domingo, 19 de fevereiro de 2017

POLÍTICA BRASÍLIA Delação da Odebrecht cita R$ 7 mi a ministro do PRB, OESP



Foto: FABIO POZZEBOM|AGÊNCIA BRASIL
Marcos Pereira
Marcos Pereira é titular da pasta da Indústria
BRASÍLIA - O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, negociou um repasse de R$ 7 milhões do caixa 2 da Odebrecht para o PRB na campanha de 2014, segundo depoimento que integra a delação da empreiteira na Lava Jato. Os recursos, entregues em dinheiro vivo, compraram apoio do partido então presidido por Pereira à campanha de reeleição de Dilma Rousseff, que tinha Michel Temer como vice. 
O dinheiro dado ao PRB fazia parte de um pacote maior, que envolvia também o apoio de PROS, PCdoB, PP e PDT à chapa governista. Ao todo, a Odebrecht colocou cerca de R$ 30 milhões na operação, como o Estado revelou em dezembro. O acordo é descrito, com diferentes pedaços da história, nas delações de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e dono da empreiteira, e dos executivos Alexandrino Alencar e Fernando Cunha.
Sexto ministro de Temer citado na Lava Jato, na época Pereira tratou pessoalmente do assunto com Alexandrino, um dos 77 executivos da Odebrecht que fizeram acordo de delação já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com as delações, Pereira esteve mais de uma vez na sede da Odebrecht em São Paulo para combinar como e a quem o dinheiro, entregue em parcelas, deveria ser repassado. 
O ministro rebate as afirmações dos delatores. “Eu desconheço essa operação. Comigo não foi tratado nada disso”, disse. “Delação não é prova.”
Presidente licenciado do PRB, Marcos Pereira é homem forte no partido fundado por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus após o escândalo do mensalão. Ao Estado, ele contou que ajudava a arrecadar recursos para campanhas do seu partido, que tem 23 deputados, um senador e comanda a prefeitura do Rio, com Marcelo Crivella. A pasta da Indústria, embora tenha perdido poderes com Temer, continua sendo uma das mais relevantes do governo. 
TV. O apoio do PRB e dos outros quatro partidos garantiu à chapa Dilma-Temer 2 minutos e 39 segundos a mais na propaganda eleitoral de televisão – totalizando mais de 11 minutos, ante apenas 6 minutos de Aécio Neves, o candidato do PSDB. O PRB recebeu R$ 7 milhões em troca de 20 segundos por dia de campanha. 
Segundo os relatos dos executivos da Odebrecht, a empreiteira agiu a pedido de Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma e hoje prefeito de Araraquara (SP), realizado num encontro com Marcelo e Alexandrino em São Paulo. 
Feito o acerto, de acordo com os depoimentos, Alexandrino ficou encarregado de fazer com que PCdoB, PROS e PRB recebessem R$ 7 milhões cada um do departamento de propinas da Odebrecht. Fernando Cunha mandou R$ 4 milhões para o PDT. O Estado não conseguiu confirmar como foi a negociação com o PP.
Edinho Silva nega o acerto com a Odebrecht. “Não participei de tratativas com os partidos na época das composições. Eu ainda não era coordenador financeiro”, afirmou. Procurada, a Odebrecht informou que não iria se manifestar.
Os relatos de que houve compra de apoio partidário para a campanha Dilma-Temer poderão ser analisados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no processo que investiga abuso de poder político e econômico na campanha. O Estado apurou que o relator, ministro Herman Benjamin, decide nesta semana se vai requisitar os depoimentos, que estão na Procuradoria-Geral da República.
Outras Citações
Eliseu Padilha (PMDB) - Casa Civil
Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, apontou Padilha como preposto de Michel Temer e do PMDB para receber valores, via caixa 2. Padilha negou ter arrecadado para o partido. Temer repudiou as declarações.
Moreira Franco (PMDB) - Secretaria-Geral da Presidência
Melo Filho citou tratativas com o ministro na área de aeroportos. Outro ex-executivo da Odebrecht, Paulo Cesena, também citou Moreira. O ministro disse que, como titular da Aviação Civil, sempre atuou “de acordo com as leis”.
José Serra (PSDB) - Relações Exteriores
Pedro Novis e Carlos Armando Paschoal, executivos da Odebrecht, relataram repasse de R$ 23 milhões, via caixa 2, à campanha presidencial de Serra em 2010. O chanceler negou irregularidades.
Gilberto Kassab (PSD) - Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
Paulo Cesena, da Odebrecht, mencionou doações de R$ 14 milhões para o ministro, em 2013 e 2014. Kassab afirmou que as doações recebidas foram legais.
Bruno Araújo (PSDB) - Cidades
Cláudio Melo Filho disse que mantinha “boa relação profissional e pessoal” com o então deputado, com quem tratou de temas como “política na Bahia” e “renovação dos contratos de energia no Nordeste”. Araújo disse que valores recebidos da empreiteira foram declarados à Justiça.
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

MP abre inquérito de improbidade contra secretário de Meio Ambiente, OESP




Ricardo Salles e duas funcionárias da pasta que ele comanda são investigados por interferência no processo de elaboração do plano de manejo de APA; pressão por mudanças teria sido feita pela Fiesp


Giovana Girardi ,
O Estado de S.Paulo
17 Fevereiro 2017 | 15h42
Atualizado 17 Fevereiro 2017 | 21h39
SÃO PAULO - O Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito de improbidade administrativa contra o secretário estadual de Meio Ambiente, Ricardo Salles, e duas funcionárias da secretaria por possível interferência no processo de elaboração do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Rio Tietê.

