Um clássico no Santiago Bernabéu lotado e que deveria ter só a cara dos donos da casa teve o primeiro tempo quase todo francês, com Mbappé brilhando e fazendo dois gols para valer um.
O Real Madrid pressionava, mas era o Paris Saint-Germain quem criava perigo, três chances claras de gol até abrir o placar.
O segundo tempo não se apresentou diferente.
Jogo dominado pelo PSG, os madridistas impotentes até que o goleiro italiano Donnarumma fez a lambança do tamanho da Europa e permitiu que Benzema o desarmasse. A bola chegou a Vinicius Junior, que passou ao próprio Benzema para o empate.
Sabem a rara leitora e o raro leitor o que é levar uma ferroada paralisante?
Pois foi o que pareceu ter acontecido com o PSG, em noite profundamente infeliz do zagueiro brasileiro Marquinhos, apagada de Neymar com exceção do lançamento para o gol de Mbappé e quase inexistente de Lionel Messi, em aparente declínio.
Então Vini, Modric e Benzema barbarizaram para construir o placar que levou os madridistas para as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.
Ao fazer mais dois gols e se tornar o terceiro maior artilheiro da história do Real Madrid, Benzema não deixou apenas para trás o mago Alfredo Di Stéfano mas candidatou-se a ser o número 1 do mundo nesta temporada, embora sob a forte concorrência de Lewandowski, Salah e De Bruyne.
Seus gols sentenciaram o futuro de Neymar, mais uma vez frustrado o sonho de levar o milionário time francês ao topo do futebol europeu.
Resta a ele, naquela que segundo o que já disse deve ser sua última Copa do Mundo, comandar a seleção brasileira na busca do hexacampeonato.
Tarefa gigantesca!
Se nós, brasileiros, imaginávamos que veríamos em Madri um duelo entre Neymar e Vini, o que vimos foi o embate francês entre Benzema e Mbappé, que podem até estar juntos no time merengue no ano que vem e certamente estarão no selecionado francês na Copa do Mundo do Qatar.
A sensação é a de que, se cada um por si faz o que faz, juntos serão imparáveis.
Olhar a intensidade dos grandes jogos pelos gramados europeus é o que permite atribuir a eles um esporte diferente do futebol jogado deste lado do mundo. E não é pelos primeiros dez minutos ou pelo esforço ao final dos jogos, mas durante todo o tempo, como se não houvesse amanhã.
Na década de 1990, quando começamos a acompanhar o Campeonato Italiano narrado por Luciano do Valle na TV Bandeirantes, se tínhamos um time extraordinário como o Milan dos três holandeses Rijkaard, Gullit e Van Basten, tínhamos também por aqui equipes campeãs como o São Paulo para lhes fazer frente. Hoje, que pena, não temos mais.
A diferença é cada vez maior, como a da NBA para o nosso basquete.
E boa parte da explicação para a diferença que a cada dia aumenta é óbvia, está na gestão.
Por mais mazelas que haja no mundo da cartolagem em geral, não se vê na Europa entidades como a CBF nem a submissão dos clubes às entidades dirigentes, porque o que prevalece é quem faz o espetáculo, não os privilégios das salas refrigeradas.
Resta aplaudirmos nossos jogadores na casa dos outros: Marquinhos, Militão, Neymar, Vinicius Junior, Rodrygo, tantos, para citar apenas o que estavam no recital de bola que pudemos ver na capital espanhola, muito melhor que quaisquer touradas.