segunda-feira, 11 de maio de 2020

Ronaldo Lemos O Oversight Board do Facebook, FSP

O conselho não tem a obrigação de maximizar os lucros da empresa ou agradá-la

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Na semana passada, circulou a notícia da criação do Oversight Board (Conselho de Supervisão), órgão independente criado pelo Facebook.
O conselho é composto atualmente por 20 membros de diversos perfis e regiões geográficas. Sua lista de integrantes inclui uma ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, a ex-primeira-ministra da Dinamarca, um ex-juiz Federal dos EUA e o antigo editor do jornal The Guardian. Inclui também este colunista.
O Oversight Board não se confunde com o Facebook e nem é governado por ele. Ao contrário, foi criado para limitar o poder da empresa, que tem hoje 3 bilhões de usuários.
Sua função é decidir em última instância sobre a publicação de conteúdos no Facebook e no Instagram. Para isso, o conselho foi criado na forma de uma organização autônoma, que começa seus trabalhos 
com um orçamento inicial irrevogável de US$ 130 milhões.
Logo do Facebook
Logo do Facebook - Loic Venance/AFP
Mas por que criar um Oversight Board? Nos últimos anos, as empresas de tecnologia têm decidido cada vez mais casos envolvendo conteúdos problemáticos, que violam direitos ou suas regras de uso. Uma das razões para isso são mudanças normativas que se aplicam não só ao Facebook, mas a várias plataformas.
Por exemplo, em 2014 uma decisão da Corte Europeia de Justiça criou o chamado “direito ao esquecimento”. Essa decisão determinou que buscadores como o Google deveriam remover dos resultados de busca conteúdos que fossem inadequados, irrelevantes, excessivos.
A questão é justamente definir o que é “inadequado”, “irrelevante” ou “excessivo”. Essa tarefa passou a ser não só do Poder Judiciário mas do próprio Google, que em 2018 já havia recebido 2,4 milhões pedidos de remoção imediata de conteúdos com base nesses novos critérios. O próprio Google consultou advogados, professores e especialistas.
No entanto, quando decisões assim são tomadas apenas de forma interna, sem publicização das justificativas (como faz o Judiciário quando decide), o debate sobre a aplicação dos critérios não avança. Além disso, é um exercício de poder enorme, além daquele já concentrado pelas plataformas.
O Facebook toma, assim, a iniciativa de realizar um experimento institucional. Criou um conselho externo capaz de limitar o seu poder de atuação com respeito a esse tema. O conselho tem a tarefa de tomar decisões públicas, de forma justificada, levando em consideração tratados internacionais de direitos humanos e de proteção à liberdade de expressão.
Como órgão independente, o Oversight Board não tem a obrigação de maximizar os lucros do Facebook ou agradar à empresa. Seus membros têm mandatos fixos e não podem ser afastados. Além disso, todas as decisões serão colegiadas, tomadas por painéis rotativos e referendadas pelo plenário.
Por fim, o conselho será capaz de analisar apenas um conjunto limitado de casos exemplares por ano. Haverá casos difíceis, envolvendo discursos de ódio, disseminação de imagens violentas relacionadas a tragédias, ou ainda a questão sobre o dever de tratar de forma distinta conteúdos postados por pessoas públicas.
É claro que o papel de cada país de tratar desses desafios permanece intocado. O que muda agora é que o Facebook abdica de sua palavra final sobre casos como esses para um conselho externo e independente.

READER

Já era esbloquear o celular com código numérico ou digital
Já é esbloquear o celular com o rosto
Já vem esbloquear o celular com o rosto, mesmo usando máscara​
Ronaldo Lemos
Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Google levou 4 dias para pôr seus 1.000 funcionários no Brasil em home office, FSP

