Celso Ming
16 de maio de 2013 | 20h00
Celso Ming
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou nesta quinta-feira a garantir que a inflação está em queda e que vai continuar caindo.
É uma declaração que, em parte, tem a função de ajudar a varrer o surto de pessimismo que tomou o País, como neblina que envolve um pedaço de serra. Toda autoridade tem o dever de influenciar positivamente as expectativas para melhorar a eficácia das políticas adotadas, embora nem sempre faça isso com suficiente habilidade. Desse ponto de vista, a declaração do ministro cumpre função importante.
Mas há um lado nessa declaração que precisa de reparo. Quando insiste em que a inflação vai cair, Mantega também repisa ponto de vista equivocado do governo Dilma: o de que não é preciso fazer nada para combater a inflação. É deixar rolar, que logo passa. Por trás dessa afirmação está o diagnóstico de que a maior parte da inflação foi provocada por choques de oferta, como enxurrada, que vai diminuindo logo depois que o aguaceiro deixa de cair.
Não dá para negar que há um bom pedaço da inflação provocado por choque de oferta, ou seja, provocado por quebra acentuada da oferta da mercadoria, seja qual for a razão. Isso vale para a inflação do tomate (de 150%, no período de 12 meses terminado em abril), da farinha de mandioca (146%), da batata inglesa (124%) e da cebola (62%). Nesses casos, a própria alta de preços incentiva o produtor a plantar e a normalizar a oferta. Contra esse impacto, nem o Banco Central nem o governo federal têm muito o que fazer, a não ser acionar, quando possível, estoques reguladores ou importações.
O problema é que outro bom pedaço da inflação, que em abril atingia a marca de 6,59% (em 12 meses), não tem a ver com choque de oferta, mas com aumento da demanda desproporcional à capacidade de oferta. Para atacar esse foco, o governo e o Banco Central têm muito o que fazer. A inflação de serviços, por exemplo, que teima em ficar acima de 8% ao ano, é consequência disso. Outra indicação de inflação de demanda acima do normal é mostrada pelo índice de difusão, que aponta o quanto a alta de preços está espalhada na economia. Em abril, o índice de difusão alcançava 65,8% dos itens que compõem a cesta do custo de vida.
O atual esticão de demanda é produzido por dois principais fatores: pela gastança do governo, substancialmente acima do previsto; e pelo aquecimento excessivo do mercado de trabalho, que cria renda acima do aumento de produtividade da economia.
Contra esse foco de inflação há dois principais antídotos: mais disciplina fiscal (contenção das despesas públicas) e redução do volume de dinheiro no mercado financeiro (alta dos juros). Quanto mais o governo cortar gastos, menos o Banco Central terá de diminuir a ração de dinheiro no mercado, ou seja, menos terá de subir os juros.
Infelizmente, o que se vê no governo é a propensão a gastar, tanto mais quanto mais esquentar o clima das eleições. Nessas condições, ou o Banco Central puxa pelos juros, ou a inflação será realimentada, apesar das afirmações em contrário do ministro.
CONFIRA
Aí está a evolução do Índice da Atividade Econômica até março.
Melhora. O resultado foi o esperado e traz boa notícia: o ano começa melhor do que terminou 2012. O avanço de 1,06% no primeiro trimestre (sobre o anterior) mostra que, em três meses, o PIB pode ter aumentado tanto quanto em todo 2012 (0,9%). O IPC-Br é indicador novo, feito para antecipar os dados do PIB (Contas Nacionais), mas até agora não havia conseguido. O Banco Central vai ajustando sua metodologia. Pode ser que tenha chegado à calibragem ideal. A ver.