Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece ter
descoberto agora que a geração de postos de trabalho é o objetivo mais
importante da política econômica. "Tão ou mais importante do que o PIB é
a geração de empregos formais no País." Foi o que disse ontem, em
Brasília, em exposição feita aos políticos do PT.
A declaração está correta, embora tenha sido feita com propósito
compensatório. Explicando melhor: o governo Dilma é prisioneiro de
armadilha fatal marcada pelo baixo crescimento com alta inflação. Não
vem conseguindo entregar o pibão prometido, mas, em compensação, vai
garantindo o pleno emprego.
O tom é quase o mesmo da declaração do então técnico da seleção
brasileira, Claudio Coutinho, em 1978. Disse o treinador, logo após
perder a Copa do Mundo da Argentina: "O Brasil não é o campeão do mundo,
mas é o campeão moral".
Mas o ministro Mantega não deixa de ter razão quando se lembra do
essencial: o principal objetivo da política econômica e do próprio
crescimento, até aqui, foi a criação de postos de trabalho, e não,
simplesmente, ostentar progressos recordes do PIB.
O avanço econômico em todo o mundo nas condições conhecidas parece
estar com seus dias contados, pela simples razão de que o Planeta não
aguenta. Muito antes de atingir os padrões de consumo dos Estados
Unidos, a economia da China, por exemplo, tende a esbarrar em brutal
travamento. Basta imaginar o que aconteceria com o trânsito urbano de
veículos quando três em cada dez chineses puderem ter um automóvel. Mais
cedo ou mais tarde, será inevitável alguma importante mudança no atual
paradigma mundial de produção e consumo.
No entanto, por outras razões, as implicações da afirmação do
ministro Guido Mantega são graves.
Se o Brasil atingiu o pleno emprego
mesmo com essa sucessão de pibinhos e se o custo da mão de obra na
indústria de transformação vem aumentando, em média, quase 7% ao ano,
então é preciso entender que o potencial de crescimento econômico do
Brasil está seriamente comprometido pela impossibilidade de expansão do
emprego. Não estamos mais no século 20. O Brasil vive um momento em que
se esgotou a oferta ilimitada de mão de obra.
Colocado em outros termos, se o mercado de trabalho já está
excessivamente aquecido (como adverte o Banco Central), mesmo com essa
expansão medíocre do PIB, o que não acontecerá com a oferta e com o
custo da mão de obra no Brasil se o governo conseguisse emplacar os tais
4,0% ou 4,5% ao ano de expansão da atividade econômica que vem
prometendo?
Como tantas autoridades têm avisado, parece claro que o principal
desafio da economia brasileira já não é mais aumentar os postos de
trabalho, mas, sim, assegurar a elevação da produtividade da mão de
obra. E isso se obtém somente com mais educação e mais treinamento,
projetos que não têm condição de maturação no curto prazo.
No mais, resta dar ao ministro Mantega a mesma resposta que o técnico
campeão do mundo de 1978, o argentino César Luis Menotti, deu ao
técnico brasileiro da ocasião, Claudio Coutinho: "Cumprimento o Brasil
pelo título de campeão moral".