quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Hélio Schwartsman O fim da epidemia, FSP

A pandemia foi deflagrada por uma causa muito concreta, o Sars-CoV-2, mas seu fim será um fenômeno muito mais psicológico do que físico. A esta altura, acho que ninguém mais acredita que o vírus possa ser eliminado. Ele está se tornando endêmico e deve permanecer entre nós por muito tempo, cada vez menos perigoso, espera-se. E é a sensação de segurança que ditará o ritmo da volta ao normal pré-pandêmico.

Há motivos para cautelosa esperança. Os médicos vão aprendendo a tratar os diferentes quadros críticos que a doença é capaz de provocar. A mortalidade do paciente grave já caiu significativamente do início da epidemia para cá.

A imunidade coletiva, sobre a qual muito se especulou, parece ainda distante, como indicam as várias segundas ondas registradas principalmente na Europa. Mas é importante notar que, antes de atingirmos os limiares necessários para alcançar a proteção comunitária, reduções no contingente de suscetíveis irão tornando as cadeias de transmissão do vírus menos eficientes. É possível que o uso mais disseminado das máscaras, ao diminuir a dose viral nos episódios de infecção, contribua para que os casos mais recentes sejam de menor gravidade.

E há as vacinas. Elas exigirão certo tempo para ser testadas, produzidas, distribuídas e aplicadas, mas só a perspectiva de que estejam próximas já ajuda a criar um clima de que sair de casa não é tão arriscado.

Diferentes pessoas retomarão suas vidas em tempos diferentes. Há desde o bolsonarista clássico que nunca usou máscara nem deixou de ir a festas até o hipocondríaco renitente que está há meses entrincheirado e passa álcool gel até na comida. A segmentação também ocorre por tipo de atividade. É provável que o sujeito esteja disposto a enfrentar uma reunião presencial no trabalho antes de sentir-se seguro para jantar fora ou ir ao cinema.

Para alguns a epidemia vai durar mais que para outros.

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Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

05.10.20 | Ar-condicionado aumenta muito a conta de luz; veja se vale a pena para você, Procel

 

Fonte: UOL - 01.10.2020
São Paulo – O calor histórico só te faz pensar em ligar o ar-condicionado no máximo? Este é um sonho cada vez mais acessível, com aparelhos custando em torno de R$ 1.000. Mas saiba que esse investimento inicial é apenas uma pequena parte dos gastos que estão por vir.

"Nos meses de verão intenso, em uma residência média, que faz uso intenso do ar-condicionado, sem qualquer preocupação com medidas de redução de consumo, o impacto pode chegar a até 50% de aumento na conta de energia elétrica", explica Roberto Peixoto, professor de Engenharia Mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia.

O ar-condicionado tem um consumo de energia similar ao de um chuveiro elétrico, com a diferença de que tende a ficar ligado por muito mais tempo.

"Um aparelho de ar-condicionado de 12.000 BTU consome tipicamente 25 kWh/mês para ficar ligado apenas uma hora por dia. Se ficar ligado quatro horas por dia, dependendo do ambiente, pode consumir 100 kWh/mês", explica Renato Giacomini, coordenador do departamento de Engenharia Elétrica da FEI.

Para você ter uma ideia do que esse número significa, uma residência brasileira consome em média 157,9 kWh/mês, de acordo com o Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2018 da EPE (Empresa de Pesquisa Energética, do Governo Federal). Ou seja, um ar-condicionado ligado diariamente por quatro horas consome 63% do consumo total de um mês.

A boa notícia é que dá para reduzir isso se seguirmos alguns procedimentos.

Manutenção em dia

O primeiro passo para evitar que o seu ar-condicionado seja um vilão do consumo de energia elétrica é garantir que ele esteja em boa forma.

"O ideal é limpar os filtros periodicamente, verificar se as saídas de ar não estão obstruídas, evitar que a unidade condensadora [o 'motor' do aparelho] sofra incidência direta do sol e verificar a carga do fluido refrigerante e se há vazamentos desse líquido", diz Peixoto.

Essa seria a manutenção "básica" do aparelho. "O ideal é que um profissional qualificado também faça uma inspeção antes da chegada do verão ou semestralmente, dependendo da intensidade de uso do ar-condicionado", ressalta Giacomini.

Uso econômico

Além da manutenção em dia, algumas práticas podem diminuir um pouco o consumo de energia elétrica do aparelho. O primeiro passo é evitar que haja muita troca de calor entre o ambiente refrigerado pelo ar-condicionado e a sua parte externa. Ou seja: deixe o local com portas e janelas fechadas.

Desligar o ar-condicionado assim que a temperatura desejada é atingida também não é uma boa ideia. "Há dois esforços principais realizados pelo ar-condicionado: diminuir a temperatura de um ambiente e manter ela baixa. Caso o período sem a necessidade de uso do aparelho for longo, de um dia para outro, por exemplo, vale a pena desligar. Se esse período for curto, de uma hora, por exemplo, melhor deixar ligado", diz Giacomini.

Outra solução é não programar o aparelho para gerar temperaturas muito baixas. "Essa é uma medida que tem grande impacto, reduzindo o consumo de energia significativamente", aponta Peixoto.

