sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Centro de pesquisa em bioetanol é inaugurado em Campinas

Por Fábio Reynol, de Campinas (SP)

Agência FAPESP – O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) será inaugurado na tarde desta sexta-feira (22/1), em Campinas (SP), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O CTBE deverá reunir esforços de instituições de pesquisa de todo o país que atuam no desenvolvimento do bioetanol, inclusive laboratórios da iniciativa privada.

Concebido em 2007, o laboratório contou com investimentos da ordem de R$ 69 milhões e já possui pesquisas em andamento, muitas delas com o apoio da FAPESP. “A Fundação paulista já investiu cerca de R$ 2 milhões em trabalhos que já estão em andamento no CTBE”, informou o diretor da unidade, Marco Aurélio Pinheiro Lima.

Segundo Lima, o CTBE nasceu a partir de um estudo que levantou os desafios da produção brasileira de etanol para os próximos 15 anos. Uma das metas do estudo era responder se seria possível multiplicar por dez a produção atual de álcool até o ano de 2015 e de forma sustentável. O futuro montante equivaleria a 250 bilhões de litros anuais, o que seria suficiente para substituir 10% da gasolina consumida no planeta, de acordo com o estudo.

“Muitos dos gargalos identificados demandam investimentos em ciência para resolvê-los”, conta o diretor. Por isso, o CTBE foi concebido de modo a abranger pesquisas relacionadas a todas as etapas de produção do etanol, desde a plantação até o desenvolvimento de motores automotivos.

A abrangência dos trabalhos coincide com a do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que deverá contribuir com o laboratório e também se beneficiar da sua infraestrutura. Essa é a opinião do professor da Universidade de São Paulo, Marcos Buckeridge, diretor científico do CTBE e coordenador da divisão de Biomassa do BIOEN. “Está se formando um sistema brasileiro de bioenergia que reunirá os trabalhos de uma elite de especialistas espalhados pelo país”, anuncia o professor.

Etanol de celulose

Os esforços da pesquisa do CTBE estarão concentrados no desenvolvimento do etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose da cana-de-açúcar, que, acumulada no bagaço e na palha da planta, hoje não é aproveitada, embora corresponda a dois terços da biomassa disponível.

Buckeridge explica que no coração dessa pesquisa está o processo de quebra da celulose. Na decomposição biológica essa massa é quebrada com o auxílio de enzimas que poderão ser estudadas a fundo nos laboratórios do campus do CTBE.

Ao lado da unidade, funcionam o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). “Estar perto dessas instalações nos dá acesso a recursos de primeira linha como o anel de luz síncrotron, que ajuda desvendar a estrutura das enzimas, e os softwares específicos de bioinformática, desenvolvidos pelo LNBio”, exemplifica Buckeridge.

Embora autônomos, o LNBio, o LNLS e o CTBE serão coordenados por uma instância que acaba de ser criada pelo governo federal, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que terá como diretor o físico Rogério Cerqueira Leite.

Buckeridge ressalta ainda que o CTBE será o local onde os pesquisadores de bioetanol poderão testar seus resultados em processos industriais. O professor explica que os pesquisadores deverão interagir com os engenheiros do laboratório e, assim, adaptar a pesquisa acadêmica às necessidades da indústria. Esses testes serão executados em uma miniplanta industrial que está sendo construída e fará parte das instalações do CTBE.

Ainda na cerimônia de inauguração de sexta-feira, o CTBE assinará acordos para desenvolver pesquisas conjuntas com o Imperial College London, da Inglaterra; com a Lund University, da Suécia; e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A partir de 2011, Buckeridge espera promover um megaexperimento em formato de workshop no qual todos os grandes trabalhos de pesquisa em bioetanol possam se apresentar. Um dos objetivos do evento será avaliar e acompanhar o estágio em que se encontra a pesquisa científica nacional em bioetanol.

Atualmente com 60 empregados, o CTBE espera ter cerca de 170 colaboradores fixos até 2013. Além do combustível, os trabalhos deverão desenvolver uma cadeia de subprodutos oriundos da cana-de-açúcar como polímeros e medicamentos, aos moldes do que ocorreu com o desenvolvimento do petróleo, de acordo com Buckeridge. “Esses novos materiais devem estabilizar a indústria da cana, que hoje vive oscilações porque só conta com dois produtos principais: álcool e açúcar”, prevê o especialista.

BIOEN FAPESP

O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia ( BIOEN) visa responder à demanda brasileira de desenvolvimento científico e tecnológico da produção de bioenergia, com destaque para a cana-de-açúcar. Para isso, o programa articula e estimula atividades de pesquisa realizadas em instituições públicas e privadas.

