A sociedade melhorará se proliferarem atletas que expõem suas posições políticas
O comentarista e ex-atleta Caio Ribeiro, conhecido pela mansidão de suas intervenções, razão pela qual é querido pelos atuais jogadores, saiu de seus cuidados e censurou o diretor são-paulino e ex-craque Raí por ter declarado ser favorável à renúncia do presidente da República.
Para ele, Raí pôs o clube em risco.
Ribeiro deve estar arrependido de ter descido do muro, tão negativa foi a reação da sociedade, a começar pela de seus colegas.
Pois não deveria se arrepender nem se mostrar constrangido ao tentar se explicar.
Ao contrário, deveria, isso sim, ter sido transparente e esclarecido que é filho do conselheiro oposicionista no São Paulo, Dorival Decoussau.
Nenhum problema em concordar com o pai, por sinal, preso pela PF, em flagrante, em 1985, quando ocupava o cargo de superintendente do Hospital Matarazzo, por fraudar guias de internação do Inamps (hoje INSS) e ocasionado prejuízo de CR$ 100 milhões mensais aos cofres públicos.
Concordemos que poderia omitir a segunda parte, já seria sincericídio, até por não poder ser responsabilizado pelos maus feitos paternos, mas nunca a primeira.
Se não bastasse, o deputado Eduardo Bolsonaro saiu em sua defesa pelas redes antissociais. Tudo de que ele não precisava.
Daí ter ressurgido a velha discussão da mistura de esporte e política, como se fossem campos indissociáveis.
Alguns alienados bolsominions quiseram minimizar o episódio e outros, cujos Ticos não se comunicam com seus Tecos, viram nas críticas ao posicionamento de Ribeiro uma tentativa de censura.
Do saudável debate resultou claro serem iguais os direitos de Ribeiro dizer o que disse e de seus críticos —é redundante lembrar ser a democracia a arte da divergência civilizada, assim como exigir transparência.
A rara leitora e o raro leitor não têm dúvida sobre qual seja o lado do colunista que, embora lastime a preferência eleitoral de Felipe Melo, defendeu e saudou que a manifestasse. Como sempre apoiou as opiniões do Doutor Sócrates, não por acaso irmão mais velho de Raí, o que é público e notório.
Veja que na série sobre o gigante Michael Jordan, na Netflix, ele se sai mal ao não fazer a campanha, embora tenha colaborado financeiramente, de quem seria o primeiro senador negro de seu estado, contra o oponente racista e, enfim, vencedor do pleito.
Para decepção dos politizados, Jordan, garoto-propaganda de marca esportiva, justificou-se dizendo que “os republicanos também compram tênis”.
Esportistas voltados apenas para os próprios umbigos são a regra.
O Rei Pelé apanhou por dizer, na década de 1970, que “brasileiro não estava preparado para votar”, o que pareceu, então, apoio à ditadura, e, também, por pedir que “olhassem para as criancinhas do Brasil”, o que, em 1969, poderia ser crítica à ditadura.
Na verdade, ele jamais desempenhou o papel político que seria desejável, embora sua Lei Pelé tenha sido uma espécie de Lei Áurea para os jogadores de futebol.
Afonsinho, Reinaldo, Sócrates, Casagrande, Wladimir, Paulo André, Juninho Pernambucano, como Muhammad Ali, Éric Cantona, Megan Rapinoe, Tommie Smith e John Carlos, os atletas punidos pelo gesto em apoio ao Poder Negro no pódio da Olimpíada de 1968, ou Colin Kaepernick, do futebol americano, são exceções, como LeBron James.
A sociedade melhorará se proliferarem.