Os aparelhos de ar-condicionado modernos têm sistemas de controle automático de temperatura, que liga e desliga o compressor de acordo com a necessidade do ambiente. Uma vez que a temperatura escolhida for mais alta, o ar-condicionado se esforçará menos para mantê-la e seu compressor passará mais tempo desligado.

Escolha o equipamento correto

A escolha do aparelho também é relevante. Uma tecnologia que faz o ar-condicionado consumir menos é o chamado inverter, que ajusta a velocidade do compressor à demanda de resfriamento do ambiente. "Equipamentos com esta tecnologia são mais caros, mas a redução do consumo de energia pode chegar a 40%", avalia Peixoto.

Por fim, há quem coloque um pano ou uma toalha na frente do aparelho para evitar que a corrente de ar frio atinja diretamente o corpo. Além de forçar o funcionamento do aparelho e atrapalhar a climatização do ambiente, o ar-condicionado pode ser danificado.

"Se o bloqueio de ar for significativo e o pano estiver úmido, pode ainda haver congelamento de parte da seção de saída e até a eventual perda do aparelho", explica Joseph Youssif Saab Jr., coordenador do curso de Engenharia Mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia.

De qualquer forma, há alguns fatores que afetam o consumo de energia e que não dependem do usuário. O principal deles é o ambiente no qual o ar-condicionado irá funcionar. "Quanto maior a temperatura e a umidade do ambiente, maior o consumo de energia do ar-condicionado", conclui Peixoto.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Bolsa brasileira tem a maior queda do mundo em dólares neste ano, FSP

 Júlia Moura

SÃO PAULO

Após uma valorização de quase 100% entre o impeachment de Dilma Rousseff (PT) até o fim de 2019, o Ibovespa segue como o pior índice global em dólares em 2020.

Em março deste ano, com a declaração da OMS (Organização Mundial da Saúde) de pandemia de Covid-19, a situação piorou e a Bolsa voltou a níveis de 2017. A saída de estrangeiros da Bolsa aumentou, e o Ibovespa passou a ser o índice global com mais perdas em dólar do mundo, de acordo com estudo do Goldman Sachs.

A forte queda de 18,7% do índice neste ano somada à forte desvalorização do real levam a Bolsa paulista a cair 42,5% na moeda americana. Segundo o banco dos EUA, a desvalorização do mercado brasileiro em março superou a média de crises anteriores —o Ibovespa teve o pior trimestre da história no início de 2020.

Monitor mostra variações da Bolsa brasileira
Em dólares, Ibovespa tem maior queda do mundo em 2020 - Daniel Marenco/Folhapress

A Bolsa da Colômbia é a segunda que mais se desvaloriza, com perdas de 40,5% na moeda americana. Na moeda local, porém, cai mais que o Ibovespa neste ano (29,9%).

Em seguida vem a Indonésia, com queda de 31,8% na moeda americana e de 21,8% na moeda local. Logo atrás estão Chile, Turquia, México e Rússia, países cujas moedas também se depreciam ante o dólar.

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Por ser um mercado líquido —de fácil venda dos ativos— que vinha de uma forte alta nos últimos anos, estrangeiros aproveitaram o momento de incerteza para realizar os ganhos no Brasil e buscar investimentos mais seguros, como dólar, ouro e títulos do Tesouro dos EUA.

A saída do investidor de fora, porém, começou em 2018, com a alta de 76% do Ibovespa entre 2016 e 2017, impulsionada pelo impeachment pelos cortes de juros —a Selic foi de 14,25% em 2016 para 6,% em 2018. Foram R$ 11,5 bilhões a menos de dinheiro estrangeiro na Bolsa em 2018 e R$ 44,5 bilhões em 2019 e, até setembro deste ano, há uma saída recorde de R$ 87,7 bilhões.

“Em 2019, a Bolsa estava alta e o dólar estava em baixa, então, tivemos muita realização de lucros. Agora, o investidor sai em busca mercados mais sólidos e dinâmicos, com recuperação mais rápida, como os Estados Unidos”, diz George Sales, professor do Ibmec. Segundo o economista, a perspectiva de recuperação lenta do Brasil, com um baixo crescimento nos últimos anos, deixa o país pouco atrativo para investidores.

“A Covid-19 foi um azar, mas o governo também não ajuda, o que gera muita oscilação no mercado. O governo tinha que ser mais discreto, mas a campanha política nunca passou. Isso assusta investidor e o de longo prazo é o primeiro a sair.”

Na última sexta (2), o ministro Paulo Guedes (Economia) protagonizou mais um desentendimento em Brasília, desta vez com o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) sobre o Renda Cidadã, cujo financiamento pode deteriorar a saúde fiscal do país, segundo especialistas. O atrito levou a Bolsa a cair 1,5%.

“A economia está muito ruim e a perspectiva futura é incerta. Já vínhamos de uma crise fiscal, que, com o coronavírus, se agravou, deixando todo mundo com pé atrás”, diz Bruno Giovannetti, professor da FGV.
Os economistas também afirmam que a crise ambiental em torno da Amazônia deixou o país mal visto pelos estrangeiros, especialmente europeus, levando-os a deixar o Brasil.