O BIOEN é organizado em cinco divisões temáticas: “Biomassa para bioenergia”, “Processo de fabricação de biocombustíveis”, “Biorrefinarias e alcoolquímica”, “Aplicação do etanol para motores automotivos” e “Impactos socioeconômicos, ambientais e uso da terra”.

DuPont e JBS fazem aliança para produzir metilato de sódio no país

TERÇA, 19 JANEIRO 2010 . VALOR ECONÔMICO


A multinacional americana DuPont e a gigante brasileira das carnes JBS firmaram uma parceria para produzir metilato de sódio no Brasil. O produto, que acelera a produção de biodiesel, será industrializado na fábrica da JBS em Pirapozinho (SP).

A decisão de produzir metilato de sódio no Brasil reflete o potencial do mercado de biodiesel no país, que desde o início deste ano está operando o B5 - mistura de 5% do biodiesel no diesel. O consumo nacional desse biocombustível está estimado em 2,4 bilhões de litros para este ano, o que significa uma demanda entre 40 mil a 60 mil toneladas de metilato de sódio. No mercado internacional, o consumo de biodiesel chega a 11 bilhões de litros e gera uma demanda de 220 mil toneladas de metilato de sódio.

A DuPont é uma das maiores produtoras de metilato de sódio do mundo e líder nos Estados Unidos. A JBS tornou-se uma produtora respeitável de biodiesel no país, após a incorporação da Bertin. Juntas, as duas empresas uniram o útil ao agradável. Em outras palavras, as duas empresas vão aproveitar as suas sinergias para negociarem o catalisador no mercado interno. Atualmente, a DuPont importa o metilato de sódio dos EUA.

"Seremos os primeiros produtores efetivos de metilato de sódio em larga escala no país", afirmou ao Valor Vinícius Soares, diretor da divisão de soluções químicas da DuPont para a América Latina. A unidade terá capacidade para produzir 60 mil toneladas/ano. A Basf anunciou, no mês passado, que colocará em operação sua primeira fábrica no país a partir do segundo semestre de 2011, também para 60 mil toneladas anuais. "A DuPont está acompanhando o mercado de biocombustíveis há pelo menos 10 anos. Apostamos no crescimento desse segmento. É um caminho sem volta", disse Soares.

A associação com um grupo da importância do JBS foi a maneira mais rápida para se avançar nesse mercado, segundo o executivo. A localização das fábricas da JBS também foi decisiva para firmar a parceria, disse Soares.

As negociações entre DuPont e a Bertin começaram antes mesmo do processo de incorporação do frigorífico pela JBS. Segundo Rogério Barros, diretor-executivo da divisão de biodiesel e óleo química da companhia, o grupo produz biodiesel em sua unidade de Lins (SP). Boa parte da matéria-prima para a produção de biodiesel da JBS vem do sebo do boi. Em 2009, o grupo negociou cerca de 90 milhões de litros de biodiesel por meio dos leilões realizados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Segundo Barros, a produção de biodiesel da JBS tem como foco o mercado interno. O grupo ainda não tem planos de produzir o biocombustível nos Estados Unidos, onde o frigorífico também tem fábricas instaladas.

A mistura de biodiesel no diesel em 5% estava prevista somente para 2013, mas o governo decidiu antecipar a medida, como forma de estimular a produção do biocombustível no país.

Muitas empresas, como as de soja e de sebo de boi, com maior competitividade em relação a outras matérias-primas, como dendê e pinhão-manso, aceleraram seus investimentos para fazer frente à nova demanda no mercado interno. De acordo com Soares, o metilato de sódio torna o custo de produção do biodiesel mais competitivo.

Mônica Scaramuzzo

Fórum Social Mundial: Brasil, outra potência é possível

Por Fabiana Frayssinet, da IPS


Rio de Janeiro, 22/1/2010 – Berço do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), que nasceu como uma alternativa ao debate neoliberal, o Brasil está a caminho de se converter em uma potência econômica, segundo previsões dos analistas. A pergunta é que tipo de modelo seguirá para não trilhar o mesmo caminho tão criticado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma repetir em seus discursos no país e no exterior. Contudo, cabe aos seus ministros de todas as áreas expressar com programas e metas, inclusive o de Turismo, Luiz Barretto.

“O Brasil se perfila para 2016 como a quinta economia do mundo”, disse o ministro ao lançar o plano estratégico turístico para a próxima década. “Este excelente momento econômico que o país vive, sendo o último a entrar e o primeiro a sair da crise financeira mundial, o coloca definitivamente como uma nação que terá grande importância no cenário internacional na próxima década”, afirmou Barretto.

