quinta-feira, 13 de junho de 2024

Datena se lança a prefeito de São Paulo e aprofunda incertezas do PSDB, FSP

 Joelmir Tavares

SÃO PAULO

Conhecido pelo histórico de desistências na política, o apresentador José Luiz Datena foi lançado pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PSDB nesta quinta-feira (13) sob ceticismo do próprio partido, o 11º ao qual se filiou, e o risco de aprofundar divisões numa legenda fragilizada em várias frentes.

"Desta vez, vou até o fim", prometeu ele, que já desistiu de concorrer na última hora em quatro eleições.

José Luiz Datena durante lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB
José Luiz Datena durante lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB - Zanone Fraissat/Folhapress

O lançamento, realizado em um hotel na região central da capital, reuniu figuras do tucanato que resistiram aos abalos na sigla nos últimos anos. O jornalista entrou no partido em abril, inicialmente para ser vice de Tabata Amaral (PSB). Antes, em um intervalo de menos de um ano, passou por PDT e PSB.

Datena fez um discurso em que se disse agora mais consciente de sua responsabilidade do que das vezes anteriores em que flertou com uma candidatura, pregou o "expurgo de bandidos misturados com a administração" e disse que fará campanha sem colete à prova de bala, mas "com peito aberto".

Ele fez críticas indiretas a Ricardo Nunes (MDB), citando problemas da cidade e o que chamou de infiltração do crime organizado, especificamente o PCC, na administração. "Se me deixarem de cadeira de rodas, eu ganho a campanha", afirmou, insinuando contrariedade da facção com sua candidatura.

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As falas no evento definiram o lançamento da pré-candidatura como um marco do que seria o renascimento do PSDB, avesso à polarização e disposto a recuperar seu protagonismo na cidade e no país. Dirigentes rebateram afirmações como a de que Datena chega "para o funeral" da legenda.

O jornalista, que apresenta o programa "Brasil Urgente", da Band, reiterou ao público e aos dirigentes que desta vez não desistirá de se candidatar, mas a incerteza sobre a decisão do jornalista é admitida nos bastidores do PSDB, que avalia internamente cenários sem o pré-candidato.

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Além da aliança com Tabata, defendido por uma ala, a opção é embarcar na campanha à reeleição de Nunes, caminho que também está longe de ser unanimidade entre as diferentes correntes que ocupam as direções municipal e nacional.

A equação envolve ainda o Cidadania, partido que compõe uma federação com o PSDB e precisa estar alinhado a qualquer um dos movimentos.

Se fosse seguida a lógica de 2020, o PSDB apoiaria Nunes, já que ele era o vice na chapa de Bruno Covas. Com a morte do tucano, em 2020, o emedebista assumiu a cadeira. Ele usa como estratégia o discurso de que sua gestão é de continuidade da administração Covas, mas sofreu rejeição de parte dos antigos correligionários, sobretudo por sua aproximação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Datena apareceu com 8% de intenção de voto na pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada em 29 de maio, atrás de Guilherme Boulos (PSOL), que marcou 24%, e Nunes, com 23%. O apresentador ficou empatado com Tabata, também preferida por 8% do eleitorado, e Pablo Marçal (PRTB), com 7%.

O ato de lançamento da pré-candidatura reuniu o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, o municipal, José Aníbal, e outros tucanos como o deputado federal Aécio Neves (MG), o prefeito de Santo André, Paulo Serra, e o ex-vereador da capital Mario Covas Neto, o Zuzinha.

Aécio foi um dos mais entusiasmados na mesa, referindo-se a Datena como alguém que "fará a população de São Paulo voltar a acreditar em um projeto político" e defendendo que a candidatura própria do PSDB na cidade terá peso para influenciar os rumos do partido nacionalmente e nos próximos anos.

"São Paulo não é Las Vegas, onde o que acontece lá fica por lá. O que acontece em São Paulo tem importância para o Brasil inteiro", disse o ex-presidenciável, que em diferentes momentos lamentou não ter chegado ao Planalto nas eleições de 2014 e manifestou discordâncias com Lula e Bolsonaro.

A sigla não tem mais vereadores na capital, desde que os oito representantes na Câmara se desfiliaram para engrossar a campanha de Nunes. Os pré-candidatos da sigla a vereadores foram apresentados no evento, que reuniu dezenas de militantes. Parte dos filiados, contudo, já está apoiando Nunes.

Para ser oficializado como candidato, Datena precisa ter o nome homologado em convenção. Os partidos têm que fazer a reunião entre 20 de julho e 5 de agosto e registrar as candidaturas até 15 de agosto.

No caso do apresentador, porém, também precisa ser obedecida a regra de se afastar do programa que apresenta ao vivo de segunda-feira a sábado. A lei estabelece que pré-candidatos à frente de programas de TV ou rádio não podem continuar na função a partir de 30 de junho, um domingo.

Datena e Aécio Neves em lançamento de pré-candidatura em SP
Datena e Aécio Neves em lançamento de pré-candidatura em SP - Zanone Fraissat/Folhapress

Em outras vezes em que ensaiou migrar para a política, Datena enterrou a chance de candidatura ao entrar no ar depois do prazo permitido. Há dois anos, quando estava cotado para concorrer como senador pelo PSC, ele apareceu normalmente na TV e avisou no próprio programa os motivos da desistência.

Há dois meses, acompanhado de Tabata durante sua filiação ao PSDB, o jornalista disse que "o futuro a Deus pertence". Na época, as falas indicavam que o caminho era sua indicação pelo partido para vice na chapa da deputada federal. "A minha vontade é estar do lado da Tabata", afirmou ele.

A decisão de lançá-lo pré-candidato surgiu a partir de sua entrada no PSDB, com a avaliação da cúpula de que a popularidade de Datena seria útil na busca de reposicionamento do partido, hoje esfacelado na cidade onde nasceu. Pesquisas de opinião mostrando viabilidade de seu nome reforçaram o cálculo.

No ato desta quinta, o apresentador elogiou Tabata, dizendo que continua respeitando a deputada e a vê como nome promissor da política brasileira, mas falou que "as circunstâncias mudaram" desde a manobra em que ela viabilizou sua filiação ao PSDB para ser seu vice.

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