A pandemia foi deflagrada por uma causa muito concreta, o Sars-CoV-2, mas seu fim será um fenômeno muito mais psicológico do que físico. A esta altura, acho que ninguém mais acredita que o vírus possa ser eliminado. Ele está se tornando endêmico e deve permanecer entre nós por muito tempo, cada vez menos perigoso, espera-se. E é a sensação de segurança que ditará o ritmo da volta ao normal pré-pandêmico.
Há motivos para cautelosa esperança. Os médicos vão aprendendo a tratar os diferentes quadros críticos que a doença é capaz de provocar. A mortalidade do paciente grave já caiu significativamente do início da epidemia para cá.
A imunidade coletiva, sobre a qual muito se especulou, parece ainda distante, como indicam as várias segundas ondas registradas principalmente na Europa. Mas é importante notar que, antes de atingirmos os limiares necessários para alcançar a proteção comunitária, reduções no contingente de suscetíveis irão tornando as cadeias de transmissão do vírus menos eficientes. É possível que o uso mais disseminado das máscaras, ao diminuir a dose viral nos episódios de infecção, contribua para que os casos mais recentes sejam de menor gravidade.
E há as vacinas. Elas exigirão certo tempo para ser testadas, produzidas, distribuídas e aplicadas, mas só a perspectiva de que estejam próximas já ajuda a criar um clima de que sair de casa não é tão arriscado.
Diferentes pessoas retomarão suas vidas em tempos diferentes. Há desde o bolsonarista clássico que nunca usou máscara nem deixou de ir a festas até o hipocondríaco renitente que está há meses entrincheirado e passa álcool gel até na comida. A segmentação também ocorre por tipo de atividade. É provável que o sujeito esteja disposto a enfrentar uma reunião presencial no trabalho antes de sentir-se seguro para jantar fora ou ir ao cinema.
Para alguns a epidemia vai durar mais que para outros.