sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Em ano de crise, Alckmin investe 34% menos; valor é o menor desde 2008, oesp

SÃO PAULO - O governo Geraldo Alckmin (PSDB) investiu em São Paulo 34% menos do que o previsto para 2016, ano marcado por recessão econômica e queda recorde de arrecadação. Relatório divulgado nesta terça-feira, 31, pela Secretaria Estadual da Fazenda mostra que, dos R$ 12,5 bilhões planejados em obras e programas para o ano passado, somente R$ 8,25 bilhões foram aplicados em todo o Estado, o menor volume de recursos desde 2008.
Para este ano, Alckmin já congelou R$ 1,2 bilhão em investimentos, 9% dos cerca de R$ 13 bilhões que o governo projetou gastar no orçamento que foi aprovado em dezembro pela Assembleia Legislativa de São Paulo. O governo defende que a medida é necessária “para enfrentar a severa crise econômica e a consequente queda de arrecadação que atingiu todo o País”.
O volume de investimentos feitos no ano passado foi 11,7% menor do que em 2015 – R$ 9,34 bilhões – e 44,5% abaixo do realizado em 2014 – R$ 14,86 bilhões –, em valores corridos pela inflação (IPCA). Embora a crise econômica já tivesse atingido São Paulo no período, foi em 2016 que ela mais comprometeu a receita estadual, com uma queda de 7,7% na arrecadação. Na prática, deixaram de entrar R$ 15 bilhões nos cofres do Estado. 
Redução. Em valores totais, que inclui, além dos investimentos, despesas com custeio e pessoal, a área de transportes foi uma das mais afetadas pela contenção de gastos. Foram empenhados R$ 12,9 bilhões em 2016, 25% menos do que os R$ 17,2 bilhões previstos. A maior queda ocorreu em transportes coletivos urbanos, que inclui gastos com expansão das linhas de trem e metrô e compra de composições. Dos R$ 6,5 bilhões orçados pelo governo no início do ano, R$ 4,2 bilhões foram aplicados, ou seja, 35% menos.
A queda das despesas também é reflexo dos atrasos das obras de ampliação da rede metroferroviária, como nas linhas 4-Amarela, 5-Lilás, 6-Laranja, 15-Prata, 17-Ouro, da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), e das linhas 9-Esmeralda e 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), além da demora na entrega de parte dos 65 trens pelos fornecedores.
O mesmo ocorre no transporte rodoviário, em que a principal obra, o Rodoanel Norte, está atrasada e chegou a ter trechos paralisados no ano passado. Cerca de R$ 1,1 bilhão dos R$ 5,7 bilhões orçados não foram gastos em 2016. A redução dos gastos também afetou as áreas sociais, como educação e saúde, que tiveram uma contenção média de 5% das despesas, mais de R$ 2 bilhões somadas.
Em nota, o governo Alckmin afirmou que o orçamento de 2016 foi feito em agosto de 2015, “quando os parâmetros econômicos eram outros”, como PIB de -0,4% e inflação de 5,5%. “Já no fechamento do ano de 2016, os índices econômicos eram outros, com uma nova realidade, queda da arrecadação de 8% de ICMS, inflação de 6,29% e PIB de -3,5%, o que impacta diretamente no resultado final”, disse. 
Segundo a nota, se comparar apenas os investimentos realizados entre 2015 e 2016, houve aumento de 16% em transportes rodoviários, segurança, saúde e educação. Em transportes sobre trilhos, diz, houve queda de 3,5% por causa da falta de financiamentos externos (R$ 4,3 bilhões a menos) e federais (R$ 400 milhões menos).

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Robusto, sistema Cantareira volta a nível anterior à crise da água, FSP


Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 31/01/2017 - Alana Silva, 25, atendente, guarda agua para lavar roupa em um tonel no quintal de casa - O bairro de Pirituba ainda permanece com falta de agua durante a noite, apesar da melhora dos niveis dos reservatórios que abastecem a grande SP..(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, COTIDIANO)***EXCLUSIVO***
Alana Silva, 25, moradora da zona norte de SP, ainda sofre com falta de água em casa
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Maior reservatório de água da Grande SP, o sistema Cantareira atingiu uma marca simbólica com a ajuda das intensas chuvas de janeiro: as represas do manancial têm agora volume semelhante ao do período que antecedeu a grave crise que atingiu o Estado nos anos de 2014 e 2015.
Na manhã desta terça (31), o sistema operava com 69,1% de sua capacidade, o que representa 878 bilhões de litros e inclui tanto o volume disponível neste momento para captação como também as duas cotas de reserva conhecidas como volume morto.
A última vez que o Cantareira teve tanta água estocada foi em maio de 2013, ano que é considerado chave para o início da crise da água. Em 2013, o principal reservatório de São Paulo começou o ano com 60,4% de sua capacidade e o terminou com somente 43,8% –esse índice, na ocasião, era o pior fechamento de ano em uma década.
A partir disso, em meio a uma forte estiagem, o Estado mergulhou em uma crise de abastecimento que afetou a rotina de milhões de moradores, em especial aqueles da região metropolitana de SP.
Em 2014, por exemplo, o Cantareira só piorou, e seu nível foi baixando rapidamente. Logo no primeiro semestre, o paulistano passou a ser vítima de duros racionamentos (com a entrega controlada de água), com milhares de pessoas de todas as regiões da cidade sem fornecimento de água durante a noite.
Os casos mais graves ocorriam em bairros mais altos e periféricos, o que impactava fortemente a população mais pobre. Em alguns casos, áreas na periferia passavam até 20 horas sem abastecimento.
Em alguns bairros da região metropolitana, esse fenômeno ainda permanece todos os dias.
Enquanto minimizava o tamanho e os efeitos da crise, o governo Geraldo Alckmin (PSDB), que estava em campanha pela reeleição, ampliou a rede de distribuição. Assim, com uma série de obras, bairros que antes eram atendidos apenas pelo Cantareira passaram a receber água de outros mananciais, dando maior alívio ao sistema.
"Isso foi crucial para a melhora do Cantareira. Como o risco de seca é variável entre diferentes reservatórios, você aproveita melhor a disponibilidade hídrica e faz uma gestão mais eficiente dos
recursos", analisa Carlos Tucci, professor da UFRGS e consultor em hidrologia pela Rhama.
Com essas estratégias, a Sabesp, empresa de águas do Estado, teve então de aguardar a melhora das chuvas, o que só veio em fevereiro de 2015, quando o governo já cogitava um rodízio (corte de água).
"Ali percebemos que a situação hidrológica estava diferente da que havíamos enfrentado dentro da crise. A partir desse momento [março de 2015], você tem meses com boa chuva e meses com chuva não tão boa. Mas, na média, estamos no positivo", disse o superintendente da Sabesp para a região metropolitana da capital, Marco Antonio Lopes Barros.
Em janeiro deste ano, por exemplo, as chuvas sobre o Cantareira ficaram 50% acima da média. Com isso, o reservatório teve o maior volume acumulado para um mês de janeiro desde 2012.
NOVO PADRÃO
No auge da crise, outra aposta da Sabesp foi a adoção de incentivos econômicos para tentar frear o consumo da população. Quem reduzisse o consumo mensal ganhava bônus. Já quem aumentasse o gasto de água recebia uma sobretaxa na conta de água.
Para o superintendente da Sabesp, os incentivos ajudaram a criar uma consciência de consumo que perdura até hoje. "Criou-se um novo padrão de consumo na cidade. Muito tem a ver com a memória da crise, as pessoas adquiriram novos hábitos. Por outro lado, há também uma retração no consumo causado pela crise econômica no país."
Para se ter uma ideia, antes a Sabesp retirava cerca de 71 mil litros de água por segundo das represas da Grande SP. Atualmente, esse volume é de 61 mil litros por segundo. No Cantareira, antes da crise, se retiravam 32 mil litros por segundo –atualmente são cerca de 25 mil litros.
"Resta saber se o Estado de São Paulo continuará incentivando a conservação e o uso racional de água. Afinal, para a Sabesp, que visa a venda de água e o lucro, esse incentivo não interessa", analisa Tucci.


