4.jun.2024 às 9h01
A economia brasileira voltou a crescer no primeiro trimestre de 2024, após dois trimestres de resultados próximos de zero.
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil avançou 0,8% em relação ao trimestre anterior, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta terça-feira (4).
Na comparação com o mesmo período de 2023, houve avanço de 2,5%. O PIB acumula alta de 2,5% em quatro trimestres.
As projeções coletadas pela agência Bloomberg mostravam expectativa de crescimento de 0,7% no período em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 2,3% na comparação anual.
O começo de 2023 foi marcado pela continuação da melhora no mercado de trabalho, pelas antecipações dos pagamentos de precatórios e do 13º para beneficiários do INSS.
Também contribuíram para o aumento da renda e do consumo o reajuste de benefícios vinculados ao salário mínimo e a queda dos juros.
"O consumo das famílias e dos investimento é que puxaram esse PIB para cima, já que o setor externo puxou para baixo", afirma Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Os destaques no trimestre foram os serviços (1,4%) e a agropecuária (11,3%). A indústria ficou praticamente estável (-0,1%). O consumo das famílias avançou 1,5%, enquanto os investimentos cresceram 4,1%.
Na comparação com o 1º trimestre de 2023, a indústria cresceu 2,8%, e os serviços, 3%. A agropecuária recuou 3%, devido à base alta de comparação do ano passado e à queda na produção devido a questões climáticas.
Houve revisão dos dados do ano passado. No terceiro trimestre, o PIB cresceu 0,1%. No quarto, caiu 0,1%. O número divulgado na época era zero para os dois períodos.
Ela diz que houve uma continuidade no crescimento do consumo das famílias, devido à melhora do mercado de trabalho no país e às taxas de juros e de inflação mais baixas, além da manutenção dos programas governamentais de auxílio às famílias.
Outro destaque positivo foram os investimentos, alavancados pelo aumento na importação de bens de capital, no desenvolvimento de software e na construção. A economista do IBGE diz que a produção de bens de capital ainda está no terreno negativo na taxa interanual. A taxa de investimento ficou em 16,9% do PIB, abaixo dos 17,1% registrados no primeiro trimestre de 2023.
O crescimento da economia foi totalmente baseado na demanda interna, com uma contribuição negativa do setor externo.
"Em 2022 e 2023, o setor externo havia contribuído positivamente, com as exportações crescendo mais do que as importações. Nesse primeiro trimestre, essa contribuição virou negativa. Estamos importando muitas máquinas e equipamentos e bens intermediários e o real se valorizou", diz Palis, que citou também a queda nas exportações da agropecuária.
"Não está sendo um ano muito bom para a agropecuária, por influências climáticas. Isso também prejudicou as exportações."
Também houve queda relevante na taxa de poupança. Como o consumo das famílias cresceu bem acima do PIB, consequentemente a poupança diminuiu, segundo o IBGE. O indicador caiu para 16,2%, ante 17,5% no mesmo trimestre de 2023.
Em relação ao restante do ano, um fator de incerteza são as enchentes no Rio Grande Sul, que vão impactar os dados do PIB negativamente neste segundo trimestre, embora se espere efeitos positivos da reconstrução da região.
O RS tem uma participação de 6,5% no PIB do Brasil, e metade dos municípios estão em estado de calamidade. O impacto, no entanto, só será conhecido quando começarem a ser divulgadas as pesquisas econômicas sobre a região.
PERSPECTIVAS PARA 2024
Julia Gottlieb, economista do Itaú BBA, afirma que o banco mantém sua projeção de crescimento de 2,3% para o ano, número que ainda não incorpora o impacto do Rio Grande do Sul e, por isso, pode ser revisto para baixo.
Ela destaca que o dado do trimestre mostra um crescimento forte, como no começo de 2023, mas desta vez com uma participação menor da agropecuária e puxado pelo crescimento da renda das famílias, pelo aumento do crédito e pela recuperação dos investimentos.
"Para os próximos trimestres, não tem mais tanto esse impulso, por exemplo, vindo do pagamento de precatórios, do aumento real do mínimo. O efeito disso tende a ser maior no primeiro trimestre, então a gente espera alguma desaceleração de crescimento ao longo dos próximos trimestres", afirma Gottlieb.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, diz ver com preocupação um crescimento puxado pelo consumo e com um investimento ainda em queda no acumulado em 12 meses.
Ela projeta crescimento de 1,9% no ano, já incorporando as perdas com as enchentes no Sul, o que pode gerar um PIB ligeiramente negativo no próximo trimestre. Também cita uma política monetária mais restritiva, frustrando a expectativa de crescimento maior do crédito no segundo semestre.
"Quando temos essa combinação de impulso fiscal com um mercado de trabalho aquecido, há um risco inflacionário na frente. Principalmente porque o investimento não vem correspondendo", afirma Vitoria. "É uma preocupação para um crescimento do PIB mais sustentável no longo prazo."
Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, também afirma que o crescimento amparado no consumo é motivo de preocupação. Ela projeta expansão de 1,9% no ano e vê um PIB que deve ter um crescimento mais modesto nos próximos trimestres.
"A gente vê ali um aquecimento bastante considerável do setor de serviços, o que deve fazer coro para as preocupações do Banco Central em relação à inflação à frente", afirma Damico. "Essa aceleração tão intensa do consumo chama a atenção e deve gerar maior cautela."
O banco Goldman Sachs atualizou sua previsão para o PIB de 2024 de 1,9% para 2,1%. A instituição diz esperar que a atividade continue a se beneficiar de estímulos fiscais significativos, aumento generoso do salário mínimo, recuperação do crédito e crescimento sólido do rendimento disponível real das famílias. Por outro lado, o país ainda convive com condições monetárias apertadas e alto nível de endividamento das famílias.
O Bank of America manteve a expectativa de crescimento de 2,7% em 2024, com viés negativo. Para a instituição, as cheias no sul e o efeito decrescente do impulso dos precatórios deverão travar o crescimento no segundo trimestre.
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