terça-feira, 20 de setembro de 2011


Os resíduos sólidos do TRE

20 de setembro de 2011 | 6h 07
O Estado de S.Paulo
Numa iniciativa sem precedentes, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo tentou converter a Corte responsável pela aplicação da legislação eleitoral no Estado em instrumento de lobby e propaganda, ao recomendar aos juízes eleitorais que distribuam a 290 prefeituras paulistas exemplares de uma cartilha e cópias de DVDs sobre programas de coleta seletiva de lixo produzidos por uma empresa privada. A recomendação foi feita em agosto, durante um evento convocado para discutir formas de coibir doações irregulares em campanhas eleitorais.
A empresa é de propriedade de um consultor do TRE que, além de acumular a função de diretor de meio ambiente da prefeitura de Franco da Rocha, foi contratado pelo TRE para fazer a cartilha e ministrar palestras para ajudar os juízes eleitorais a se "conscientizarem" da importância dos programas de coleta seletiva de lixo e estimulá-los a persuadir prefeitos a firmar "convênios" com empresas privadas especializadas.
A iniciativa do TRE, totalmente alheia às funções da Justiça Eleitoral, foi justificada pelo presidente da Corte, desembargador Walter de Almeida Guilherme, com um argumento absolutamente descabido. Ele alegou que, como os municípios brasileiros terão de se adequar ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos a partir de 2012, os juízes eleitorais paulistas poderiam "contribuir" para a implantação dos serviços de coleta de lixo nos municípios sob sua jurisdição. "O juiz é um difusor de ideias. Não custa nada distribuir a cartilha. É ação de responsabilidade social", disse ele.
Além de corresponder a uma "responsabilidade moral", para o presidente do TRE, a participação da magistratura na propaganda "aproxima o Judiciário da cidadania". "Convoquei os juízes" - diz o desembargador Almeida Guilherme - "porque esse aspecto da coleta é muito ligado à cidadania. O Tribunal deve ser difusor dos direitos e deveres do cidadão. O papel do juiz não é apenas no gabinete, queremos um Judiciário mais próximo da cidadania." Esqueceu-se o presidente do Tribunal que magistrados são aplicadores do direito positivo, e não vendedores de serviços e difusores de projetos de empresas particulares.
O presidente do TRE confessa ainda que, apesar de não ter imposto a distribuição da cartilha e dos DVDs como uma obrigação, sugeriu aos seus subordinados que chamassem os prefeitos "para falar do interesse da Justiça nessa questão". Disse que não estava preocupado com eventuais ações por improbidade administrativa que o Ministério Público poderia impetrar. E alegou que a relação dos juízes com a empresa e com os prefeitos não seria comercial, mas institucional.
Por sua vez, o proprietário da empresa, Jetro Menezes, deu a sua contribuição para o despautério: "Um servidor público não pode ficar limitado à sua pasta, tem de ter um horizonte um pouco maior. O juiz não pode ter só a função de juiz eleitoral, mas uma função um pouco maior que isso". Por mais absurdo que pareça, o empresário é consultor do TRE.
Diante de tanta promiscuidade no relacionamento entre o presidente de um tribunal e um empresário por ele contratado como consultor, os juízes eleitorais paulistas fizeram o que se esperava, negando-se a desempenhar o papel que lhes foi "sugerido" pelo desembargador Walter de Almeida Guilherme. Lembraram que a Justiça Eleitoral nada tem a ver com questões ambientais e classificaram como inadmissível e imoral a orientação que receberam. "Entrego meu cargo, mas não entrego a cartilha. Não faço o papel de garoto-propaganda de empresa", disse um dos juízes. A orientação foi "equivocada" e a iniciativa de fazê-la foi "lamentável", afirmou José H. Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia.
Para evitar a desmoralização da Justiça Eleitoral paulista, esse é um caso que tem de ser investigado o mais rapidamente possível pela Corregedoria do Tribunal de Justiça. Não fazê-lo será confirmar a imagem da corregedoria como um órgão minado pelo corporativismo e sem coragem para punir juízes.

