terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

MPF pede suspensão de acordo com executivos do grupo J&F e bloqueio de até R$ 3,8 bi em bens, OESP


06/02/2017 - Estadão
BRASÍLIA - O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta segunda-feira que a Justiça reconheça que o presidente da Eldorado Celulose, Joesley Batista, e o diretor da empresa, José Carlos Grubisich Filho, ambos da holding J&F, descumpriram acordo firmado no âmbito da Operação Greenfield e reaplique sanções aos empresários.
Em petição enviada à 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília,  o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes solicita o bloqueio de bens e ativos dos envolvidos até o limite de R$ 3,8 bilhões, como forma de garantir o eventual ressarcimento de prejuízos causados aos fundos de pensão Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa) - que têm participações minoritárias na Eldorado - ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e à Caixa.  O investigador requer também que os dois sejam proibidos de ocupar cargos ou funções de direção em empresas do grupo J&F, de sair das cidades em que residem e de manter qualquer tipo de comunicação entre si e com outros investigados.
Se os pedidos forem aceitos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara, toda a diretoria da Eldorado terá de ser afastada até o fim das investigações, que não têm data para acabar. O objetivo é que seja formada uma diretoria provisória, indicada por conselheiros que atualmente representam Funcef e Petros, no Conselho de Administração da empresa.
O acordo com a Greenfield, que apura fraudes em negócios com os fundos, foi firmado em setembro do ano passado, como forma de desbloquear ativos e permitir que a família Batista continuasse no comando da J&F. Cordeiro Lopes, responsável pela Greenfield, sustenta que os dois empresários violaram deveres de boa fé ao, supostamente, tentar ludibriar investigadores. Na petição enviada à Justiça, ele diz que houve prática de atos ilícitos por parte de Joesley e José Carlos para esconder irregularidades cometidas à frente da Eldorado.
Após a deflagração da Operação Sépsis - que tramita em conjunto a Greenfield e a Cui Bono? -, a Eldorado decidiu contratar duas empresas de auditoria independente (Ernst Young e Verano Advogados), com o suposto objetivo  de adotar as medidas cabíveis” em relação aos esquemas investigados.
O MPF sustenta que, em vez de apurar as irregularidades, as firmas agiram na tentativa de legitimar as práticas ilegais encontradas, como o pagamento de R$ 37,4 milhões da Eldorado para as empresas Viscaya e Araguaia, de propriedade do corretor Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de esquema de corrupção na Caixa e em outras entidades públicas. Funaro está preso em Brasília a responde a outras investigações.
Segundo o MPF, a explicação da auditoria contratada para os pagamentos passa por uma  triangulação envolvendo o Grupo J&F, que teria contratos com as duas empresas de Lúcio Funaro e um crédito junto à Eldorado. No entanto, alega o procurador, a frágil justificativa esconde atos de lavagem de dinheiro.
“A equipe de auditoria contratada pela Eldorado buscou, de todas as formas, trazer uma aparência de transparência e legalidade para as referidas operações financeiras, aduzindo ser impossível inferir uma correlação entre pagamentos realizados pela Eldorado às empresas de Lúcio Funaro e a concessão do financiamento ou quaisquer vantagens (de entidades públicas) em favor da companhia”, afirma um dos trechos do documento.
O procurador destaca que o ex-vice presidente da Caixa Fábio Cleto, que firmou acordo de delação premiada, narrou ter recebido propina para beneficiar a Eldorado numa operação de R$ 940 milhões com o banco. O esquema, segundo ele, teve a participação de Funaro.
O MPF destaca no documento que  o comitê supervisor da apuração independente contava com agentes da própria Eldorado, em situação de conflito de interesse. Entre eles, estavam o próprio José Carlos Grubisich, que é um dos investigados nas operações, e subordinados de Joesley Batista.
A petição diz ainda ainda que a auditoria confirmou a existência de doações eleitorais por parte da Eldorado a políticos em 2014, inclusive para o diretório estadual do PTB na Bahia, partido aliado do ex-ministro e ex-vice presidente da Caixa Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), alvo da Cui Bono? Estamos diante de uma situação grave, tendo em vista que, em última análise, estamos falando em dinheiro público financiando campanhas partidárias no Brasil, argumenta o procurador, lembrando que Petros e Funcef têm cotas na Eldorado.
Outra manobra supostamente de má fé atribuída a Joesley e a José Carlos ocorreu em 23 novembro do ano passado, após a deflagração da Operação Greenfield. Naquele dia, a Eldorado firmou um contrato de R$ 190 milhões com a Eucalipto Brasil, vinculada a dois investigados na operação: Mário Celso Lopes e Mário Celso Lincoln Lopes.
O MPF constatou que Mário Celso Lopes – o beneficiado pelo contrato – foi, junto ao Joesley Batista, um dos fundadores da Eldorado e travou uma disputa judicial com o grupo J&F.
Menos de um mês após a assinatura do contrato, houve a retirada de uma cláusula, o que beneficiou Mário Celso, em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritários: Funcef e Petros, alega o MPF, que levanta a suspeita de uma ação coordenada por Joesley e José Carlos para comprar o silêncio de Mário sobre as irregularidades praticadas no momento de criação da Eldorado.
Na mesma manifestação, o MPF deu parecer favorável a um pedido da defesa de Wesley Batista para que sejam revogadas as medidas impostas a ele. Wesley alegou que, à época dos fatos investigados, morava nos Estados Unidos e atuava em outros seguimentos do grupo empresarial J&F. Decisão a respeito também caberá ao juiz da 10ª Vara.
Procurada pelo Estado, a J&F não se pronunciou até a conclusão desta edição. O Estado não localizou representantes da Ernst Young e da Veirano Advogados.

