quarta-feira, 30 de março de 2022

Garrafa PET tira famílias da escuridão, OESP

 Desde 2014, iniciativa instalou 3 mil sistemas de iluminação e atendeu mais de 120 comunidades.

Desde 2014, iniciativa instalou 3 mil sistemas de iluminação e atendeu mais de 120 comunidades. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Após quase cinco décadas convivendo com a escuridão, a casa do indígena Abilio Lopes, da comunidade São Tomé, que fica à margem do Rio Negro, a 50 km de Manaus (AM), foi iluminada por uma garrafa PET. Lopes é um dos 23 mil brasileiros já atendidos pelo projeto Litro de Luz, que usa materiais simples e energia solar para levar iluminação às comunidades mais isoladas do Brasil.

“Meu dia terminava às 19h, quando a escuridão descia. À noite, a única luz era a lamparina de querosene, que deixava a casa e nosso nariz impregnados de fumaça. Agora, posso tecer as malheiras (rede de pesca) à noite e pescar durante o dia todo”, disse.

No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica e 6 milhões não contam com iluminação pública. A falta de iluminação ou a luz precária nas casas, fornecida por lampiões de querosene ou velas, dificulta o estudo, o trabalho, além de atividades básicas, como o simples andar. Sem contar o risco de incêndio, no caso das velas, e os problemas de saúde causados pela fumaça do candeeiro.

O Litro de Luz é parte do movimento global Liter of Light, surgido nas Filipinas em 2011, mas inspirado em técnica criada em 2002, pelo mecânico brasileiro Alfredo Moser. Ele instalou no telhado uma garrafa PET abastecida com água e alvejante. Por meio da refração da luz solar, a garrafa gerava iluminação equivalente a uma lâmpada de 60 watts. O objetivo era ajudar as pessoas a economizarem energia. Das Filipinas, o projeto passou a mobilizar voluntários em outros países - já são 25, entre eles o Brasil.

Baixo custo

Projeto possibilita instalação de pontos de luz externos e nas residências. - DIVULGAÇÃO
PROJETO POSSIBILITA INSTALAÇÃO DE PONTOS DE LUZ EXTERNOS E NAS RESIDÊNCIAS. (CRÉDITO: DIVULGAÇÃO)

O braço brasileiro da organização desenvolveu um sistema de iluminação de custo baixo, usando garrafa PET, canos de PVC e placas para iluminar os ambientes com energia solar. Os postes de PVC sustentam as lâmpadas e as placas solares - não há ligação com rede elétrica.

A luz solar captada pela pequena placa faz funcionar uma lâmpada de LED instalada dentro da garrafa. Em ambiente externo, como as ruas, o sistema funciona à noite e desliga automaticamente de manhã. Dentro de casa, as lâmpadas têm autonomia de cinco horas

Os moradores de comunidades isoladas e carentes aprendem facilmente a fazer a manutenção e a replicação do sistema de tecnologia social. O maior dos projetos beneficiou núcleos ribeirinhos do Médio Juruá, onde foram construídas 600 lâmpadas de PET em parceria com a Associação dos Produtores Rurais de Caruari. A 790 km de Manaus, o Médio Juruá tem 565 famílias. Os voluntários do projeto precisaram tomar um voo de duas horas, partindo da capital amazonense, e mais 30 horas de barco para ir até lá.

Nova rotina

Voluntários em comunidade em Maricá - RJ, uma das atendidas pelo projeto. - DIVULGAÇÃO
VOLUNTÁRIOS EM COMUNIDADE EM MARICÁ - RJ, UMA DAS ATENDIDAS PELO PROJETO. (CRÉDITO: DIVULGAÇÃO)

A chegada da luz afetou a vida nas comunidades, como conta o indígena Abílio, da São Tomé. “Não tínhamos luz nas ruas e dentro de casa. A maior dificuldade era a escuridão, era terrível viver no escuro. Muita gente não saía de casa à noite, com medo de cobra e onça, pois não dava para ver nada.”

A instalação do sistema envolveu os moradores - indígenas e ribeirinhos. “A gente achava que eles iam chegar, enfiar os postes e ir embora, calados. Não, eles ficaram e nos ensinaram como fazer.”

Desde 2014, quando passou a atuar no País, o Litro instalou 3 mil sistemas de iluminação e atendeu mais de 120 comunidades no País. Fora da Amazônia, iluminou aldeias indígenas em Maricá (RJ), Florianópolis (SC) e Alhandra (PB). Ainda beneficiou comunidades da Rocinha, no Rio. Na capital paulista, lâmpadas de PET iluminam as ruas em Campo Limpo (zona sul). Na Grande SP, foram contempladas áreas em Ferraz de Vasconcelos e São Bernardo do Campo.

