terça-feira, 6 de outubro de 2015

Hora e vez da energia solar, Celso Ming


O Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo; no entanto, esse tipo de energia ainda é fortemente subaproveitado por aqui

Celso Ming
04 Outubro 2015 | 03h 00
Estão no fim os tempos em que os telhados serviam apenas para cobrir construções. Tende a não ser mais assim. É por meio de seu uso como suporte que hoje 918 estabelecimentos do Brasil têm gerado a própria energia - a partir do sol.
Esse número parece irrelevante quando comparado aos 78 milhões de unidades consumidoras ligadas à rede de energia elétrica no País, mas indica importante ampliação do uso da energia solar fotovoltaica. Há um ano eram apenas 292 mini e microgeradores (veja o gráfico).
O Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo. No entanto, esse tipo de energia ainda é fortemente subaproveitado por aqui. Corresponde a apenas 0,01% da matriz energética. Mas essa fatia da pizza tem tudo para alcançar os 3% em 2024, se for confirmado o que prevê o Plano Decenal de Energia Elétrica, aberto a consulta pública até a próxima quarta-feira.
Um dos fatores que podem proporcionar esse salto é a perspectiva de realização de leilões por meio dos quais o governo federal comprará exclusivamente energia elétrica de fonte solar. Até outubro de 2014, esse segmento disputava preços (mais baixos) com outras fontes renováveis como a eólica e pequenas centrais hidrelétricas, e, por operar a custos mais altos, não conseguia ser competitivo. 
De lá para cá, no entanto, já foram realizados dois leilões exclusivos, pelos quais foram contratados 61 projetos com a capacidade instalada de 2GW, o equivalente ao abastecimento de energia elétrica de 700 mil residências médias brasileiras. “Com a sinalização de que o governo finalmente adotou o leilão por fonte, as empresas do setor, antes desinteressadas, virão para o Brasil, porque contam com demanda e contratos de longo prazo”, observa o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro.
Hoje, um dos maiores obstáculos ao avanço da energia solar fotovoltaica é justamente o preço. A maior parte dos equipamentos é importada e está sujeita aos solavancos do câmbio. No entanto, como aponta Castro, os preços dos equipamentos vêm caindo no mercado global, graças ao aumento de escala de produção e, portanto, de redução de custos. O fator novo é a China, que apostou no modelo de energia solar fotovoltaica e, passou a funcionar como “motor de barateamento” dessa energia.
Mas a energia solar não pode depender apenas de grandes volumes gerados por usinas. Ao contrário, deve provir principalmente das mini e microgerações, que são instalações nos domicílios ou nas empresas, cujo produto não passará por leilões de compra ou de venda.
É o que observou quinta-feira o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. O governo prepara o lançamento de um programa que incentivará o segmento.
Independentemente do que virá por aí, a Resolução 482 da Aneel desde 2012 obriga as distribuidoras a integrar à sua rede a energia produzida pelas residências e empresas dotadas de painéis fotovoltaicos. Relógios especiais contabilizam a energia gerada (e repassada à rede) e a consumida (fornecida pela distribuidora) para efeito de cálculo da conta de luz dessas unidades.
Outra aberração que começa a ser corrigida é a cobrança de ICMS tanto no consumo como na geração dessa energia caseira. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), sete Estados já adotaram a isenção: Minas, São Paulo, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Tocantins. Espera-se que outros adiram à norma do Confaz, de abril, que permite a isenção do ICMS sobre a energia gerada.
Para o coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, Ricardo Ruther, a isenção ajuda a montar a equação econômica, mas ainda não resolve a questão financeira. “É necessário mecanismo de financiamento para esses consumidores, como o da compra de um carro”, defende. De acordo com Ruther, uma casa onde vive uma família de quatro pessoas em Belo Horizonte, com um consumo médio de 300 kw/h por mês, paga quase R$ 300 de conta de luz. 
O investimento em equipamentos de energia solar ficaria em torno de R$ 20 mil. Ele calcula que, apenas com a redução na conta de luz, o custo pago na instalação deve ser amortizado em até sete anos, prazo que tende a cair com o aumento das tarifas. Que tal considerar essa opção na próxima reunião do seu condomínio? /COM LAURA MAIA

