sexta-feira, 11 de março de 2022

Dia Internacional da Mulher. Pouco a comemorar, muito a avançar, Marcos da Costa OESP

 Marcos da Costa*

08 de março de 2022 | 08h30

Marcos da Costa. FOTO: DIVULGAÇÃO

Este Dia Internacional da Mulher de 2022 chega impactado por áudios machistas, sexistas, misóginos, que ainda traduziram uma covardia, pois indicavam abuso de situação de vulnerabilidade de mulheres ucranianas, impactadas pela guerra iniciada pela Rússia, com a agravante de seu autor ser um Deputado Estadual, uma autoridade eleita para representar a sociedade paulista. E ainda estão bem vivas na memória as imagens captadas pelas câmeras do Plenário da Assembleia Legislativa de um outro Deputado Estadual, nesta mesma legislatura, se encostando e apalpando uma de suas colegas.

Essas situações gravíssimas são apenas a parte visível e desprezível de um machismo que se encontra ainda enraizado em nossa sociedade e, por consequência, na estrutura de instituições paulistas.

A Assembleia Legislativa de São Paulo, que tem na sua composição aqueles deputados estaduais, desde os remotos tempos da extinta Assembleia Legislativa Provincial, de 1889, até nossos dias, jamais teve eleita uma mulher presidente. Na atual legislatura foram eleitas 19 mulheres, um número recorde; mas apesar do avanço, a Casa democrática tem uma representação feminina bastante baixa, de apenas 20% das 94 cadeiras no Parlamento paulista.

Jamais tivemos também uma mulher Governadora de São Paulo, isso considerando desde os tempos do Brasil Colonial com os donatários da capitania de São Vicente, em 1534, até os tempos atuais. E, por incrível que pareça, São Paulo nunca teve também uma Vice-Governadora.

No âmbito do sistema de Justiça Paulista, poucos avanços, e de forma bastante lenta, têm ocorrido.

No Ministério Público Paulista, onde Zuleika Sucupira Kenworthy foi a primeira mulher a ingressar por concurso de 1948, só em 2019 teve eleita a sua primeira Corregedora-Geral, Tereza Cristina Maldonado Katurchi Exner, e até hoje não teve uma mulher presidindo sua associação classista, a Associação Paulista do Ministério Público – APMP, assim como jamais teve uma mulher nomeada Procuradora-Geral de Justiça.

No âmbito do Poder Judiciário paulista, embora o Tribunal de Justiça tenha sido instalado em 1874, e promova concursos desde 1922, somente em 1980 foram aprovadas as três primeiras mulheres para ingressar na magistratura: Berenice Marcondes Cesar, Iracema Mendes Garcia, e Zélia Maria Antunes Alves. E apenas em 1997 foi nomeada a primeira mulher a integrar o TJ, a desembargadora Luzia Galvão da Silva, cujo ingresso na Corte se deu através do quinto constitucional, vaga do Ministério Público.

Por incrível que pareça, ainda não tivemos nenhuma mulher ocupando cadeira no Conselho Superior da Magistratura, formado pelo Presidente da Corte, seu Vice-Presidente, o Corregedor-Geral, o Decano, e os Presidentes de cada uma das três sessões, de Direito Público, Direito Privado e Direito Criminal, o que significa também que nenhuma mulher, jamais eleita para qualquer desses cargos de comando da Justiça Paulista.

Em 2018, conversando com o então presidente do Tribunal, Desembargador Pereira Calças, fiz duas ponderações sobre a presença de mulheres na Corte.  A primeira foi a de que jamais uma mulher havia sido eleita para compor o Órgão Especial. E a segunda foi que, nos bustos que ornavam o Tribunal, em sua tradição de homenagear os grandes nomes que construíram a Justiça Paulista, advogados, promotores e magistrados, não havia nenhum de uma mulher, como se elas não merecessem as mesmas homenagens destinados aos homens do direito. O presidente disse compactuar com essas críticas  e que já estava se esforçando para mudar o cenário.