Interessados

A comunidade interessada no Litro da Luz pode fazer o pré-cadastro acessando o formulário com as informações básicas (https://forms.gle/kaYLX18mz5KuX6G97). A área de desenvolvimento social entrará em contato em até 20 dias. É importante destacar que a execução depende do apoio de empresas parceiras, necessário para bancar os custos básicos. (Da Redação com Estadão Conteúdo)

Aglomeração estimada da nova cracolândia em SP supera a da antiga, FSP

A nova cracolândia, localizada desde o último dia 18 na praça Princesa Isabel, na região central de São Paulo, já tem um número estimado de usuários de drogas maior do que a antiga, no entorno da praça Júlio Prestes.

Segundo integrantes de reunião do programa Redenção ouvidos pela reportagem, foram contabilizadas pela administração municipal, nesta segunda-feira (28), por volta de 530 pessoas no chamado fluxo, aglomeração de dependentes químicos em cena de uso de drogas.​

O número foi apresentado pela prefeitura em encontro virtual que ocorreu no mesmo dia, quando o assunto foi discutido por policiais civis e militares e representantes dos governos estadual e municipal. ​

Antes da mudança, a soma era de 500, aproximadamente, segundo o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro.

Imagem aérea mostra aglomeração de pessoas e barracas na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo
Praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, volta a ser ocupada por usuários de drogas - Danilo Verpa - 23.mar.2022/Folhapress

O aumento diário de usuários na praça é relatado pelos assistentes sociais que atuam na cracolândia. Eles usam como parâmetro a maior presença de barracas no centro da praça, estratégia usada para se proteger da vigilância, já que há maior concentração de copa de árvores que impedem o registro de imagens aéreas feitas por drones.

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Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou a estimativa de 530 pessoas na cracolândia apresentada na reunião e forneceu os dados referentes à contagem de pessoas na praça Princesa Isabel durante o turno da manhã.

A administração municipal disse que na segunda-feira havia 120 barracas e 111 pessoas e que na última sexta-feira (25) assistentes sociais contabilizaram 256 barracas e 310 pessoas.

No período da manhã há menor concentração de usuários na cracolândia porque é quando a maioria dos usuários sai em busca de comida, material reciclável para vender ou vai aos centros de convivência de moradores de rua.

A prefeitura também disse que foram feitas 4.400 abordagens na praça Princesa Isabel de 19 a 25 de março, o que representa 628, em média, por dia.

Apesar de não ser uma medida de contagem de pessoas, e sim de atendimentos feitos pelos assistentes sociais, o número de 628 abordagens por dia é bem maior do que o dado fornecido pela administração em relação à presença de pessoas na praça apenas no período da manhã.

As abordagens resultaram, segundo a prefeitura, em 20 pessoas que aceitaram a oferta de abrigo e foram encaminhadas para o CTA (Centro de Acolhimento Temporário) Arsenal da Esperança e para o CTA 11, ambos na Mooca, na zona leste.

Na reunião do programa Redenção desta segunda-feira, os agentes públicos demonstraram preocupação com o fato de a nova cracolândia estar em meio a duas avenidas movimentadas, Duque de Caxias e Rio Branco, diferente da situação anterior, em que os usuários se concentravam em duas ruas com pouca circulação.

O novo cenário exige, por exemplo, maior número de guardas-civis para conter os usuários e mais servidores municipais para fazer a limpeza.

Além disso, exige a criação de outras rotinas de limpeza, que já estavam consolidadas anteriormente.

Durante as ações de limpeza, costumava haver conflitos entre usuários e guardas-civis que auxiliavam os agentes municipais no processo de mover o fluxo para permitir a passagem do caminhão com jatos d'água.

A concentração de usuários de drogas mudou de endereço após ordem do crime organizado para que a multidão saísse das ruas que antes formavam a cracolândia, de acordo com a polícia.

Antes, a praça Princesa Isabel era ocupada, em maior parte, por moradores de rua que perderam a renda durante a pandemia de Covid-19.

Segundo assistentes sociais ouvidos pela reportagem, os sem-teto têm deixado a praça após a chegada do fluxo com medo do aumento da violência.

A mudança do fluxo do ponto que concentrava havia pelo menos 30 anos pegou muita gente de surpresa. Uma comerciante da alameda Dino Bueno conta que chegou para trabalhar no sábado (19) e simplesmente não viu mais os usuários de drogas.

Uma das motivações da mudança apontada pelos usuários e representantes de movimentos sociais que atuam na região é o fato de a praça Princesa Isabel oferecer mais rotas de fuga durante as operações policiais.

Frequentadores relatam que eram cada vez mais frequentes as abordagens policiais que os encurralavam na rua Helvétia e na alameda Cleveland, antigos endereços da cracolândia.

Duas vezes por dia, agentes especiais da GCM (Guarda Civil Metropolitana) obrigavam o fluxo a se deslocar para permitir a limpeza das ruas pelos funcionários da prefeitura. Muitas vezes a movimentação terminava em conflito.