Mais gente deixa o carro em casa. E você?, FSP

O leitor do guia "Como Viver em São Paulo Sem Carro" não se surpreendeu com a notícia de que cada dia mais paulistanos que têm carro se deslocam sem ele. Por isso mesmo, desconfiou do argumento dos "especialistas" que disseram que essa mudança de hábitos se deve à crise econômica, cujos efeitos começaram a ser sentidos este ano. O leitor atento também não se deixou levar pelo discurso oportunista dos técnicos da prefeitura paulistana, que dizem que tudo se deve às medidas de redução da velocidade dos carros e às faixas exclusivas de ônibus e bicicletas.
As duas coisas podem ter contribuído, mas o fenômeno teve início muito antes. Ao contrário do que dizem os especialistas, começou exatamente no auge da expansão econômica; e portanto, antes também do atual prefeito acordar para os benefícios de uma gestão zeladora, em lugar de construir arcos, como prometeu na campanha eleitoral.
No guia publicado em 2012, o congestionamento já era apontado como a principal causa de estresse na cidade; na edição de 2013, 58% dos paulistanos diziam ter reduzido de alguma forma o uso do carro; o índice de redução se manteve praticamente igual em 2014 (os dados são de pesquisas exclusivas do Ipespe, dirigido pelo sociólogo Antônio Lavareda).
Em verdade, os governos Lula e Dilma 1 (2003-2014) espalharam uma epidemia de congestionamentos pelo Brasil com a combinação perversa de redução de impostos para a produção de carros, financiamento para sua compra e a gasolina mantida com preços baixos. Todas as capitais do país passaram a sofrer congestionamentos até então típicos de São Paulo. E os paulistanos já em 2008 viam engarrafamentos atingirem níveis surreais como no filme "Week-end a Francesa" (1967), de Jean-Luc Godard, baseado no conto "A Auto-estrada do Sul", do argentino Júlio Cortázar.
Engenheiros costumam analisar o trânsito conforme as regras de dinâmica dos fluidos. Por isso usam termos típicos de encanamento de água, como fluidez, engarrafamento, gargalo e turbulência. Mas trânsito é também um fenômeno econômico: ao se movimentar por uma cidade, os motoristas fazem cálculos de custo-benefício, do tempo perdido no deslocamento, do combustível e do estacionamento. Ao calcular o meio mais barato para chegar de casa ao trabalho, o viajante considera também o preço de ficar horas parado no trânsito.
Os carros que se deslocam no trânsito de SP levam em média 1,2 pessoa (ou seja, a cada cinco carros, quatro levam só o motorista e o quinto carrega um passageiro também). Esses motoristas gastam para atingir o destino, querem chegar o mais rápido possível para começar a produzir ou estudar. Nos últimos anos, a velocidade de deslocamento dos carros particulares caiu (hoje é inferior a 8 km/h), aumentando os custos em combustível e horas de trabalho perdidas. Enquanto isso, a velocidade dos transportes públicos cresceu, mais linhas de trem e metrô surgiram, faixas exclusivas melhoraram o desempenho dos ônibus, que já tinham se tornado mais baratos com o Bilhete Único e depois com a extensão de sua validade a três horas.
A produtividade de quem não guia, que já era maior, ficou ainda mais evidente com a melhoria da telefonia móvel que permite falar ou trocar mensagens ao celular com o trabalho, ler relatórios, ter reuniões durante o deslocamento ou dedicar-se ao lazer.
Todos esses cálculos são feitos ainda que intuitivamente pelos milhões de moradores das grandes cidades congestionadas de todo o mundo. E não é diferente para o paulistano. É isso que fez por exemplo com que dobrasse o número de usuários de trem e metrô a partir de 2006, muito antes da crise econômica.
A análise dos dados em prazo mais longo permite ver como o carro é um produto decadente. Só a burrice explicaria os incentivos fiscais federais para a indústria automobilística que cada vez emprega menos gente e mais robôs.
Nos últimos dias surgiu a informação de que esses incentivos fiscais desde 2009 teriam sidocomprados por fábricas de automóveis por meios ilícitos (lobby). Bem, então teremos que considerar que não foi burrice, mas esperteza. Uma coisa ou outra, no entanto, não levaram em consideração a mobilidade urbana, o interesse público ou a qualidade de vida do brasileiro.

