A Lua faz mais do que inspirar poetas. Não fosse por ela, não apenas não teríamos poesia como também não teríamos ciência, filosofia e religião. Na verdade, nem sequer existiríamos. "Our Moon" (Nossa Lua), de Rebecca Boyle, não esconde que seu objetivo é encher a bola do satélite natural da Terra. Mas o faz com propriedade e talento narrativo.
Embora ela própria seja um mundo estéril, a Lua viabilizou a vida pluricelular em nosso planeta. Sem ela e sua força gravitacional, não teríamos nem dias nem estações razoavelmente estáveis. Também não teríamos as marés, que muito provavelmente estão na origem da passagem da vida marítima para a terrestre. Também não teríamos o campo magnético que nos protege da radiação cósmica. Obviamente tudo isso teve impacto sobre nossa fisiologia e nossa psicologia.
Numa era em que relógios e calendários são ubíquos, damos a contagem do tempo como algo trivial. Mas não é. Foram os ciclos da Lua que nos ensinaram a perceber as semanas e meses. Boyle vai à arqueologia de sítios como Warren Field e Stonehenge para explicar como isso aconteceu.
A autora também mostra como a Lua influenciou a religião, sua derivação para a filosofia (quando os gregos passaram a pensar seu movimento desvinculado de qualquer caráter divino) e, mais tarde, para a ciência (quando observações empíricas derrubaram teorias de base mais racionalista, como a aristotélica e ptolomaica). Boyle é competente tanto para explicar as complexas sutilezas matemáticas envolvidas no movimento das marés como também para analisar passagens de autores tão variados quanto Kant e Júlio Verne.
As lições de Boyle me fizeram experimentar uma sensação de solidão. Se a Lua foi tão fundamental para a vida complexa e se satélites com suas características não são assim tão comuns, então aumentam as chances de estarmos sós ou, pelo menos, proibitivamente longe de outros seres inteligentes.
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