Crack já se iguala ao álcool em nº de atendimentos em cidades médias de SP

Droga supera todas as ilícitas em registros médicos de todo o Estado; estudo revela ainda que 3% dos usuários têm entre 9 e 15 anos

20 de setembro de 2011 | 18h 00
William Cardoso - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Em cidades paulistas entre 50 mil e 100 mil habitantes, o atendimento a usuários de crack já se iguala ao de viciados em álcool na rede pública de saúde (38% cada). As pedras lideram também o ranking das drogas ilícitas que levam os usuários a procurar ajuda na rede pública em todo o Estado. Os números foram divulgados nesta terça-feira, 20, pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, da Assembleia Legislativa.
Pesquisa mostra que crescimento é maior cidades com população entre 50 e 100 mil habitantes - José Patrício/AE - 14/9/2011
José Patrício/AE - 14/9/2011
Pesquisa mostra que crescimento é maior cidades com população entre 50 e 100 mil habitantes
Todos os municípios receberam questionários. Das 645 cidades paulistas, 325 responderam às dez perguntas enviadas pelos deputados estaduais, representando 76% da população do Estado (cerca de 32 milhões de habitantes). "Temos argumentos de sobra para desenvolver estratégias contra o crack", afirma coordenador da comissão, Donisete Braga (PT).
O álcool ainda lidera o número de atendimentos no Estado como um todo, representando 49% das pessoas que buscam ajuda. Mas o crack vem logo em seguida, com 31%, seguido da cocaína (10%), maconha (9%) e das drogas sintéticas (0,59%). 
A preocupação é grande porque, além da interiorização da droga, a pesquisa revela que crianças e adolescentes já fazem uso do crack. A faixa etária que vai dos 9 aos 15 anos representa 3% da população atendida nos serviços de saúde por causa do uso da pedra.
Recursos. A falta de dinheiro para combater o consumo de crack também foi apontada pelos municípios como um dos problemas a serem resolvidos. Somente 5% das prefeituras responderam que recebem recursos diretos do governo estadual para tratar seus dependentes. Apenas 12% afirmaram que o governo federal colabora nos tratamentos.
A Frente Parlamentar apresentou uma emenda de R$ 400 milhões para os próximos quatro anos ao plano plurianual do governo estadual para um programa que prevê fortalecimento do combate e da prevenção ao álcool e outras drogas. O resultado da pesquisa foi entregue ontem à Secretaria de Segurança.
Repasse. A Secretaria de Estado da Saúde afirma que os valores gastos pela pasta para a assistência a dependentes químicos no Estado não são utilizados na forma de repasse direto aos municípios, mas por meio de capacitação de profissionais dos Caps Ad (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) municipais, internação de pacientes por doenças decorrentes do abuso de álcool e drogas, atendimento para casos agudos em hospitais estaduais e conveniados com a Secretaria e internação de dependentes em serviços de saúde financiados exclusivamente com recursos estaduais.
O Ministério da Saúde afirmou que as reivindicações devem ser discutidas, num primeiro momento, em âmbito regional, entre municípios e o Estado, para depois serem levadas até Brasília.
Texto atualizado às 22h45 para acréscimo de informações

quarta-feira, 14 de setembro de 2011



Fraude de construtoras em São Paulo tem 20 acusados

14 de setembro de 2011 | 9h 40
Agência Estado
A Corregedoria-Geral do Município de São Paulo concluiu ontem um relatório de investigação que mostra o envolvimento de 20 diretores de construtoras, despachantes, arquitetos e engenheiros em uma fraude que causou um rombo estimado em R$ 70 milhões à Prefeitura de São Paulo. Eles são acusados de integrar uma quadrilha que forjava o pagamento da outorga onerosa. A taxa é a contrapartida para autorizar a construção de prédios acima do limite permitido na cidade. "Hoje podemos apontar com clareza a responsabilidade criminal de uma quadrilha", disse o corregedor-geral, Edilson Mougenot Bonfim.
Pelo relatório, Bonfim recomendou também ao prefeito Gilberto Kassab (sem partido) o embargo de mais 20 obras de edifícios em construção. O embargo já ocorreu ontem. Alguns edifícios têm obras adiantadas e totalmente vendidos. Um prédio residencial, em Perdizes, está quase 100% ocupado por moradores.
O relatório oficial foi enviado para o Ministério Público. A Promotoria já acompanhava os depoimentos dos acusados e deverá tomar o documento como base para uma denúncia dos envolvidos nas apurações.
Ontem, o Tribunal de Justiça mandou soltar o arquiteto Joel José Abrão da Cruz, envolvido no suposto esquema de falsificação de guias. A decisão foi tomada pelo desembargador Augusto de Ciqueira, da 13.ª Câmara de Direito Criminal. O desembargador deferiu pedido de liminar em habeas corpus impetrado pela defesa de Cruz, preso desde 26 de agosto. Seus advogados, os criminalistas Roberto Podval e Luís Fernando Silveira Beraldo, alegaram que o investigado é "arquiteto renomado e possui família" e, portanto, tem direito a sair em liberdade após pagar fiança - fixada em R$ 500 mil. Também argumentaram que não há provas de que ele poderia se furtar ao processo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.