Nas últimas semanas, o brasileiro se viu às voltas com o imposto de renda. Até o outro dia, a Receita o obrigava a ressuscitar uma pilha de informes, extratos e recibos perdidos dentro das gavetas, para anexar à declaração. Era um pavor. Hoje não se exige mais aquela papelada. Basta entrar nos aplicativos. Pena que no fim dê na mesma: você descobre que, além do que já lhe foi descontado durante o ano, ainda terá de pagar ao leão.
Não foi só a declaração do imposto de renda que aboliu o papel. Muita coisa que usava papel ou dependia dele já está extinta ou logo estará. Exemplos:
Voto impresso, dinheiro, lápis, caneta, borracha, lauda impressa, dicionário, enciclopédia, telegrama, carta, cartão postal, cartão de Natal, bilhete de amor, agenda, bloco de anotações, caderno escolar, estenografia, flyer, panfleto, anúncio fúnebre, recibo, receita de médico, santinho político, papel timbrado, álbum de fotografias, catálogo de exposição, lista telefônica, confete, serpentina, rol de roupa da lavanderia, lista de feira, ingresso de cinema, passagem aérea, cartão de embarque, ata de reunião de condomínio, chuva de papel picado no fim do ano, mensagem secreta entre militares no front para ser mastigada e engolida depois de lida, aviãozinho, barquinho e chapéu de soldado. As árvores agradecem.
Mas ainda há coisas de papel que parecem difíceis de substituir: saco de pipoca no cinema (cada qual custando quase uma árvore), diploma, guardanapo de botequim, bilhete de loteria e, claro, papel higiênico. E não me pergunte como, mas as papelarias continuarão a existir.
E os jornais? Eles terão de se adaptar, deixando o noticiário para os sites e se concentrando nas colunas como esta, só que sérias. E os livros? Segundo meu falecido amigo Pedro Herz, dono da também falecida Livraria Cultura, os livros não vão acabar. Quem vai acabar, ele dizia, é o leitor.
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