De fato, naquele mesmo ano de 2018 tive a honra de participar, como presidente da OAB SP, da posse da primeira mulher eleita para o Órgão Especial do TJ, a desembargadora Maria Cristina Zucchi, que havia ingressado na magistratura pela via do Quinto Constitucional, vaga da Advocacia.

E ainda em 2018 a OAB SP recebeu autorização para promover a entronização do primeiro busto de uma mulher nas galerias do Tribunal, fazendo homenagem à Maria Augusta Saraiva, a primeira formada em direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1902, e a primeira a exercer a advocacia em São Paulo.

Nossas esperanças de mudança desse cenário tomaram um novo e importante impulso neste ano de 2022 quando, ao completar 90 anos de sua criação, tomou posse a primeira mulher presidente da OAB SP, Patrícia Vanzolini, que esperamos, seja precursora de um movimento que possa levar a aplaudirmos, em breve, mulheres também no comando do Ministério Público e do Tribunal de Justiça de São Paulo.

*Marcos da Costa, advogado, ex-presidente da OAB SP gestões 2013 a 2015 e 2016 a 2018

quinta-feira, 10 de março de 2022

Bolsonaro espumou, mas teve de engolir reajuste inevitável, por risco de falta de diesel, FSP

 Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO

aumento de preços da Petrobras não deve ser de todo repassado para o consumidor nos postos, em especial no caso da gasolina, na média nacional.

O repasse deve ser de 80% do reajuste da petroleira para a gasolina, embora deva ser integral no caso do diesel, mercado que anda muito apertado, à beira da escassez. O aumento nas bombas tem sido menor do que nas refinarias.

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Aumento de combustível é motor de inflação, assunto central da eleição, mais motivo de alta de juros e mais problema para o prestígio de Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado 2.fev.2022/Reuters

Até ontem, pelo menos, Bolsonaro espumava com a ideia de que a Petrobras reajustaria preços de gasolina, diesel e GLP (gás de cozinha), o que ouviu nas reuniões desta semana com a cúpula da energia e da economia de seu governo.

Como de costume, queria soluções imediatas e milagres do pau oco, como congelamento de preços.

Ouviu então que o congelamento poderia causar racionamento, escassez e altas ainda maiores de preços, incontrolável em mais de 41.800 postos de combustíveis, como ocorreu aliás na escassez causada pela greve dos caminhoneiros em 2018, que Bolsonaro apoiou.

Além do mais, ouviu que o reajuste da Petrobras não repassaria integralmente a alta dos combustíveis no mercado mundial. Isto posto, "aceitou" o inevitável.

Empresas e associações de revendedores e importadores de combustíveis mandaram recados via ministros. A associação dos produtores, o IBP, fez pressão em público.

No ano passado, cerca de 25% do diesel consumido no país foi importado (cerca de 40% da importação foi da Petrobras). Se o preço é tabelado abaixo do preço do mercado mundial, importadores não compram diesel lá fora —venderiam aqui no país com prejuízo, óbvio (isso se não desistirem de vez do negócio). A refinaria privada de Mataripe já vendia diesel mais caro.

Bolsonaro, seu governo e seus regentes no Congresso jamais planejaram uma política duradoura e articulada para combustíveis. Quando o assunto ficava mais quente, quando havia altas do petróleo, o governo tinha faniquitos. Mas nada era feito. Veio a guerra e o problema explodiu de verdade.

Vai demorar para recolher os caquinhos, para haver pelo menos estabilidade no preço mundial do petróleo, sabe-se lá em qual patamar. Apenas neste ano, o barril do petróleo tipo Brent já aumentou cerca de 45%. Mesmo que a guerra terminasse amanhã, teria deixado sequelas duradouras: sanções e alterações no mercado mundial de petróleo e gás (europeus, mas não só, vão procurar outros fornecedores que não a Rússia, seja lá como acabe a guerra).

No Brasil, a saída mais à mão, viável e de efeito imediato é criar um subsídio. Isto é, o dinheiro dos impostos vai pagar parte dos combustíveis vendidos nas bombas e do preço do botijão de GLP. Por até seis meses, o governo bancaria parte do preço de gasolina, diesel e GLP.

