A Cremalheira é um sistema exclusivo do Brasil. O trecho possui oito quilômetros de extensão, com inclinações de até 10% (ou seja, o trem sobe um metro a cada dez percorridos). Para que o trem possa trafegar nesse trecho, o sistema de tração da locomotiva é feito com uma roda dentada que incide sobre um terceiro trilho, também dentado, colocado entre os dois trilhos convencionais. As novas máquinas, criadas especialmente para esse projeto, têm quase 18 metros de comprimento, potência de 5 mil KW e são 60% mais eficientes que as utilizadas anteriormente. Elas garantem a segurança operacional contendo a carga na descida ou empurrando-a na subida.
Trilho central da Cremalheira
O início das operações com as novas locomotivas foi considerado o primeiro passo para eliminar gargalos no acesso ferroviário ao Porto de Santos e também para desafogar as rodovias. O investimento permitiu que a empresa quadruplicasse sua capacidade de movimentação de carga na Serra do Mar: de 7 milhões de toneladas para 28 milhões de toneladas anuais.
Após a entrada em operação das novas locomotivas, deixaram de circular até Santos cerca de dois mil caminhões por dia. Se colocados em fila, eles ocupariam a extensão de 30 quilômetros emitindo volume de CO equivalente ao produzido por 35 mil carros de passeio.
ANNE WARTH, ADRIANA FERNANDES, LU AIKO OTTA E ANDRÉ BORGES, O Estado de S.Paulo
19 Julho 2016 | 05h00
BRASÍLIA - As desestatizações previstas pelo governo federal têm o potencial de levantar recursos de pelo menos R$ 120 bilhões, segundo levantamento feito pelo ‘Estado’ com base nas estimativas do próprio governo. Esse reforço nas contas virá de concessões, privatizações, vendas de ativos, securitizações e aberturas de capital, medidas que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chamou de “Plano B” da gestão da economia – o “Plano A” seria o corte de gastos e o “C” o aumento de impostos.
A cifra oficial do que se pode arrecadar com as desestatizações, no entanto, ainda dependem de uma série de decisões. Não há definição, por exemplo, de que participações acionárias da Eletrobrás em empresas do setor elétrico, exatamente, serão colocados à venda. “Está tudo na mesa para a gente discutir”, afirmou um integrante da equipe econômica.
Há, na lista de desestatizações, bens que são de empresas estatais e que, por isso, não representarão ingresso direto no caixa do Tesouro. Mas, por outro lado, lembra essa fonte, os efeitos econômicos vão muito além. Haverá reforço nas receitas, também, via arrecadação de tributos sobre os ganhos de capital gerados pelos negócios.
Além disso, a venda de ativos reforça o caixa das próprias empresas controladas pelo governo, diminuindo a necessidade de capitalização pelo Tesouro Nacional. Nesse caso, é dinheiro que deixa de ser gasto.
O economista Gesner Oliveira, da GO Associados, aponta outros benefícios. “Se o juro que o setor público paga é muito alto – e é altíssimo – vale a pena vender ativos, mesmo que a um preço relativamente baixo, para abater dívida e deixar de pagar juros estratosféricos”, disse. “Em segundo lugar, há muito a ser feito em termos de securitização, swap de dívida e aprimoramento de títulos de dívida de longo prazo, como as debêntures de infraestrutura.”
As discussões em torno do “Plano B” se dividem, basicamente, em quatro frentes: energia, setor financeiro, aeroportos e securitizações. No setor elétrico, estão em avaliação vendas das participações acionárias da Eletrobrás que somam cerca de R$ 20 bilhões.
O governo conta ainda com a receita de outorga que virá da licitação de três das maiores hidrelétricas que eram da Cemig: Jaguara, São Simão e Miranda. A expectativa é que as três usinas arrecadem R$ 10 bilhões.
