pele, podendo aparecer em várias partes do corpo humano. Embora o câncer de pele seja o mais frequente no Brasil, correspondendo a cerca de 30% dos tumores, o melanoma representa 3% das neoplasias malignas. No entanto, é o tipo mais grave devido à alta possibilidade de provocar metástase, ou seja, de se disseminar por outros órgãos.

Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são cerca de 8.400 novos casos ao ano. Em 2019, foram 1.978 mortes.