sexta-feira, 12 de julho de 2024

O vigor radical de Gregori Warchavchik - Arquiteto desenhou as primeiras casas modernistas em São Paulo e no Rio FSP

 

SÃO PAULO

Ele não é onipresente, mas deixou marcas profundas e progressistas na cidade de São Paulo com seus projetos arrojados e ao mesmo tempo simples e sem excessos. Pode-se ver suas construções na Mooca, na Vila Mariana, mas também no Pacaembu e nos Campos Elíseos.

Em geral são casas, mas há edifícios, como o Cícero Prado, na avenida Rio Branco, e o Mina Klabin, na alameda Barão de Limeira. Também contribuiu para a construção de clubes, projetando a sede social do Paulistano, o salão de festas do Pinheiros e o ginásio de A Hebraica.

Trata-se de Gregori Warchavchik, autor de obras-primas e dono de um pensamento revigorante, capaz de arejar a arquitetura nacional, até então dominada pelos estilos neoclássico e eclético e cheia de rococós.

O monumental edifício Cicero Prado, construído em 1954 e localizado na avenida Rio Branco, 1703

Em seu tempo, nenhum arquiteto no Brasil foi tão avançado como ele, que chegou aqui em 1923, um ano depois da Semana de Arte Moderna, e influenciou muitos jovens artistas de todas as áreas interessados na sua visão construtiva e no seu modo de fazer arquitetura.

Warchavchik escreveu, em 1925, um manifesto da arquitetura modernista no Brasil com o título "Acerca da Arquitetura Moderna", publicado no jornal Correio da Manhã. Era uma tradução do texto "Futurismo", que saiu antes no jornal italiano Il Piccolo. No artigo ele dizia que assim como as máquinas acompanham a evolução tecnológica, os edifícios também precisam se modernizar. Aproveitou para criticar os ornamentos como detalhes "inúteis e absurdos".

Warchavchik modernizou a arquitetura brasileira com projetos lineares, econômicos e funcionais

É dele a autoria da primeira casa modernista de São Paulo, na rua Santa Cruz, na Vila Mariana, que construiu em 1927 para ser a residência de sua família. Ele havia acabado de se casar com Mina Klabin, que ficou responsável pelo paisagismo. Nesse projeto ele pode colocar suas ideias em prática e ficou responsável por todos os detalhes da obra, desde a construção até a decoração. Na época de seu casamento, Warchavchik se naturalizou brasileiro.

Casa Modernista
A Casa Modernista da rua Santa Cruz foi construída em 1927 para o arquiteto viver com sua família

Nascido em 1896, em Odessa, na Ucrânia, então Império Russo, se formou em Roma, na Itália, tendo sido assistente de Marcello Piacentini, considerado o arquiteto do regime fascista. Piacentini é autor do Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo. Warchavchik foi influenciado pelas ideias do futurismo italiano, mas suas maiores inspirações vieram de Le Corbusier e da escola alemã vanguardista Bauhaus, fundada pelo arquiteto Walter Gropius, em 1919.

Saiu de sua prancheta também a primeira casa modernista do Rio de Janeiro, erguida em Copacabana em 1931. Caracteriza-se pelas ângulos retos, a boa ventilação e iluminação, as poucas paredes e o uso de materiais nacionais, tanto na construção como para o mobiliário.

Casa modernista de Warchavchik na rua Itápolis, 961, no Pacaembu, inaugurada em 1930

Ele foi para o Rio em 1930, a convite de Lúcio Costa, a fim de lecionar arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Com Costa montou um escritório onde Oscar Niemeyer trabalhou como desenhista. Warchavchik fez pelo menos uma dezena de projetos no Rio.

Símbolo de seu vigor modernizante é a casa da rua Itápolis, no Pacaembu, uma construção de concreto armado, que ficou aberta para exposição entre os dias 26 de março e 20 de abril de 1930, tornando-se um complemento arquitetônico para a Semana de 22. Além da arquitetura retilínea e funcional, que ganhava espaço com a eliminação de corredores, foram expostos ali também objetos de arte e design.

Sobrados da rua Berta
Os sobrados da rua Berta são um conjunto de residências destinadas para a classe média

Avesso às firulas e ornamentos, sua obra se caracterizou pela linearidade e pelo despojamento, assim como pela preocupação com os custos. Construiu mansões e também casas para operários e para a classe média sempre preocupado com a funcionalidade e com a busca de soluções mais econômicas. As edificações que projetava eram "máquinas de morar".

Exemplos marcantes de sua arquitetura são o museu Lasar Segall, que era casa e ateliê do pintor, e o conjunto de sobrados que fica logo em frente, na rua Berta. Outro conjunto de sobrados de sua autoria pode ser visto na rua Barão de Jaguara, na Mooca, mas nesse caso são construções operárias. A arquitetura de Warchavchik contemplava todas as classes sociais.

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