A equipe econômica também aposta as fichas em leilões na área de petróleo e gás. A ideia é licitar, até o fim do primeiro semestre de 2017, quatro áreas no pré-sal vizinhas aos campos de Carcará, Gato do Mato, Tartaruga Mestiça e Sapinhoá, na Bacia de Santos. Outras 20 áreas podem entrar nesse leilão.O governo estima que pode arrecadar R$ 20 bilhões com o setor.
Nos aeroportos, considerando as concessões em Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis, além de outras medidas em estudo na área, as estimativas são de que a arrecadação pode variar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões.
Como as desestatizações e securitizações vão reforçar o caixa do governo:
-Setor de energia: até R$ 50 bilhões
- Venda de participações acionárias da Eletrobrás em 154 SPEs
- Venda das distribuidoras de energia no Norte e Nordeste.
- Venda de hidrelétricas que eram da Cemig: Jaguara, São Simão e Miranda
- Pré-sal: licitação dos campos unitizáveis Carcará, Gato do Mato, Tartaruga Mestiça e Sapinhoá
- Pós-sal: 14ª rodada de óleo e gás
-Setor financeiro
- Banco do Brasil pode vender administradora de cartões e administradora de recursos de terceiros
- Caixa estuda joint venture em loterias; procura parceiro para administração de cartões; estuda abertura de capital da Caixa Seguridade; e poderá ter sócio para operar loteria na internet
- BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, vai vender participações
- Abertura de capital do Instituto de Resseguros do Brasil
- Securitização: R$ 60 bilhões
- Venda de créditos que a Receita Federal tem a receber
- Aeroportos: R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões
- Concessão de aeroportos: Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre
- Venda de aeroportos regionais
-Como isso pode ajudar o caixa do governo
- Receita com a venda de bens
- Imposto de Renda sobre lucro das estatais com os negócios
- Aumento do lucro das estatais e pagamento de dividendos
- Economia com menor necessidade de capitalização das estatais
No fim do primeiro mandato da presidente afastada Dilma Rousseff, de cada R$ 100 investidos em infraestrutura, R$ 83 saíram dos bancos públicos, revela estudo inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que será divulgado hoje. BNDES, Caixa e Tesouro Nacional garantiram juntos R$ 137,9 bilhões dos R$ 166,2 bilhões desembolsos para transportes, energia elétrica, telecomunicações e saneamento em 2014. Sozinho, o banco de fomento foi responsável por quase metade dos empréstimos.
“A situação econômica atual e o realismo desse novo governo do presidente Temer vai impedir que isso se repita. Mas temos um legado pesadíssimo que vamos pagar nas próximas décadas”, afirma Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B e um dos coautores do estudo. Segundo ele, essa dependência quase absoluta pelos financiamentos com dinheiro público gerou uma série de distorções nos projetos.
“É como se o governo tivesse dado uma festa para alguns poucos, que tomaram um porre, e todos nós teremos que pagar a conta nos próximos anos”, compara.
Qualidade. De acordo com o estudo, o Brasil deveria investir entre 4% e 5% do PIB em infraestrutura para se aproximar de países com níveis semelhantes de desenvolvimento.
Atualmente, pouco mais de 2% do PIB são investidos na área. A CNI avalia que, em um curto espaço de tempo, não é possível ao País alcançar uma taxa de investimento em infraestrutura na casa de 5% do PIB – não apenas por restrições macroeconômicas, mas pela ausência de projetos de qualidade.
“O aumento da participação privada no aporte de capitais e na gestão de empreendimentos é imprescindível para que o País reverta o quadro de atraso”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Diante da frustração de recursos que deve se manter nos próximos anos, é preciso uma revisão do modelo de financiamento para aumentar a participação das fontes privadas. No entanto, é improvável que instituições como fundos de pensão e seguradoras venham a ampliar de imediato sua exposição a papéis de infraestrutura.
Outras barreiras também dificultam a expansão do financiamento privado no setor, em especial o fato de as obras levarem um longo período para serem concluídas e para gerarem retorno financeiro.