quarta-feira, 3 de outubro de 2018

BRUNO BOGHOSSIAN Antipetismo atravessa questões econômicas e turbina Bolsonaro, FSP

crescimento de Jair Bolsonaro e a disparada simultânea da rejeição a Fernando Haddad mostram o potencial do antipetismo como fator de definição do voto este ano. A aversão ao partido atravessa os segmentos do eleitorado, superando questões econômicas, sociais, regionais e até democráticas.
candidato do PSL ganhou espaço em nichos que haviam erguido barreiras a seu avanço, como mulheres (27%), o Nordeste (20%) e os mais pobres (21%). Haddad parou de crescer em todos esses grupos e ainda viu sua rejeição subir 10 pontos no eleitorado feminino, chegando a 36%.
A repulsa ao PT sempre deu as caras nas grandes eleições com participação da sigla, aparecendo em todos os estratos da população com maior ou menor intensidade. O que os números do Datafolha sugerem é que Bolsonaro conseguiu aglutinar esse sentimento de maneira vigorosa na reta final do primeiro turno.
Dos eleitores que dizem não votar em Haddad de jeito nenhum, 63% escolhem Bolsonaro. O restante se pulveriza entre Geraldo Alckmin(8%), Ciro Gomes (7%) e outros. Como a rejeição ao petista disparou, o candidato do PSL ganhou mais fôlego.
A adesão indica que esse motor rigorosamente político e simbólico vale mais para alguns eleitores do que preferências e princípios sociais. Bolsonaro e sua campanha já fizeram ataques públicos às mulheres e indicaram que pretendem reduzir direitos trabalhistas, por exemplo. Mas o antipetismo fala mais alto.
A animosidade em relação ao PT transporta, de carona com Bolsonaro, grupos de interesse como o agronegócio e a bancada evangélica. Os parlamentares ruralistas e a Igreja Universal, com um braço partidário no Congresso (o PRB), declararam apoio ao presidenciável, que aceitou sorridente essas adesões.
Bolsonaro precisa de grupos políticos numerosos para governar e indicou que pretende atender às pautas dessa turma. Embora tente simbolizar renovação, o candidato abraça corporações que participam do poder há décadas (inclusive com o PT).


Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).