domingo, 4 de outubro de 2015

LED rompendo barreiras, por Gilberto Grosso, do Procel


02.10.15
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Fonte: SEGS - 01.10.2015
Brasil - Se até o momento o grande senão das lâmpadas de LED é o preço, tendo a dizer – e tenho me certificado disso cada vez mais – que não demorará muito e esta questão estará superada. Alguns acontecimentos importantes me levam a acreditar no que estou afirmando. Um em especial: a crise de energia acendeu a luz de LED no Brasil. A partir dessa demanda compulsória, as pessoas precisaram parar, de verdade, e fazer as contas. Quando o impacto está apenas e tão somente na seara dos números, no “ah, é melhor, mas é mais caro”, realmente fica difícil mudar. Mas, na hora do aperto, tudo muda de figura. Ao mesmo tempo, com a mídia divulgando LED para os quatro cantos por conta da questão energética, virou status ter LED em casa. E esse sentimento cresceu muito rápido. Até nas escolas os professores já estão falando em LED para crianças.

Obviamente que outros fatores também vêm contribuindo para esta nova realidade do LED por aqui, como o fim da comercialização das lâmpadas incandescentes. A substituição deste tipo de lâmpada está sendo feita de forma gradativa e acabará em 2017. As de 60W, as mais usadas, já não podem mais ser fabricadas ou importadas e, desde junho, têm sua venda proibida no país. O certo é que o tempo que se levou desde que o LED chegou - quase no anonimato - ao mercado brasileiro, no início dos anos 2000, para conhecê-lo, entendê-lo e aceitá-lo, será infinitamente menor daqui para frente. É preciso estar preparado. Especialistas estimam que, em 2017, pelo menos 50% do mercado brasileiro de iluminação seja dominado pelos produtos de LED.

O alto custo sozinho não tem mesmo como se sustentar quando comparado com tantas vantagens e benefícios. E este movimento está muito latente agora. Mais econômicas e com um tempo de vida bem mais longo, as lâmpadas de LED estão transformando o mercado mundial e estimulando o surgimento de uma nova indústria de iluminação no Brasil. Estão, ainda, revolucionando a forma como usamos a luz, permitindo fontes de iluminação controláveis, ajustáveis, inteligentes e comunicativas. E, para acelerar a demanda, existe uma grande aposta nos desdobramentos das políticas de eficiência energética que preveem a modernização da iluminação pública.

Troca que vale a pena

Lembram-se sobre parar e fazer as contas? Depois de perceber que há uma redução real nos custos energéticos, as pessoas começaram a mudar para as lâmpadas de LED. Mesmo com o investimento inicial bastante alto, os benefícios no seu uso fazem a troca valer a pena. São muito mais eficientes do que as comuns, pois produzem a mesma quantidade de luz (ou lúmem), utilizando bem menos energia. Além disso, a geração de calor durante esse processo é bem menor do que as lâmpadas tradicionais, o que ajuda na economia energética: enquanto uma incandescente gasta certa de 60W para produzir uma determinada quantia de lúmem, uma lâmpada de LED precisa de apenas 9W. Outra grande vantagem é que elas são muito mais resistentes do que as incandescentes e fluorescentes.

Por essas e por outras, por toda essa movimentação que vem acontecendo – e de maneira mais intensa – o segmento precisa se preparar para a crescente demanda dos próximos tempos. Vejo que este mercado está entrando em uma nova etapa, a de garantir o abastecimento para o que está por vir. Existem no mercado muitos produtos de LED, mas já começam a faltar os básicos que substituem as lâmpadas incandescentes...