Francisco Barone, economista da Fundação Getúlio Vargas, confirma com dados. A potencialidade de um país se mede com o produto interno bruto. “Segundo o PIB brasileiro, o país se enquadra entre as dez maiores economias do mundo”, disse o economista. E a perspectiva é de crescimento, a caminho para ser um dos “líderes” do BRIC (Brasil, China, Índia, Rússia) em menos de cinco anos, previu. Uma perspectiva que Barone atribui ao grande mercado interno, de 190 milhões de habitantes, que consome grande parte do que é produzido.

Porém, também atribui a outras potencialidades do Brasil, como sua enorme matriz energética (incrementada após a recente descoberta de novas jazidas de petróleo), sua diversidade cultural, estabilidade econômica e capacidade de exportação. Desde produtos derivados do agronegócio até aviões da Embraer. Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Econômicos (Ibase), uma das entidades que impulsionam o FSM desde o início, acredita que assim como “outro mundo é possível” (lema do Fórum) também é possível ser outro tipo de potência.

Entrevistado pela IPS antes do começo da décima edição do FSM, que começará segunda-feira, Grzybowski disse ambicionar um modelo de “potência” que, antes de tudo, supere suas próprias dívidas, como a enorme desigualdade social. Nos últimos anos, o Brasil teve alguns avanços nesse sentido, segundo Barone. Avanços destacados por estudos oficiais, como os do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O Ipea revelou que, de 2003 a 2008, cerca de 19,5 milhões de pessoas saíram da pobreza, e que a renda de 10% dos mais pobres cresceu em ritmo maior do que os 10% dos mais ricos, “indicando também redução da desigualdade social no país”. Entretanto, ainda há muito a ser feito, segundo Barone. A dívida histórica da fome ainda não foi superada. Existem 15 milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar.

“Para ser uma potência econômica, os desafios passam pela redução da desigualdade social”, por razões humanitárias, mas também pragmáticas, explicou. “Esses milhões de excluídos sociais transformados em consumidores exigirão mais da indústria nacional, a indústria produz mais, emprega mais e isso gera um círculo vicioso de crescimento”. Grzybowski se referiu a outros desafios da desigualdade brasileira, como a vinculada “ao direito à distribuição de todos os bens comuns desta terra que é muito rica”.

No Brasil, “parece normal ter propriedades de três mil, 200 mil, 500 mil hectares”. Um país onde os latifundiários, que “não chegam a 1% dos proprietários de terra, têm grande poder de veto no Congresso. Alguma coisa desta potência está errada”, afirmou. O diretor do Ibase (uma das organizações do comitê internacional do FSM) busca outro tipo de potência que, por exemplo, “não reproduza o modelo imperialista”, tantas vezes criticado no Fórum, que este ano acontecerá de maneira descentralizada em pelo menos 27 regiões de todo o mundo. Uma potência “positiva”, com uma agenda internacional “equilibrada”, afirmou ao se referir a casos como o da expansão da Petrobras em países vizinhos como a Bolívia, ou as negociações sobre Itaipu, hidrelétrica que o Brasil compartilha com o Paraguai.

Para o diretor do Ibase, é preciso fortalecer “ainda mais” a atitude de respeito a essas nações, reconhecendo que “há total assimetria nessa relação. Não podemos continuar fazendo o que o planeta fez com eles, como potência dominante. Temos de inverter essa relação”, disse, acrescentando que teme que o país comece a “tirar proveito da pobreza dos outros. Gostaria de ver um Brasil solidário, não um Brasil que disputa ser sócio do grupo exclusivo do G8 ou do G20, mas um país que promova a igualdade entre os povos, que aceite que é administrador de um grande patrimônio natural e que tem uma responsabilidade mundial”, disse Grzybowski.

No mesmo contexto, o diretor do Ibase deseja que seu país seja mais “radical na agenda de direitos humanos. Não podemos ficar fazendo acordos para conquistar mercados, ignorando as violações sistemáticas dos países com quem os fazemos”, disse ao se referir às nações africanas com ditaduras com as quais Brasília negocia. Grzybowski disse estar preocupado, por exemplo, “com o que a China faz na África”, e espera que o Brasil não se inspire no modelo dessa outra potência emergente. “É tirar partido da agenda do atraso em função do chamado interesse nacional chinês”, afirmou. “É esse o modelo que desejamos?”, perguntou.

O diretor do Ibase disse, ainda, que o FSM também poderia dar sua contribuição nesse sentido, incentivando por meio de suas organizações sociais uma agenda “progressista, democrática, igualitária, com justiça social. Uma agenda que redefina o modelo de desenvolvimento, que considere a justiça social associada à justiça ambiental, pode surgir apenas da sociedade civil”, afirmou. IPS/Envolverde


(IPS/Envolverde)