terça-feira, 4 de maio de 2021

Alvaro Costa e Silva - A Liga dos Clubes Suburbanos, FSP

 A trapaça dos clubes mais ricos da Europa —que pretendem se eternizar como donos absolutos da bola, jogando apenas entre eles nas arenas patrocinadas, diante de seletos espectadores —não deu certo. Por enquanto. Pode apostar que os Dirty Dozen voltarão a impor seus planos elitistas, com a força da grana e o aplauso dos pobres torcedores de sofá.

Logo que ouvi falar na Superliga, pensei no São Cristóvão, que está fazendo uma vaquinha para arrecadar R$ 150 mil —quantia que não paga o salário do roupeiro do Real Madrid— e reabrir o estádio da rua Figueira de Melo, sem receber jogos há 12 anos. Rebatizado de Ronaldo Nazário, para lembrar que o Fenômeno nasceu ali, o velho alçapão exibe hoje um gramado de “primeiro mundo”, garantem os cartolas do clube que pediu licença para não disputar a Série C (quinta divisão) do Campeonato Carioca.

Quem se lembra dos tempos em que o gramado era aparado por cinco carneiros tem o que o comemorar. Também havia cabritos, mas eles foram comidos um a um, como revelou uma reportagem da revista Realidade, publicada em 1968, mostrando a decadência do time de passado aristocrático, ligado aos cadetes do Exército, campeão em 1926. “Este ano outra vez”, sempre acreditarão seus poucos, mas apaixonados, adeptos.

O estádio Ronaldinho é uma delícia para quem gosta de futebol. Você fica perto do campo, ouve o barulho do chute na bola —vup!— e, grudado no alambrado, pode elogiar o bandeirinha à vontade. Há outros no Rio com a mesma graça quase perdida: os de Bangu, Campo Grande, Portuguesa da Ilha, Olaria, Bonsucesso, Madureira e mesmo o do Vasco, em São Januário.

Daí que se poderia criar, para competir com a Superliga gringa, a Fantástica Liga dos Clubes Suburbanos. Com acenos diplomáticos ao Fluminense e ao Botafogo e cabal exclusão do Flamengo, claramente um time milionário e europeu.

Carneiros pastando no gramado do estádio do São Cristóvão Futebol e Regata
Foto de José Antônio para a reportagem da revista Realidade com os carneiros aparadores de grama. - José Antônio

'A luta continua', diz defesa de Luiza Brunet sobre decisão que negou a ela direito à fortuna do ex, FSP

 

A defesa da atriz e modelo Luiza Brunet vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a decisão do Tribunal de Justiça de SP que reafirmou que ela não tem direito à metade da fortuna do empresário Lírio Parisotto.

Na semana passada, os desembargadores da 5ª Câmara do TJ-SP acolheram os argumentos dos advogados do empresário de que os dois viviam um "namoro tormentoso" e não uma união estável, e rejeitaram embargos apresentados pelos advogados da atriz.

A atriz Luiza Brunet de vestido vermelho em jantar de gala promovido pela BrazilFoundation no The Plaza Hotel, em Nova York, na quinta (12)
A atriz Luiza Brunet em jantar de gala promovido pela BrazilFoundation no The Plaza Hotel, em Nova York - Leandro Justen - 12.set.209

O resultado manteve decisão tomada pelo mesmo tribunal, em agosto do ano passado, que deu a Parisotto a vitória judicial.

Os escritórios Fonseca Neto Advogados e Nery Advogados enviaram nota à coluna afirmando que a decisão do tribunal paulista apenas tratou de questões formais e "serve para preparar recurso a Brasília, onde a questão será definitivamente julgada".

Dizem ainda que as provas "constantes dos autos são mais do que suficientes para comprovar a união estável das partes".

Eles questionam também a definição dada à relação dos dois.

"Se houve relacionamento tormentoso, certamente se deu em razão das inúmeras agressões físicas sofridas por Luiza durante a união estável, o que foi inclusive confirmado em última instância pelo Supremo Tribunal Federal, que referendou a condenação do agressor em razão da violência doméstica por ele cometida".

Os advogados dizem ainda que "a luta de Luiza continua, assim como a fé na Justiça".

Em 2015, Luiza Brunet acusou Parisotto de agredi-la fisicamente. Ele foi condenado a prestar serviços comunitários por dois anos. Os recursos do empresário contra a sentença foram rejeitados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em novembro.