Parte desse subsídio pode vir por meio da redução de PIS/Cofins sobre o diesel (perda de arrecadação de R$ 18 bilhões por ano para o governo. Isto é, aumento de dívida pública nesse valor). Mas não se sabe quanto desse desconto chegaria ao preço final para o consumidor, nem quando.

A alternativa mais direta é pagar parte do combustível. Quanto seria gasto nisso? Não se sabe exatamente, nem se sabe quem teria direito e nem o mecanismo da coisa, na prática.

Parte do desconto seria dirigido, destinado a grupos específicos: quem compra gás de cozinha, um "vale caminhoneiro", um "vale" para motorista autônomo, taxista ou motoqueiro profissional, desde que sejam suficientemente pobres. Um subsídio geral, como a redução de impostos, beneficia também ricos, de resto.

Diz-se que o dinheiro poderia vir dos dividendos (lucros) que o governo federal recebe da Petrobras (cerca de R$ 35 bilhões em 2021). Tanto faz a origem. O resultado de dar subsídio é mais déficit. Quanto mais déficit, maior a probabilidade de juros mais altos e real mais desvalorizado.

No entanto, o subsídio pode ser questão de vida e fome para os mais pobres.

As opções restantes são ora discutidas por meio de um projeto de lei no Senado. Pode haver redução do ICMS (inviável, politicamente, pois imposto estadual). Pode ser criado um fundo de estabilização de preços, que o país teve até os anos Dilma Rousseff (no caso, por meio de imposto, a Cide: subia quando o preço mundial caía, diminuía quando o preço internacional do petróleo aumentava).

Para fazê-lo agora, seria preciso dinheiro além da centena de bilhões de reais. Demoraria a fazer efeito, até porque é de implementação mais complicada.

Projeto reduz burocracia para incentivar construção de poços artesianos em condomínios Fonte: Agência Câmara de Notícias

 10/03/2022 - 10:43  

Michel Jesus/Câmara dos Deputado
Deputado Nereu Crispim discursa no Plenário da Câmara
O autor da proposta, deputado Nereu Crispim

O Projeto de Lei 260/22 altera a Lei do Saneamento Básico para simplificar os processos de autorização, licenciamento e outorga de poços artesianos em condomínios. O objetivo é incentivar esses empreendimentos a investir em obras de captação e exploração de recursos hídricos subterrâneos. O texto tramita na Câmara dos Deputados.

Uma das medidas desburocratiza a concessão e a obtenção de licenças, autorizações, laudos e outorgas ambientais e sanitárias, prévias ou periódicas, em todas as esferas de governo (municipal, estadual e federal).

O texto prevê simplificação de exigências, redução de custos para condomínios de baixa renda e prazo máximo de até 5 dias para respostas do poder público a requerimentos feitos pelo representante legal do condomínio.

Poderão ser apresentados pedidos para a realização de estudos preliminares de disponibilidade hídrica e de viabilidade, para a perfuração do solo, para o início da obra e para realização de testes de qualidade da água, entre outros.

“A integração de condomínios aos sistemas de solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano está em conformidade com políticas de aproveitamento ambiental sustentável para as futuras gerações e com baixo potencial de risco, alinhando-se, ainda, à diminuição dos custos com obras e despesas públicas nos sistemas de distribuição e fornecimento de água”, argumenta o autor do projeto, deputado Nereu Crispim (União-RS).

Individualização da conta
O projeto também altera a Lei do Saneamento Básico para impedir cortes no fornecimento de água de condomínios inteiros em razão da inadimplência de um condômino.

O texto permite, nos casos em que o condomínio seja o único titular do contrato de fornecimento de água, que o Estatuto ou a Convenção do Condomínio estabeleça tanto a forma de individualização do consumo quanto de suspensão individual do fornecimento em caso de inadimplência.

Tramitação
O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões de Minas e Energia; de Desenvolvimento Urbano; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Reportagem – Murilo Souza

Fonte: Agência Câmara de Notícias