Meninas de 6 anos já não se acham inteligentes e desistem de atividades, fsp



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Meninos lideram, fazem grandes descobertas científicas e são muito, muito inteligentes. As meninas, nem tanto. É essa a imagem que muitas garotas têm de si mesmas já a partir dos seis anos de idade, segundo pesquisadores americanos.
Eles chegaram a esses resultados depois de realizar uma série de experimentos com 400 crianças entre os cinco e os sete anos –segundo os cientistas, é a partir dessa idade que os estereótipos relacionados a gênero começam a se firmar.
Os resultados foram publicados na última edição da revista científica "Science".
Em um dos testes realizados, os cientistas contavam para as crianças uma história sobre alguém "muito, muito inteligente". Um cuidado especial dos cientistas era não dar pistas ou indicações sobre o gênero de quem protagonizava o conto.
Os pesquisadores, então, pediam para as crianças associarem a trama a um de quatro adultos (duas mulheres e dois homens) desconhecidos que eram apresentados a elas.
Até os cinco anos, garotas e garotos associavam de modo semelhante o próprio gênero à inteligência. Contudo, a partir dos seis anos, as garotas se mostravam significativamente menos propensas a fazer tal associação.
Os pesquisadores, após novos testes, decidiram verificar se a percepção em relação à inteligência de alguma forma influenciava interesses.
Para isso, foram apresentados às crianças jogos inventados. Um deles destinado a pessoas "muito, muito inteligentes" e o outro para os "muito, muito esforçados".
Meninas e meninos de cinco anos apresentaram interesse semelhante no jogo para quem é "brilhante".
Contudo, a partir dos seis anos, as meninas se mostravam menos interessadas no jogo para crianças "muito, muito inteligentes".
"É bem possível que, a longo prazo, esse estereótipo afaste jovens mulheres de carreiras supostamente associadas à ideia de genialidade", afirma à Folha Lin Bian, doutoranda da Universidade de Illinois e uma das autoras da pesquisa.
Sarah-Jane Leslie, filósofa da Universidade de Princeton e também autora do estudo, lembra de uma ocasião em que ela presenciou dois professores de outras universidades discutindo se havia na filosofia alguma mulher que pudesse ser considerada "genuinamente inteligente".
"Eles encontraram um nome e, na minha frente, falaram que todas as outras de que lembraram 'não eram assim tão espertas'", diz Leslie.
Os autores afirmam que não há como determinar um único fator responsável pelo o que observaram no estudo. Segundo eles, é um fenômeno cultural, relacionado ao mundo ao redor da criança.
Outro estudo, de 2011, publicado na revista "Child Development", havia observado que garotas e garotos entre seis e dez anos associavam matemática a homens.
'PRINCESINHA'
Segundo Marcia Barbosa, física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos principais nomes no país a discutir relações de gênero no meio acadêmico, a questão da inteligência, independentemente da idade, é muito mais forte em áreas ligadas às ciências. "Quanto mais exatas, pior fica. As mulheres sentem que não é o clube delas, como se não pertencessem a ele."
Para Marcia, isso começa na infância. "Desde cedo passamos para a menina a visão de que ela precisa ser bonitinha, princesinha", diz. "O papel dela é ser princesinha."
Ela afirma que esse papel, com o tempo, cria uma barreira. "Há uma autoexclusão nesse processo de se enxergar como menos do que você é."
Luis Saraiva, psicólogo do laboratório de estudos da família, relações de gênero e sexualidade do Instituto de Psicologia da USP, afirma que atitudes de professores também podem reforçar estereótipos.
"Meninos são convocados a brincadeiras de estratégia, como xadrez, com muito mais frequência que meninas", diz. "Isso faz com que se atrele papéis a esses sujeitos."
Segundo a Unesco, professores, de ambos os sexos, interagem mais com garotos em sala de aula, o que pode desencorajar a proatividade entre as meninas.
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Diferenças de Gênero

NA ESCOLA
  • Estudos mostram que atitudes de pais e professores para com meninos e meninas pode reproduzir estereótipos de gênero e afetar motivação e resultados
  • Quase 40% das meninas brasileiras de 6 a 14 anos discordam que são tão inteligentes quanto os meninos, segundo a ONG britânica Plan International, que entrevistou 1.948 garotas
NA UNIVERSIDADE
  • Um estudo da ONG Science Club for Girls diz que 29% dos alunos do sexo masculino se formam em matemática ou ciência, em comparação com 15% das mulheres
  • Alunas, em comparação a homens, tem 50% mais chance de desistir de cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática depois de fazer o primeiro semestre de cálculo, segundo estudo da revista "Plos One"
NA VIDA PROFISSIONAL
  • Entre os 1.379 CEOs (diretores executivos) que responderam à pesquisa global da PwC, somente 102 (cerca de 7%) eram mulheres
  • Na América Latina, o salário das mulheres equivale a 84% do que recebe um homem no mesmo cargo
Fontes: Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal); Relatório Educação para Todos no Brasil (2000-2015); Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos (2000-2015); Cadastro Central de Empresas (Cempre); Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); PricewaterhouseCoopers (PwC - prestadora de auditorias e consultorias para empresas)