Cobradores em xeque, Editorial FSP



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Arrasta-se há mais de dois anos um impasse jurídico que trava os planos para a extinção gradual da função de cobrador nos ônibus de São Paulo, decisiva para a redução dos custos do sistema de transporte coletivo municipal.
Na gestão de Fernando Haddad (PT), ao final de 2014 a prefeitura trabalhou na Câmara Municipal pela derrubada da legislação que torna obrigatória a presença de um segundo funcionário, além do motorista, em todos os veículos.
Devido ao expediente heterodoxo empregado na ocasião —a inclusão do tema em um projeto já em tramitação, que originalmente tratava apenas de tributos—, a decisão dos vereadores favorável à mudança da regra acabou por tornar-se alvo de uma batalha judicial ainda sem desfecho.
Agora, conforme noticiou esta Folha, o prefeito João Doria (PSDB) cogita a possibilidade de instituir tarifas mais elevadas para os passageiros que optem pelo pagamento da viagem em dinheiro.
Se levada a cabo, a ideia do tucano complementaria a ofensiva iniciada pelo petista. Os objetivos, nos dois casos, estão corretos, ainda que se possa debater a melhor estratégia de execução.
Atualmente, apenas 6% dos usuários dos ônibus da capital pagam suas passagem com cédulas e moedas; os demais se valem de bilhetes eletrônicos, em especial os aceitos também no metrô e nos trens, ou têm direito à gratuidade.
Com tão pouca gente a atender, os cobradores convertem-se num caro anacronismo. Os cerca de 20 mil profissionais custam ao sistema R$ 900 milhões ao ano, o equivalente a 10% do dispêndio total. A conta é repassada aos passageiros e, em parte, aos contribuintes.
A eliminação do desperdício permitiria ao município, com efeito, reduzir o gasto com subsídios ao transporte coletivo, estimado em cerca de R$ 3,2 bilhões neste ano —e agravado porque Doria decidiu buscar popularidade fácil e imediata com o congelamento da tarifa.
Cidades como Campinas e Ribeirão Preto já vetaram os pagamentos em dinheiro; em Campo Grande (MS), a função de cobrador foi suprimida para pôr fim a assaltos; a passos lentos, o Brasil começa a seguir a tendência mundial.
Ressalve-se que, a despeito do atraso, não se pode prescindir do cuidado em preservar empregos.
Os atuais cobradores devem ser realocados em outras funções; o ajuste do quadro de pessoal ocorreria de forma paulatina, com a não substituição de trabalhadores que deixem seus postos. Assim, a oposição sindical ao processo perderia o que ainda lhe resta de sentido.

