Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Na semana que passou, a economia brasileira expôs uma nova fragilidade: a das Contas Externas.
Já era, em parte, coisa esperada, mas não nas proporções apresentadas pelos resultados da balança comercial do primeiro quadrimestre. Desta vez, o rombo medido por importações mais altas do que exportações foi de US$ 6,2 bilhões, um recorde para o período - veja o Confira.
Esse desempenho já vinha prejudicado por lançamentos de importações de combustíveis que deveriam ter sido feitos no ano passado e que caíram nestes primeiros meses de 2013. (Aliás, esse diferimento estatístico até agora não foi bem explicado. Aparentemente, fez parte de manobra destinada a enfeitar o balanço da Petrobrás de 2012.)
No entanto, mais cedo ou mais tarde, esse aumento das importações de combustíveis tinha mesmo de ser contabilizado e não muda o essencial: o diagnóstico de que a balança comercial aponta para distorção da mesma natureza da que já vinha sendo mostrada em outras áreas da economia, sobretudo a do forte aumento do consumo não atendido pelo setor produtivo interno.
O déficit comercial deste ano não está sendo provocado somente por importações mais altas, de 10,1% no quadrimestre sobre o primeiro quadrimestre de 2012. Para ele, concorre também a queda das importações, de 3,1% no mesmo período. Um tanto simplificadamente dá para afirmar que, além de provocar mais encomendas ao exterior, o forte consumo interno está comendo produção que normalmente seria exportada.
É um comportamento da economia que contraria os planos do governo Dilma. Para seus economistas, bastava garantir a expansão do consumo para que o setor produtivo fosse atrás, como abelha atraída pelas flores. Mas as coisas estão dando errado. A indústria brasileira, derrubada pelo peso excessivo dos custos e pelo nível alarmante de colesterol da administração pública, não tem conseguido competir com a do resto do mundo, nem lá fora nem mesmo aqui dentro.
Por enquanto, o rombo crescente do comércio exterior do País é suportável. Primeiro, porque os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) vêm compensando a maior parte do déficit. Segundo, porque o Brasil possui hoje reservas externas na casa dos US$ 378 bilhões, que podem ser acionadas caso haja necessidade de cobrir contas externas sem cobertura financeira. E, terceiro, porque este pode ser apenas mau momento, a ser revertido nos próximos meses.
O problema é que as causas do baixo desempenho comercial não estão sendo devidamente atacadas. O governo segue gastando demais, com o que cria renda e consumo. E a saúde da indústria nacional ainda está abalada, o que reforça sua incapacidade de atender à demanda interna e às exportações. Esse quadro negativo começa a ser identificado no exterior e pode prejudicar decisões de investimento e afluxo de moeda estrangeira para a economia.
Lamentavelmente, o governo Dilma não parece convencido de que tem de mudar o atual arranjo de políticas de modo a virar esse resultado medíocre. Falta saber o custo político dessa omissão.