A trapaça dos clubes mais ricos da Europa —que pretendem se eternizar como donos absolutos da bola, jogando apenas entre eles nas arenas patrocinadas, diante de seletos espectadores —não deu certo. Por enquanto. Pode apostar que os Dirty Dozen voltarão a impor seus planos elitistas, com a força da grana e o aplauso dos pobres torcedores de sofá.
Logo que ouvi falar na Superliga, pensei no São Cristóvão, que está fazendo uma vaquinha para arrecadar R$ 150 mil —quantia que não paga o salário do roupeiro do Real Madrid— e reabrir o estádio da rua Figueira de Melo, sem receber jogos há 12 anos. Rebatizado de Ronaldo Nazário, para lembrar que o Fenômeno nasceu ali, o velho alçapão exibe hoje um gramado de “primeiro mundo”, garantem os cartolas do clube que pediu licença para não disputar a Série C (quinta divisão) do Campeonato Carioca.
Quem se lembra dos tempos em que o gramado era aparado por cinco carneiros tem o que o comemorar. Também havia cabritos, mas eles foram comidos um a um, como revelou uma reportagem da revista Realidade, publicada em 1968, mostrando a decadência do time de passado aristocrático, ligado aos cadetes do Exército, campeão em 1926. “Este ano outra vez”, sempre acreditarão seus poucos, mas apaixonados, adeptos.
O estádio Ronaldinho é uma delícia para quem gosta de futebol. Você fica perto do campo, ouve o barulho do chute na bola —vup!— e, grudado no alambrado, pode elogiar o bandeirinha à vontade. Há outros no Rio com a mesma graça quase perdida: os de Bangu, Campo Grande, Portuguesa da Ilha, Olaria, Bonsucesso, Madureira e mesmo o do Vasco, em São Januário.
Daí que se poderia criar, para competir com a Superliga gringa, a Fantástica Liga dos Clubes Suburbanos. Com acenos diplomáticos ao Fluminense e ao Botafogo e cabal exclusão do Flamengo, claramente um time milionário e europeu.