Foto: Pedro Calado/Secretaria do Meio Ambiente
MP abre inquérito de improbidade contra secretário de Meio Ambiente de SP
O secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, Ricardo Salles
O plano, aprovado no último dia 31 de janeiro no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), sofreu, desde agosto do ano passado, depois que Salles assumiu a pasta, alterações na minuta e em pelo menos seis mapas que modificaram o zoneamento da área protegida, deixando parte dela mais permissiva a atividades industriais e minerais.
Segundo a investigação, essas alterações foram feitas sem nenhuma justificativa – depois de os mapas originais terem sido aprovados pelo Conselho Gestor da APA – e houve pressão para que elas passassem despercebidas.
A divulgação da abertura do inquérito foi feita nesta sexta-feira, 17, em entrevista coletiva pelos promotores Silvio Marques, da promotoria de Patrimônio Público e Social, e Leandro Leme, do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema)/Cabeceiras. Marques classificou as mudanças como “maliciosas” por “permitir que empresas se beneficiassem”. Não foi divulgada, porém, qual empresa poderia estar se beneficiando.
Conforme o Estado apurou, as mudanças foram solicitadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) à Secretaria do Meio Ambiente, que pressionou no final do ano passado o então coordenador do Setor de Geoprocessamento e Cartografia da Fundação Florestal, Victor Godoy da Costa, a fazer as mudanças. O técnico, que pediu demissão depois do que ocorreu, prestou depoimento ao MP no início do mês relatando as pressões e entregando cópias dos e-mails com provas. Ele também falou com exclusividade ao Estado no início desta semana.
Costa relatou que as duas funcionárias da Secretaria do Meio Ambiente também citadas na investigação, primeiramente Fernanda Lemes, coordenadora do Núcleo de Manejo, e depois Maria Emília Menezes Shimura, coordenadora do núcleo de Regularização Fundiária, o procuraram pedindo para ele fazer alterações no zoneamento de algumas áreas do plano. 
Em todos os casos, os pedidos eram para que áreas consideradas como zona de conservação hidrodinâmica de planície fluvial, categoria que restringe diversos usos e protege a vegetação, fossem transformadas em zonas de reordenamento social da paisagem, bem mais permissivas.
“Elas não deram nenhuma justificativa ambiental para aquelas alterações. Primeiro por telefone, depois pedi que enviassem por e-mail. Na época, eu e minha equipe acabamos fazendo as mudanças, mas destacamos com legendas e com sinais o que tinha sido alterado da versão original feita pela USP em 2013 e que tinha sido aprovada pelo Conselho Gestor da APA. Apontamos que aquelas eram propostas de novos mapas. Mas depois me falaram que não era para apontar mudança nenhuma”, contou ao Estado.
Costa também relatou que, em um dado momento, ele notou que um dos e-mails enviados pela secretaria encaminhavam mensagens enviadas originalmente pela Fiesp pediam as mudanças.  Uma das mensagens também trazia o logo da federação.
"As alterações originalmente feitas pelo meu setor deixavam explicitadas as mudanças, inclusive com círculos no próprio mapa indicando as áreas alteradas e legenda específica para as alterações, além de indicações nos carimbos dos mapas tal qual 'Representação das áreas propostas pela Fiesp para a alteração do zoneamento do plano de manejo da área de proteção ambiental da várzea do rio Tietê'. Tal título foi colocado nos mapas porque ficava bastante claro da leitura dos e-mails contendo as ordens de alteração que tais determinações atendiam a pleitos da Fiesp", disse Costa em depoimento ao MP.
“Pelo conteúdo dos e-mails, extrai-se que houve uma reunião com representantes da Fiesp no dia 11 de novembro de 2016 e que em tal reunião foram esboçadas as alterações que foram determinadas ao meu setor, que recebeu mapas com post-its e inscrições a caneta indicando as mudanças a serem elaboradas”, continuou ele no depoimento. As declarações foram confirmadas ao Estado pelo técnico em entreviata posterior.
Segundo o promotor Silvio Marques, que confirmou ao Estado que os e-mails foram encaminhados à promotoria, as mensagens são “comprometedoras” e deixam “evidente a falcatrua”.
Consema. As mudanças haviam sido percebidas pelo MP às vésperas da reunião do Consema (veja vídeo a partir dos 48 min). No encontro, Leme e uma técnica do MP, a bióloga Lélia Marino, alertaram o colegiado sobre as alterações e sugeriram que o documento voltasse a ser analisado, tanto para que houvesse uma explicação de por que aquelas mudanças foram adotadas e também para que se discutisse se elas eram válidas mesmo. 
“Ao longo do tempo, a ocupação dessas áreas da forma como está proposta, pode promover uma maior impermeabilização dessas áreas do que se mantivesse na forma originalmente proposta no plano de manejo”, disse Lélia ao conselho. Leme também colocou que se o plano de manejo fosse aprovado daquela maneira, havia risco de judicialização.
Boa parte da APA, que tem uma área total de 7.400 hectares acompanhando o curso do rio Tietê a partir de Salesópolis, já é ocupada por indústrias, loteamentos de baixo padrão, empreendimentos minerários e agricultura, o que levou “à degradação da qualidade das águas e contribuindo para o problema de enchentes na Região Metropolitana de São Paulo”, como informa a página sobre a unidade no site da Secretaria do Meio Ambiente.
Abrigo para a Mata Atlântica, a APA foi criada em 1987 com o objetivo de proteger as várzeas e planícies perto do Rio Tietê. Ocupa parte das áreas dos municípios de Barueri, Biritiba-Mirim, Carapicuíba, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Osasco, Poá, Salesópolis, Santana de Parnaíba, São Paulo e Suzano.
Apesar da manifestação do promotor e da técnica, o secretário Ricardo Salles, que preside o Consema, minimizou o problema na reunião. “Vou dizer de maneira muito direta: a judicialização desse tema só atrapalha a sociedade”, para depois afirmar que “o procedimento adotado seguiu rigorosamente o que há de mais qualificado dentro do sistema ambiental paulista” e que “os temas que foram trazidos como alteração foram discutidos amplamente pelo corpo técnico da secretaria, inclusive com o grupo de biodiversidade”. Na sequência, ele pediu a aprovação do texto.
O MP só ouviu as testemunhas depois dessa reunião. O técnico Victor Costa, que já havia pedido demissão, se mudou para a Irlanda. Para entrar em vigor, o plano de manejo só precisa da assinatura do governador Geraldo Alckmin, o que pode ocorrer a qualquer momento.
Outro lado. Por meio de nota, a Secretaria do Meio Ambiente disse "desconhecer o teor da investigação". Também afirmou: "Quanto à Área de Proteção Ambiental da Várzea do Tietê, o respectivo plano de manejo foi regularmente aprovado em sessão pública do Conselho Estadual do Meio Ambiente em 31 de janeiro de 2017."
A Fiesp, também por meio de nota, disse que é membro do Consema e que "sempre se posiciona no legítimo interesse e na defesa do setor industrial nos termos do nosso Estatuto." E continuou: "As manifestações da Fiesp relacionadas ao Plano de Manejo da APA Várzea do Tietê se pautaram pelo atendimento à legislação em vigor e aos princípios do desenvolvimento sustentável, destacando que o mesmo foi objeto de ampla discussão e aprovação pelo Plenário do Consema, cujas reuniões e deliberações são públicas."

