GAZETA DO POVO - PR 18/05
Desafio mínimo, para aprovar o texto preparado pelo governo bastava uma maioria simples na Câmara. Resultado: a votação estendeu-se por três dias, durou exatas 41 horas – a mais longa do Parlamento brasileiro – e deixou ao Senado apenas 12 horas para ser apreciada, na mais flagrante desmoralização da nossa suprema instância legislativa.
Indignado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) declarou que nem durante a ditadura militar os senadores eram constrangidos de forma tão acintosa. O próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, prometeu que essa seria a última vez que a Casa seria submetida ao vexame de engolir sem examinar matéria oriunda da Câmara.
O mais curioso é que o encarniçamento não partiu da oposição, que apenas tentou explorar politicamente a evidente fragmentação da base de apoio ao governo. Não discutiu os méritos, a medida provisória dos portos era reclamada por todos os interessados em modernizar nossa infraestrutura e acabar com os gargalos logísticos que comprometem nossas exportações.
O que se discutiu com veemência foi o desembaraço e o descaramento exibidos pelos lobbies dos grupos econômicos e a obsessão do velho sindicalismo em manter os privilégios de antigas corporações profissionais. Mesmo assim, o governo foi obrigado a desembolsar cerca de R$ 1 bilhão para comprar a boa vontade de parlamentares renitentes aprovando suas emendas ao orçamento.
A luta foi intestina, travou-se nas entranhas do principal aliado do governo, o PMDB, e teve como protagonista o próprio líder do partido na Câmara Federal, Eduardo Cunha, que preferiu manter-se fiel aos seus interesses pessoais, esquecendo-se dos compromissos que o levaram à função.
O nível da retórica acompanhou os absurdos da situação: Cunha, que já foi radialista, atracou-se verbalmente com outro ex-radialista, Anthony Garotinho, líder do PR. Esquecidos do decoro, enxovalharam-se mutuamente e forneceram aos futuros historiadores o registro preciso de um dos momentos mais infelizes da história republicana.
A incrível lambança foi fruto de um estresse injustificado: a chapa PT-PMDB para 2014 consolida-se diante de cada sufoco. Os potenciais adversários da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer ainda patinam nos respectivos egos e alguns indicadores econômicos, embora tímidos, sugerem uma conjuntura mais favorável no período 2013-2014.
Não obstante, mantém-se o clima de crise. Com tantos ministros e ministérios envolvidos na questão dos portos – pelo menos cinco sob o ponto de vista temático – a exaustiva operação foi tocada pelas ministras-chefes da Casa Civil e Relações Institucionais amparadas pelo maior especialista em sobrevivência na selva política – o vice-presidente da República.
A fórmula de muitos caciques e poucos índios reproduz-se de forma incontrolável e cria um modelo de estrutura centralizada, burocrática, geralmente inútil, incapaz de antecipar-se às ameaças e, sobretudo, dar um sentido aos avanços.
Longamente ansiada, a abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808 abriu o caminho para a nossa emancipação 14 anos depois. Essa abertura em 2013 foi sofrida, penosa. Todos têm razões para esquecer o pesadelo.
Desafio mínimo, para aprovar o texto preparado pelo governo bastava uma maioria simples na Câmara. Resultado: a votação estendeu-se por três dias, durou exatas 41 horas – a mais longa do Parlamento brasileiro – e deixou ao Senado apenas 12 horas para ser apreciada, na mais flagrante desmoralização da nossa suprema instância legislativa.
Indignado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) declarou que nem durante a ditadura militar os senadores eram constrangidos de forma tão acintosa. O próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, prometeu que essa seria a última vez que a Casa seria submetida ao vexame de engolir sem examinar matéria oriunda da Câmara.
O mais curioso é que o encarniçamento não partiu da oposição, que apenas tentou explorar politicamente a evidente fragmentação da base de apoio ao governo. Não discutiu os méritos, a medida provisória dos portos era reclamada por todos os interessados em modernizar nossa infraestrutura e acabar com os gargalos logísticos que comprometem nossas exportações.
O que se discutiu com veemência foi o desembaraço e o descaramento exibidos pelos lobbies dos grupos econômicos e a obsessão do velho sindicalismo em manter os privilégios de antigas corporações profissionais. Mesmo assim, o governo foi obrigado a desembolsar cerca de R$ 1 bilhão para comprar a boa vontade de parlamentares renitentes aprovando suas emendas ao orçamento.
A luta foi intestina, travou-se nas entranhas do principal aliado do governo, o PMDB, e teve como protagonista o próprio líder do partido na Câmara Federal, Eduardo Cunha, que preferiu manter-se fiel aos seus interesses pessoais, esquecendo-se dos compromissos que o levaram à função.
O nível da retórica acompanhou os absurdos da situação: Cunha, que já foi radialista, atracou-se verbalmente com outro ex-radialista, Anthony Garotinho, líder do PR. Esquecidos do decoro, enxovalharam-se mutuamente e forneceram aos futuros historiadores o registro preciso de um dos momentos mais infelizes da história republicana.
A incrível lambança foi fruto de um estresse injustificado: a chapa PT-PMDB para 2014 consolida-se diante de cada sufoco. Os potenciais adversários da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer ainda patinam nos respectivos egos e alguns indicadores econômicos, embora tímidos, sugerem uma conjuntura mais favorável no período 2013-2014.
Não obstante, mantém-se o clima de crise. Com tantos ministros e ministérios envolvidos na questão dos portos – pelo menos cinco sob o ponto de vista temático – a exaustiva operação foi tocada pelas ministras-chefes da Casa Civil e Relações Institucionais amparadas pelo maior especialista em sobrevivência na selva política – o vice-presidente da República.
A fórmula de muitos caciques e poucos índios reproduz-se de forma incontrolável e cria um modelo de estrutura centralizada, burocrática, geralmente inútil, incapaz de antecipar-se às ameaças e, sobretudo, dar um sentido aos avanços.
Longamente ansiada, a abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808 abriu o caminho para a nossa emancipação 14 anos depois. Essa abertura em 2013 foi sofrida, penosa. Todos têm razões para esquecer o pesadelo.