sábado, 5 de dezembro de 2020

Deputado do PT questiona ao GSI presença de Eduardo Bolsonaro armado no gabinete do pai, Painel FSP

 


O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) decidiu enviar requerimento ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, questionando a presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) armado no gabinete presidencial.

O presidente Jair Bolsonaro com os filhos, Flavio, Carlos, Eduardo (armado) e Renan, no gabinete presidencial - @BolsonaroSP no Twitter.

O pedido de informações é motivado por uma foto publicada nas redes sociais mostrando o presidente Jair Bolsonaro em seu gabinete, com seus quatro filhos homens. Eduardo, que é servidor da Polícia Federal e tem porte de arma, aparece com um revólver na cintura.

“Amanhã um parlamentar que tenha divergência com o presidente vai entrar armado e pode matá-lo. Essa situação criou um precedente gravíssimo. É uma falha de segurança”, diz Teixeira.

No requerimento, Teixeira pergunta se quaisquer autoridades públicas, do Executivo, Judiciário e Legislativo, podem portar e ostentar arma de fogo nas dependências do Palácio e do gabinete presidencial. Ele também quer saber se a segurança presidencial permitiu que o deputado entrasse armado no gabinete do pai.

Recentemente, houve situações polêmicas envolvendo pessoas armadas em prédios públicos. Em 2019, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot disse que dois anos antes entrou com um revólver no prédio do Supremo Tribunal Federal com o objetivo de matar o ministro Gilmar Mendes, mas acabou desistindo.

Em outra situação, o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) participou com uma arma no coldre de uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A sessão teve confusão e acabou sendo interrompida.

Painel

Editado por Fábio Zanini (interino), espaço traz notícias e bastidores da política. Com Mariana Carneiro e Guilherme Seto.

O PT, Fernando Haddad, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

O Partido dos Trabalhadores é um fenômeno social não replicável. Forjado a partir da luta social, reuniu pessoas advindas do novo sindicalismo, das comunidades eclesiais de base e da universidade. No timão do processo, um líder carismático de trajetória e inteligência incomuns que encantou a intelectualidade progressista. Nascia uma nova esquerda, antiautoritária e não-dogmática, que permitiu aos desprovidos da Terra sonhar com um governo que os representasse. Apesar de seus limites, não há precedente na nossa história de um partido similar eleitoralmente viável.

Cartaz de campanha do PT dos anos 80 - Reprodução

O erro de alguns progressistas não petistas é imaginar que o enfraquecimento do PT vai lhes favorecer. O lugar que o PT ocupa no espectro ideológico não é ideal, mas materialmente construído. Não é um espaço natural à espera de um hóspede, mas um espaço socialmente conquistado.

O erro de alguns petistas, por sua vez, é imaginar que o PT possa se fortalecer sem Lula. Não se reproduz facilmente uma liderança da sua qualidade. Lula e PT são não apenas indissociáveis como são eventos únicos e mutuamente dependentes.

O PT é sua militância. A força dessa militância abriu caminho para que novas lideranças emergissem, gente de extremo valor, que dificilmente teria um lugar ao sol na política sem rebaixar suas pretensões. Até outro dia, sobretudo no Nordeste, jovens talentosos beijavam a mão de velhos coronéis para ascender politicamente.

O PT mudou a cara do Nordeste, representou uma nova perspectiva para pobres, negros e mulheres de todo o país e combateu a desigualdade como nenhum outro partido, usando a educação como instrumento de transformação. Enterrou velhas oligarquias que, agora, esboçam um movimento de retorno, o que deveria estar no centro das nossas preocupações.

As eleições municipais não permitiram ao PT recuperar o espaço que perdeu em 2016. O avanço foi tímido. Com o encolhimento do centro (PDT e PSB) e da centro-direita (PSDB), ganharam terreno os partidos da direita e extrema direita descendentes da velha Arena, base de sustentação do regime militar e do bolsonarismo.

O antipetismo, em alguma medida, é também fruto do desejo de que uma polarização entre direita e extrema direita se estabeleça como garantia de que as estruturas socioeconômicas do país não se alterem. Nessa medida, a extrema direita é sistemicamente funcional enquanto cativa para um projeto reacionário parte do eleitorado pobre que quer "mudança".

O PT de Lula tem diante de si um futuro não menos desafiador neste país que, se nada for feito, terá, na precisa expressão de Millôr, um enorme passado pela frente.

Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

Alvaro Costa e Silva - Madame Satã contra os bolsonaristas,FSP

Em 2015, escrevi neste espaço que o mito de Madame Satã resiste a desconstruções. Na época ainda não havia o bolsonarismo oficial, e o cancelamento não era a última palavra nos debates e discussões das redes sociais.

Eu deveria ter prestado mais atenção ao comentário de um leitor indignado, para quem Madame era “infame” (bela rima) e uma figura que só despertava interesse dos “intelectuais que veem nele uma vítima da sociedade”. Pois agora o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, é quem investe contra o cidadão João Francisco dos Santos, morto em 1976, chamando-o de “triplo homicida”.

Como o órgão federal sob a responsabilidade de Camargo tem por atribuição valorizar a produção de negros brasileiros e combater o racismo, ele não tem o que fazer. Diverte-se retirando nomes de uma lista de homenageados: a ex-senadora Benedita da Silva, a escritora Conceição Evaristo, a cantora Elza Soares, os compositores Gilberto Gil, Milton Nascimento, Martinho de Vila.

Cena de "Madame Satã" (2002), de Karim Aïnouz
Lázaro Ramos (esq.) e Flávio Bauraqui em cena de "Madame Satã" (2002), do diretor Karim Aïnouz - Divulgação

Nem nos anos 30, quando atuava na Lapa e tinha fama de ter enfrentado no braço e na pernada uma patrulha inteira da Polícia Especial, Madame Satã era unanimidade. Diziam que ele não chegava aos pés de outros malandros históricos: Meia-Noite, Tinguá, Sete-Coroas, Miguelzinho Camisa Preta.

Depois de passar mais de 27 anos no presídio da Ilha Grande, a liberdade lhe entristeceu, pois havia encontrado na cadeia um lar. Foi recebido como herói-marginal da contracultura, deu entrevista ao Pasquim, posou para fotos de chapéu panamá, visitou os bares da moda, publicou uma autobiografia ficcional. Em pouco tempo a esquerda festiva enjoou dele: “Ih, lá vem a bicha velha”. Só o cartunista Jaguar foi amigo até o fim.

Camargo logo despontará para o anonimato. Madame será lembrado pelos séculos dos séculos. Para aplicar uma banda, é preciso ciência.

Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".