O interesse geral, Ruy Castro , FSP




RIO DE JANEIRO - Barcelona, xodó de 9 entre 10 prefeitos que se preocupam com suas cidades, acaba de proibir a construção de novos hotéis em sua área turística. Mesmo nas zonas menos solicitadas, mas já razoavelmente servidas de hospedagem, só se poderá abrir um novo hotel caso outro feche, e com o mesmo número de leitos. E, para evitar que residências particulares se transformem em hostels, vão intensificar a fiscalização. Por que tudo isto? Para garantir o respeito ao "interesse geral".
Esse "interesse geral", em contraposição a um laissez-faire sem limites, é observado em muitas cidades da Europa e que ninguém se atreva a resmungar em nome do direito de propriedade. O coletivo fala mais alto. Em Paris, onde até o número de padarias por quarteirão é regulado —e há cidade no mundo que cultue mais o pão e a liberdade?—, não há hipótese de um mesmo bairro comportar um número exagerado de, por exemplo, farmácias.
No Leblon, aqui no Rio, somente a avenida Ataulfo de Paiva, sua principal artéria, tem cerca de 20 farmácias em pouco mais de 1 km de extensão. Em média, uma a cada 50 metros —como se o bairro com um dos maiores PIBs e o metro quadrado mais caro do país fosse um reduto de enfermos e estropiados. Além disso, as farmácias têm a desagradável característica de, uma vez abertas, sobreviver a seus clientes —nunca se vê uma fechar as portas. Em contrapartida, nove livrarias abriram e fecharam no Leblon nos últimos 15 anos.
Não se fala na criação de novos teatros, bibliotecas ou instituições culturais, em que as pessoas possam se reunir para falar, ouvir, aprender e discutir. Já as farmácias se reproduzem como amebas, ao lado de restaurantes, academias de ginástica e bancos que também não param de abrir.
É o que nos resta: morrer bem alimentados, sarados e com as contas em dia.