A ex-modelo Luiza Brunet e o empresário Lírio Parisotto, na primeira edição do jantar beneficente Essência Bela, em prol da ONG Afesu Veleiros, em São Paulo - Bruno Poletti - 2.mai.2016/Folhapress

Depois da separação, empresários de Brunet procuraram advogados de Parisotto para tentar um acordo e pediram R$ 100 milhões a ele. O empresário rejeitou a ideia e o caso é agora discutido na Justiça,

Em 2018, a revista Forbes avaliou a fortuna do empresário em US$ 1,6 bilhão.

Na defesa, o advogado Luiz Kignel, que representa Parisotto, apresentou um capítulo da biografia autorizada de Luiza Brunet que afirmava que ela tinha vivido um “namoro maduro” na fase em que esteve com o empresário.


Empadinhas proustianas, FSP

 Marcos Nogueira

Cada ida à cidade era uma alegria. Significava andar de teleférico, tomar picolé de limão e comprar uma quinquilharia qualquer nas arcadas da rua principal –sempre voltava para o hotel com um brinquedo barato, feito de madeira e barbante.

As férias da minha infância eram em Serra Negra, estância termal não muito longe de São Paulo. Ficávamos num hotel que não existe mais, na estrada, a meio caminho de Lindoia. Lá tinha piscina, pingue-pongue, pebolim, quadras e mato à vontade.

Fosse pelo meu pai, não arredaríamos pé do hotel. A comida era razoável e estava inclusa nas diárias. O velho padecia da inércia característica dos adultos e, mal sabia eu, de depressão. Ele só queria ficar, mas eu tinha o fogo no rabo típico das crianças. Passava os dias enchendo para irmos à cidade. As irmãs adolescentes reforçavam o coro.

Então o velho se arrastava para fora da cama. Íamos todos no Opala branco; eu, entre o pai e a mãe, no banco inteiriço da frente. Assim era o século 20.

O passeio invariavelmente terminava na padaria Serrana, na praça em frente ao teleférico que leva ao Cristo Redentor. Era lá que rolava o picolé de limão.

Mas a atração principal era a empada de palmito.

As empadas da padaria Serrana reavivavam o ânimo do meu pai. A família toda as adorava. Trazíamos bandejas delas na viagem de volta para casa.

Eu, estranhamente, não lhes dava tanta atenção. Gostava, mas estava entretido demais com o burrinho no barril que acabara de ganhar. Quanto às empadas, o que mais me marca a memória é a sujeira que eu fazia ao comê-las. A massa podre, quebradiça, virava farofa na primeira mordida e se espalhava pela mesa, pela roupa, pelo chão, atraindo os pombos.

A vida adulta me afastou de Serra Negra. Nas poucas vezes em que voltei ao mesmo hotel, já decadente, as reminiscências da infância me acompanhavam numa realidade paralela, de sonho vívido. Era mais incômodo do que divertido.

Nunca tive obsessão particular por empadas. Gosto, gosto bastante até. Mas não são uma tara, um fetiche, algo que me faça sair de casa para comer.

Preso em casa pelo vírus, minha vida social mora no Whatsapp, Twitter e no Instagram. Foi neste que eu recebi uma mensagem do Marcio, colega jornalista que eu não conheço pessoalmente, um pouco mais velho do que eu.

Ele montou uma pequena fábrica de empadas em Osasco e queria que eu as provasse. Demorei a responder, demorei demais, admito. Mas finalmente aceitei a oferta. Jantei empadas ontem.

A primeira mordida me atirou de volta à praça de Serra Negra, coisa que nenhuma outra empada me proporcionou. Senti o sol, o cheiro de cloro, da grama, da fumaça de óleo diesel do trenzinho Tia Linda –caminhonete tunada feito locomotiva, com reboques sem janela, que fazia passeios turísticos para as crianças.

Senti o picolé derretendo e pingando na minha perna, o calor do colo da minha mãe, a alegria de convencer meu pai a pular comigo na piscina gelada no fim da tarde. Senti nostalgia daquilo que eu era e daquilo que eu achava que viria a ser.

Quis saber se a padaria Serrana ainda existe. Existe, está no mesmo lugar e proclama, na página do Facebook: “Há mais de 50 anos servindo a melhor empadinha do Brasil”.

Não sei se é, mas agora acredito. As Empadas do Victor, filho do Marcio, não ficam atrás. Só não conte com o barato proustiano que elas me deram. Cada um com sua madeleine.