O Google levou apenas quatro dias para operacionalizar o home office dos mil funcionários da empresa no Brasil para manter o isolamento social para combater a pandemia do novo coronavírus.
Segundo o presidente do Google no país, Fábio Coelho, a companhia já possuía ferramentas para trabalhar de qualquer lugar. “Mas sempre estimulamos as pessoas a irem para o escritório, que é um ambiente de troca de ideias”, diz.
Agora, Coelho afirma que ainda não existe um plano para o retorno, mas que as coisas não podem mais ser como eram antes.
Fabio Coelho, presidente do Google - Adriano Vizioni - 14.mar.2018/Folhapress
Como o Google Brasil fez para que os funcionários fossem para o home office?
A primeira coisa que temos que comentar é que temos uma empresa global que passou pela experiência na China, na Coreia do Sul e em outros países da Ásia. A gente tinha um protocolo a seguir, com estágios de entendimento da gravidade do problema e de quando as pessoas passariam a trabalhar de casa.
No dia 12 de março, em reunião interna, decidimos que estaríamos trabalhando de casa a partir da segunda-feira seguinte. No dia 16 de março 100% dos nossos funcionários passaram a trabalhar de casa. São mil funcionários.
Quais foram as dificuldades enfrentadas?
Foi um processo, não simples, mas bastante pensado e bem executado. Conto isso para que não pareça que estamos minimizando a dificuldade de empresas que não têm tecnologia avançada. Empresas que têm pedaço da atividade em receber clientes, como bar, restaurante, viagens. No nosso caso foi uma experiência que ocorreu sem grande sobressaltos.
Como ficou a produtividade da empresa?
Na verdade, vejo a gente trabalhando mais do que antes. Nosso trabalho ficou mais focado. Adotamos alguns conceitos básicos, o que significa que mantemos as rotinas. Sigo fazendo a reunião com o comercial do Google na primeira hora das segundas. Com o meu grupo de diretores, faço uma reunião diária de meia hora pela manhã. A rotina vale para o trabalho, mas vale para outras coisas. A queda de produtividade é pequena e ela existe porque precisamos do entendimento das diferenças. De coisas que fazem parte da vida de todos nós. Um suporte doméstico que não pode ter mais, crianças em casa, entre outras coisas.
Como foi para os funcionários?
A maior parte já tinha infraestrutura em casa, mas teve gente que precisou de ajuda. Pessoas que estavam com o computador com a chave de segurança desatualizada, precisamos validar a qualidade de conectividade em casa. Garantir que as pessoas estivessem conectadas foi parte do apoio.
Existe previsão de corte de custo ou redução do espaço de trabalho?
Não.Estamos ampliando nosso quadro no Brasil. Precisamos pensar também que na hora que formos voltar para o escritório vamos ter que trabalhar com distanciamento social diferente do de hoje. E talvez isso impacte no espaço necessário, mesmo que mais pessoas façam home office.
Vocês pretendem manter parte do quadro trabalhando de casa?
Vai haver uma reavaliação das empresas como um todo. Que tipo de experiência você quer em um ambiente presencial? Isso impacta call centers, escolas, escritórios, ambientes que as pessoas iam porque não tinham autorização para fazer diferente.
Se pensar bem, o modelo de trabalho de oito horas, das 8h às 17h, foi criado na revolução industrial. Faz 130 anos! Agora temos as ferramentas e a necessidade de fazer um período prolongado de casa. Abre a porta para a reflexão. Por que as pessoas têm que chegar no mesmo horário? Como as empresas vão se organizar com relação às rotinas para que possam trabalhar e ter interações com clientes e colaboradores?
Como será a volta do Google?
Vamos voltar com cuidado. Não queremos especular sobre a volta, não tem data para isso. Podemos aprender com a experiência dos outros países para poder nos antecipar, mas ainda não temos um plano de retorno.
Tem que ser cuidadosa, seguindo todos os protocolos sanitários de maneira mais abrangente e mais dura.
Com certeza não se volta para o que era antes. O momento coloca uma reflexão sobre como a gente trabalha. Podemos ter dias da semana que só mulheres podem sair, horários que só pessoas de certa idade podem sair. São discussões que estão ocorrendo ao redor do mundo. As coisas não podem ser como eram antes. Não podemos pegar transporte público lotado, até porque não é necessário.
O Google pretende fazer testagem em massa nos funcionários?
Não sei. Ainda estamos com uma discussão bem embrionária sobre isso.