A inteligência artificial e o futuro do trabalho, OESP




Estudos estimam que entre 1/3 e 1/2 das funções correm o risco de ser automatizadas
*Fábio de Biazzi ,
O Estado de S.Paulo
07 Fevereiro 2017 | 03h00
A decisão dos ingleses de deixar a União Europeia e a eleição de Donald Trump pelos americanos parecem ter ao menos um elemento em comum: em ambos os casos as populações de cidades e Estados que vêm sofrendo estagnação ou algum declínio econômico penderam para essas soluções de eficácia ainda a ser provada. Por trás desses votos em comunidades sem avanços econômicos significativos nas últimas décadas, o maior temor é de que as oportunidades de trabalho se tornem mais e mais escassas. 
Entretanto, por mais que os defensores do Brexit e da Trumponomics prometam “trazer os empregos de volta”, essa visão está longe de se mostrar de fácil realização. O economista Mark Muro, da Brooking Institution, afirma, em entrevista publicada em 22/1 no Estado, que a digitalização e a automação têm permitido a produção de bens e serviços com alto valor agregado sem se ter de empregar grande número de pessoas. Mesmo o retorno de algumas instalações industriais aos Estados Unidos não teria como causar impacto relevante no número de empregos.
A mesma lógica de desaparecimento gradual das vagas de emprego que afeta os EUA e a Inglaterra também engloba o Brasil ou qualquer outro país. Por essa razão, a questão dos desafios do trabalho é tão relevante e, para otimistas e pessimistas, tem tudo para ficar ainda mais intensa no futuro. Isso porque os últimos anos têm revelado um avanço descomunal não somente em termos de automação ou digitalização, mas na evolução da chamada “inteligência artificial” (AI). E um avanço ainda maior é esperado já para os próximos anos, não apenas para as próximas décadas.
A AI surgiu há cerca de 50 anos, com a missão de desenvolver máquinas capazes de resolver problemas anteriormente limitados à resolução por cérebros humanos. Um grande marco da inteligência artificial foi alcançado com duas séries de jogos de xadrez entre o então campeão mundial Garry Kasparov e o supercomputador da IBM chamado Deep Blue. Em 1996, na Filadélfia, Kasparov ganhou a série de embates por 4 a 2. Em 1997, em Nova York, uma segunda série de seis jogos – também sob as regras de torneios internacionais – terminou com a vitória do Deep Blue por 3,5 a 2,5. Apesar desse feito extraordinário, os avanços da AI nos anos que se seguiram acabaram por se mostrar decepcionantes, até para tarefas bem mais triviais do que bater um grande mestre, como, por exemplo, as soluções de reconhecimento de voz.
Com o objetivo de analisar sua evolução e seus impactos sociais, a revista The Economist publicou em meados de 2016 um detalhado relatório sobre a AI. Segundo ela, “depois de muitas falsas largadas, a inteligência artificial finalmente decolou”. Um símbolo desse salto seriam os resultados de um concurso anual de reconhecimento de imagens chamado ImageNet Challenge, em que milhões de imagens são rotuladas com a identificação do tipo de figura que representam e alimentadas em sistemas de AI concorrentes. Em 2010 o sistema vencedor conseguiu identificar 72% das imagens. Essa taxa foi aumentando ano a ano e apenas dois anos atrás (2015) outro sistema conseguiu identificar 96% das imagens, ultrapassando pela primeira vez o patamar de reconhecimento médio dos seres humanos, de 95%.
Esse exemplo ilustra o veio mais promissor de evolução da AI, chamado deep learning, ou aprendizagem profunda. A aprendizagem profunda baseia-se em redes neurais artificiais que seriam “treináveis” pelo processamento de enormes quantidades de dados, em vez de serem sistemas “explicitamente programados”. Tais dispositivos já têm sido utilizados em mecanismos de busca, bloqueadores de spams, tradutores, detectores de fraudes em cartões de crédito e nas experiências com veículos autodirigíveis. Outro exemplo impressionante são os [ITALIC]softwares[/ITALIC] de reconhecimento facial. Já existem em funcionamento quatro deles com precisão maior que 99,5%, ante uma taxa de acerto médio dos humanos de 97,5%.
Os impactos dessa “decolagem” da AI, embora não totalmente antecipáveis, prometem ser cruciais para o futuro da humanidade. O renomado físico Stephen Hawking, em artigo publicado em dezembro de 2016 no jornal [ITALIC]The Guardian[/ITALIC], sustenta que “a automação das fábricas já dizimou postos de trabalho na manufatura tradicional e a ascensão da inteligência artificial provavelmente estenderá a destruição às funções das classes médias, com a sobrevivência apenas dos papéis mais criativos, de supervisão ou de cuidados pessoais”. A própria The Economist cita estudos que estimam que entre um terço e metade das funções correm o risco de ser automatizadas. As mais vulneráveis ao avanço da AI seriam as funções de rotina, tanto manuais quanto intelectuais. 
Será que estaríamos chegando finalmente à plenitude da Terceira Onda, descrita por Alvin Tofler em 1980? Conseguirão os países e seus líderes reconfigurar novamente para melhor suas sociedades com o advento da AI – da mesma forma que a civilização prosperou e criou novas ocupações com a mecanização e a automação no passado –, mesmo se antevendo um impacto centenas de vezes mais intenso e rápido que nos casos anteriores?
Otimistas ou pessimistas, aqueles que têm voz na definição do futuro de suas empresas, sociedades e países deveriam regozijar-se com mais essa vitória da humanidade sobre o labor interminável e pouco significativo das tarefas repetitivas. Deveriam também privilegiar e fomentar um importantíssimo fator que esteve presente na assimilação socialmente equilibrada das mudanças tecnológicas anteriores (e no qual o Brasil tem falhado de maneira recorrente): a educação e requalificação para o desempenho de atividades mais complexas e que demandam maior capacidade cognitiva, flexibilidade, criatividade e colaboração.
* ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, DOUTOR EM ENGENHARIA PELA USP, DIRETOR EXECUTIVO E CONSULTOR DE GESTÃO, É PROFESSOR DE LIDERANÇA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL DO MBA EXECUTIVO DO INSPER
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